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Crítica | Agatha and the Midnight Murders

Uma escritora tentando sobreviver à Segunda Guerra Mundial.

por Luiz Santiago
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Depois de um filme analisando o desaparecimento de Agatha Christie em 1926 (Agatha and the Truth of Murder) e de um filme falando como ela conheceu o seu segundo esposo (Agatha and the Curse of Ishtar) as produtoras Darlow Smithson Productions e Factual Fiction avançaram alguns anos no tempo e colocaram a Rainha do Crime na Segunda Guerra Mundial. Essa mudança trouxe um primeiro choque para quem já vinha acompanhado a sequência de telefimes sobre a escritora: a mudança da atriz que interpreta a protagonista, que passou das mãos de Lyndsey Marshal para as de Helen Baxendale. Não tenho certeza se essa mudança teve como motivação a tentativa de mostrar a escritora alguns anos mais velha (as atrizes possuem 8 anos de diferença, em idade), porque este é um efeito que poderia ser conseguido através de maquiagem. Mas não creio que seja algo que atrapalhe a produção, embora chame muito a nossa atenção, logo de saída.

Por conta de questões ligadas ao pagamento de impostos, pela dificuldade de publicar um livro que tudo indica ser M ou N? (importante lembrar que o roteiro não obedece exatamente a cronologia de publicações da autora, e isso desde o primeiro filme da série. Notem que M ou N? foi publicado em 1941, e a ação deste enredo se passa em 1940, ou seja, é a parte da ficção histórica que a gente precisa entender aqui) e por não receber já há algum tempo os valores de seus editores nos Estados Unidos, Agatha resolve vender um manuscrito inédito para um obscuro editor em Londres. O título do manuscrito não é citado ou mostrado, mas por um diálogo que temos na reta final, dá a impressão que estamos falando de Cai o Pano, o último livro com a presença de Hercule Poirot. A história desse filme se passa na noite em que Agatha Christie foi se encontrar com esse indivíduo interessado em comprar o manuscrito. Uma noite que começa bastante tensa, encontra um dos bombardeios dos nazistas à cidade e coloca mais um caso de assassinatos na vida da escritora.

O roteiro de Tom Dalton é consideravelmente diferente de seus exercícios investigativos com a Rainha do Crime nos longas anteriores. Aqui, ela não precisa verdadeiramente utilizar de sua capacidade dedutiva e imaginação para resolver um crime. Pelo menos não de maneira sistemática. Desta vez, ela é majoritariamente vítima de um crime (o roubo de seu manuscrito) e, assim como outras pessoas do grupo que está abrigado no subsolo do hotel, se vê ameaçada por um assassino que age nas sombras. Para mim foi um pouquinho frustrante essa escolha, mas por outro lado foi bom ver a personagem com medo e tendo que fugir de algumas situações bastante perigosas. Certas cenas dramáticas conseguem colocar os pensamentos de Christie em evidência, principalmente durante a busca pelo manuscrito, o que é ótimo. Na reta final há uma pequena montagem que mostra ações dela cuidadosamente planejadas diante de um homem que acreditava ser o seu protetor. É o momento do filme em que temos um vislumbre de resultado investigativo, mas é um momento passa bem rápido.

Os assassinatos aqui são bastante violentos e visualmente muito bem representados. A fotografia escura e o fato de a ação se passar durante uma única noite e majoritariamente num único espaço ajudam a criar uma atmosfera de medo, colocando público e personagens à espera de um ataque. Infelizmente não fica muito claro como esses crimes acontecem, e apenas alguns deles recebem um tratamento mais completo em relação à sua preparação e execução. O reencontro de Agatha Christie com um personagem que conheceu lá em Truth of Murder foi uma boa escolha do roteirista, especialmente porque Travis (Blake Harrison) é um homem odioso, cínico e com traços de psicopatia, e a tensão em torno dele que deixam algumas cenas deliciosamente belicosas e irônicas. O desalento causado pela Grande Guerra é exprimido de maneira muito forte nesse filme, que começa com a exposição de uma necessidade financeira da autora e termina com um banho de sangue somado a esta mesma dificuldade inicial. O retrato de um tempo onde nem uma grande escritora como Agatha Christie conseguiu escapar de suas consequências. E isso em mais de um sentido.

Agatha and the Midnight Murders (Reino Unido, 2020)
Direção: Joe Stephenson
Roteiro: Tom Dalton
Elenco: Helen Baxendale, Blake Harrison, Jacqueline Boatswain, Gina Bramhill, Daniel Caltagirone, Thomas Chaanhing, Scott Chambers, Vanessa Grasse, Jodie McNee, Elizabeth Tan, Morgan Watkins, Alistair Petrie
Duração: 91 min.

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