- Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da minissérie e, aqui, todas as nossas críticas do Universo Cinematográfico Marvel.
Episódios que “quebram” uma temporada de série ou uma minissérie para voltar ao passado e contar a origem de algum personagem ou lidar com algum assunto de outra forma importante para a obra normalmente me cansam e já me fazem iniciar a empreitada com uma certa má vontade. E, mesmo que completamente esperado e necessário para Agatha desde Sempre, Um Ser Familiar não foi uma exceção para mim, e minha sensação de “afff, mais uma história de origem” foi amplificada pela constatação de que era a minutagem mais avantajada até agora, em direta oposição ao episódio anterior, que foi o mais curto. No entanto, para minha surpresa, o roteiro de Jason Rostovsky soube equilibrar bem explicação e ação, trazendo até uma grande surpresa, enquanto que a direção da brasileira-americana Gandja Monteiro (que já comandou episódios de Wandinha, The Witcher e The Walking Dead: Dead City), não deixou a história esmorecer e deu a Joe Locke o espaço e o tempo que ele precisava para realmente atuar e não só fazer figuração de luxo.
Talvez haja detalhes demais nessa origem, como toda a razoavelmente longa sequência do Bar Mitzvha de Billy Kaplan (agora temos um nome para o Jovem!), mas tenho para mim que era necessário mostrar muito claramente que o adolescente, ali, não é o mesmo adolescente que ressuscita depois do acidente automobilístico próximo à redoma de magia criada ao redor de WestView por Wanda Maximoff há três anos. Se Billy Maximoff, um dos gêmeos criados por Wanda como seus filhos, basicamente possuiu o corpo mais próximo, era necessário mostrar que Billy Kaplan tinha uma vida antes e que ele perdeu tudo ao renascer como Wiccano (seu “nome de super-herói nos quadrinhos), então todo esse processo inicial era importante, dando peso à transformação. Claro que o peso é relativo, pois tudo é muito rápido, mas estamos em uma série da Agatha Harkness que serve de porta de entrada (ou reentrada, como queiram) para o personagem, pelo que faz sentido que tudo seja comprimido em apenas um capítulo.
Mas o melhor é que toda a história funciona a contento e cria uma conexão umbilical com WandaVision para além da protagonista, “explicando” como alguém criado por magia pode tornar-se real e justificando as ações de Billy não como algo banal como obter mais poder ou vingar-se, mas sim achar seu irmão Tommy que, se seguirem os caminhos das HQs, terá o codinome Célere, com os mesmos poderes de velocidade do também falecido tio Mercúrio. Falando nele – ou em uma versão dele… ou nem isso, sei lá – muito bacana o retorno de Evan Peters como Ralph Bohner, agora profundamente traumatizado pelo que Agatha fez com ele. Claro que é conveniente ser Agatha a única sobrevivente do lamaçal, mas, pelo menos, houve oportunidade para que todas as bruxas – menos Rio Vidal – fossem usadas, até mesmo uma brevíssima participação especial de Debra Jo Rupp. Isso se todas realmente estiverem mortas, pois a regra do “sem corpo, sem morte” é ainda mais importante em filmes e séries de super-heróis, sendo que nem mesmo o corpo aparecendo garante que o morto continuará morto, como todo muito bem sabe.
A revelação de tudo nesse ponto da minissérie, faltando ainda três episódios, é outra potencialmente excelente característica da criação de Jac Schaeffer, já que, agora, pelo menos em tese haverá tempo para Agatha desde Sempre ser mais do que algo criado apenas para trazer Wiccano de verdade para o Universo Cinematográfico Marvel. Alguns podem achar que isso bastaria, mas eu considero pouco demais para nove episódios, mesmo que curtos. O que exatamente teremos pela frente não está ainda claramente definido, mas suspeito fortemente das Sete de Salem e de Nicholas Scratch como uma entidade só procurando vingança contra Agatha e, de quebra, talvez, tentando sugar os poderes de Billy, ainda que haja espaço para mais do que apenas essa linha narrativa simplista, como a chegada de Tommy que, espero, não fique para outra história.
Agatha desde Sempre, mesmo curvando-se ao inevitável episódio de origem, segue mantendo sua qualidade e costurando uma história bem concatenada, que não tenta realmente reinventar a roda, mas que é coesa o suficiente para funcionar como uma pequena e digna expansão do UCM que envereda cada vez mais pelo puro sobrenatural. E o melhor é que, até agora, Agatha Harkness continua vilã e, se as mortes das bruxas pela magia de Billy realmente tiverem morrido, até ele poderá ser classificado dessa forma, o que não seria nada mal, pois já tem muito herói bonzinho por aí.
Agatha desde Sempre – 1X06: Um Ser Familiar (Agatha All Along – 1X06: Familiar by Thy Side – EUA, 16 de outubro de 2024)
Criação e desenvolvimento: Jac Schaeffer
Direção: Gandja Monteiro
Roteiro: Jason Rostovsky
Elenco: Kathryn Hahn, Joe Locke, Sasheer Zamata, Ali Ahn, Patti LuPone, Debra Jo Rupp, Paul Adelstein, Miles Gutierrez-Riley, Maria Dizzia, Evan Peters
Duração: 50 min.