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Crítica | Agente Biológico

Direção descarrilada.

por Ritter Fan
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Depois de reinar os anos 90 como astro dos filmes B de ação e começar os anos 2000 com Replicante e A Irmandade, dois longas de 2001 que surpreendentemente conseguem segurar suas pontas e disfarçar com razoável consistência seus diversos e enormes problemas, Jean-Claude Van Damme parece cair pelo menos mais um degrau de seu estrelato com Agente Biológico, obra genérica que não conta com nenhum outro membro notável do elenco e que tem como diretor e roteiristas profissionais basicamente indigentes nestas cadeiras.

O longa é uma tentativa de fundir Missão: Impossível com Duro de Matar, mas que não consegue resultar sequer em algo como A Força em Alerta 2, em que seu colega Steven Seagal precisa salvar sua família de terroristas em um trem, a exata premissa do filme de Van Damme que, aqui, é Jacques Kristoff, agente secreto das Nações Unidas que parte em missão enquanto de férias, deixando a esposa e seus filhos (o garoto é filho mesmo do ator belga) a ver navios. O problema é que o que parecia algo de rotina, apenas acompanhar a ladra Galina Konstantin (Laura Harring, de Cidade dos Sonhos), que roubara frascos de uma variante do vírus da varíola, em uma viagem de trem, torna-se um pesadelo quando o vilanesco Mason Cole (Tomas Arana) toma controle do transporte para se apossar do agente biológico, tendo como agravante a visita “surpresa” da família de Kristoff que hilariamente aparece do nada no trem.

Devo confessar que esse tipo de premissa bem clichê para filmes de ação costuma me atrair e não é necessária muita sofisticação para eu acabar encontrando alguma maneira de extrair algo bom. O problema é que o diretor Bob Misiorowski acha que seu ofício consiste em usar todos os artifícios possíveis para chamar atenção para a direção, o que, óbvio, automaticamente impede qualquer tentativa de imersão na narrativa e tornando a experiência algo irritante e cansativo, em que o que mais importa são as telas divididas, os cortes bruscos, a câmera lenta, o uso de stills, a câmera tiltada e assim por diante, em uma demonstração completa de falta de estilo e total incapacidade do cineasta (se é que posso chamá-lo assim) em entender que ele não precisa brincar com a câmera e com a ilha de edição para criar algo minimamente competente.

Se Misiorowski tivesse feito exclusivamente o burocrático, Agente Biológico poderia ser um divertimento descompromissado e descerebrado na linha do já citado longa de Seagal e de vários outros do próprio Van Damme. Mas não, ele faz como Tsui Hark fez com o belga no terrível Golpe Fulminante e sai usando todos os truques vagabundos de cinematografia para criar uma mixórdia visual que afasta o espectador e que sequer consegue utilizar o carisma de Van Damme ou mesmo estabelecer uma mínima cena de tensão que não leve a espasmos de riso. Sem dúvida que o uso de miniaturas e efeitos práticos merece comenda, mas, mesmo neste departamento – o filme que não é de 1982 e sim de 2002!!! -, sofre com o amadorismo (não culpo o baixo orçamento, pois já vi uma penca de filmes feitos com orçamentos de milhares, não milhões de dólares como é o caso aqui que têm efeitos práticos infinitamente superiores) abissal da equipe técnica que não consegue sequer chegar no mesmo nível dos tokusatsus sessentistas feitos para a televisão nipônica. É, como diria o grande sábio Alex DeLarge, um horrorshow.

E o que mais irrita é que Misiorowski até consegue enganar com as sequências que antecedem a entrada de Jacques e Galina no trem, com um direção mais comedida, ainda que não sem seus trejeitos estranhos. O problema é que, na medida em que o filme avança, ele parece que vai se sentindo mais seguro e passa a exagerar e, ato contínuo, a meter os pés pelas mãos quando começa a mexer na montagem de maneira completa inconsistente. Ou é isso ou quem dirigiu o começo do filme foi o diretor de segunda unidade ou quem fez a edição do filme estava sob efeitos de alucinógenos, pois a colcha de retalhos estilística de Agente Biológico não tem justificativa. É complicado quando tudo o que queremos é apenas o básico e nem isso um cineasta consegue entregar…

Agente Biológico (Derailed – EUA/Aruba, 2002)
Direção: Bob Misiorowski
Roteiro: Jace Anderson, Adam Gierasch (baseado em história de Boaz Davidson)
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Tomas Arana, Laura Harring, Susan Gibney, Lucy Jenner, Jessica Bowman, Kris Van Varenberg (Kris Van Damme), John Bishop, Binkey Van Bilderbeek, Dayton Callie, Simona Williams, Sandra Vidal, Stefanos Miltsakakis, Jimmy Jean-Louis, George Stanchev, Nikolay Binev, Stanimir Stamatov, Danko Yordanov
Duração: 89 min.

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