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Crítica | Agatha desde Sempre – 1X03: Por Provações Irá Passar

Olha, mencionaram o nome que todos esperavam!

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da minissérie e, aqui, todas as nossas críticas do Universo Cinematográfico Marvel.

A maior provação de Agatha desde Sempre é conseguir encontrar-se dentro do vasto Universo Cinematográfico Marvel, lutando contra expectativas e uma perfeitamente compreensível fadiga de obras do subgênero que não forem colagens nostálgicas de fanservice. Tenho para mim que a escala diminuta da minissérie inevitavelmente joga contra ela mesma e, mais do que isso, que Jac Schaeffer não parece ainda ter encontrado o tom de sua criação derivada de WandaVision ou mesmo um equilíbrio entre a pegada humorística e a tentativa de horror leve. O que segura de verdade a minissérie até agora é o elenco, especialmente Kathryn Hahn, Debra Jo Rupp e, cada vez mais, Patti LuPone. Eu acrescentaria Aubrey Plaza, claro, mas ela não deu as caras aqui, ainda que a morte de Sharon Davis ao final – que pode ou não ter sido definitiva – abra justamente o espaço para seu retorno.

Apesar de compreender perfeitamente e até gostar da escala menor de Agatha desde Sempre, falta algo à minissérie, algo que a torne urgente, que efetivamente crie perigo e que dê significado à jornada das bruxas por uma Oz que parece ter saído da cabeça de Tim Burton e que, já adianto, merece ser elogiada pela direção de arte. E não, não estou sendo afobado querendo mais informações ou mais ação. Meu ponto é que diálogos como o de Jennifer Kale (Sasheer Zamata) com o Jovem (Joe Locke) em que ela não muito sub-repticiamente indica que ele seria o filho que Agatha trocou pelo livro de magia sombria parece algo que só existe para criar discussões entre espectadores e fãs sobre a verdadeira identidade do misterioso personagem, já que a expectativa é que ele seja… CENSURADO. É como se o roteiro já estivesse todo pronto, mas alguém se lembrasse, na hora da filmagem, que era necessário engrossar o caldo do mistério, o que detrai do todo que, aqui, é a interação entre as bruxas e uma Agatha lutando contras seus instintos de autopreservação e sendo obrigada a jogar em equipe.

E esse exemplo que dei é apenas um, pois existem outros vários, como a menção a Mephisto, as alucinações vazias das personagens como efeito do vinho envenenado e até mesmo o cliffhanger safado da conveniente morte de Sharon (faz sentido, ela bebeu antes e mais do que todas as demais, mas mesmo assim…). Além disso, algo que era menos evidente nos dois episódios iniciais, mas que se tornou óbvio demais aqui é o quanto o personagem de Locke está sobrando ou, pelo menos, não está integrado ao grupo. Sabem aquelas séries médicas em que o cirurgião é ajudado por um enfermeiro que só passa os instrumentos que ele pede? O Jovem é o tal enfermeiro que não tem nome e que ninguém se lembra já na cena seguinte, pois o que interessa é se o cirurgião conseguiu salvar a vida do paciente. Se Agatha desde Sempre tiver como objetivo mantê-lo anônimo e nas literais bordas dos frames para então fazer a grande revelação somente no final, é necessário integrá-lo à narrativa de maneira mais assertiva e trabalhar a história das bruxas de maneira um pouco mais ambiciosa, de maneira que todos os ingredientes estejam presentes para o “grande momento”.

Por outro lado, considerando que essa é a primeira efetiva vez que vemos o conciliábulo (agora que eu descobri essa palavra, vou utilizá-la no lugar de coven!) comandado por Agatha funcionando, devo dizer que gostei muito da interação entre as quatro bruxas e a vizinha jardineira a ponto de achar que a minutagem foi até curta demais para dar o devido espaço à todas. Hahn é, claro, o destaque com seus tiques, com sua afetação que a coloca em conflito consigo mesma quase o tempo todo, mas a gigantesca simpatia e inocência de Debra Jo Rupp como Sharon é pura magia que toma conta do cenário sempre que a câmera enfoca nela. E o mesmo vale para Patti LuPone e sua Lilia Calderu, vitimada pelo diminuto tempo de tela, mas que faz o melhor do pouco que tem. Sasheer Zamata ganha destaque e sua personagem é sempre imponente, pelo que a atriz tem pouca dificuldade em chamar atenção, algo que não posso dizer de Ali Ahn que parece ter sido esquecida pelo roteirista.

Também gostei do cenário da casa de praia branca, iluminada e com decoração de revista, pois ele subverte as expectativas quando a palavra “bruxa” é mencionada, ainda que a subversão seja tão óbvia que eu nem sei se dá para chamar mesmo de subversão. Seja como for, eu realmente espero que a minissérie não adote a estrutura de “provação da semana” de maneira muito tradicional, sem introduzir inimigos de verdade e sem criar a relevância que a série precisa ter em si mesma, evitando que o Caminho das Bruxas seja apenas uma corrida de obstáculos que testará as habilidades de cada uma das integrantes do conciliábulo. Agatha desde Sempre precisa de seu je ne sais quoi e esse apelo não pode apenas ficar nos ombros do elenco, caso contrário a mágica não demorará a se esgotar.

Agatha desde Sempre – 1X03: Por Provações Irá Passar (Agatha All Along – 1X03: Through Many Miles / Of Tricks and Trials – EUA, 25 de setembro de 2024)
Criação e desenvolvimento: Jac Schaeffer
Direção: Rachel Goldberg
Roteiro: Cameron Squires
Elenco: Kathryn Hahn, Joe Locke, Debra Jo Rupp, Sasheer Zamata, Ali Ahn, Patti LuPone
Duração: 39 min.

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