Aqui começamos de fato a expedição de Wild, conforme prometido e patrocinado pelo Conde Narciso Molfetta, cinicamente apelidado de “Narcy”, por Adam. A trama se desenrola em duas grandes partes, a primeira, ligada ao “americano com uma covinha no queixo“, já citado no livro anterior. A segunda, ligada à marcha da expedição de Adam Wild, Amina e companhia, todos às voltas com os mesmos problemas apresentados muito bem em Os Escravos de Zanzibar: o tráfico negreiro e a caça de elefantes, para poder lucrar com o marfim.
Embora seja uma boa história, com desenvolvimento satisfatório da marcha cheia de perigos típicos da fauna continental, e de boas representações da política tribal ou dos contatos comerciais em fins do século XIX entre África e mundo branco (dá para estabelecer tranquilamente essa saga na década de 1890), há uma repetição geral, por assim dizer, de temas que o autor já havia trabalhado, o que torna a leitura desse volume um pouco menos interessante do que poderia ser. Talvez para um leitor que tenha começado por este livro, a percepção possa ser diferente, possivelmente mais positiva. Para mim, o texto peca um pouco nesse sentido de retomada direta (e remartelada) de assuntos já trabalhados, mas é tudo tão bem contado que acaba não negativizando o enredo a ponto de torná-lo ruim.
A arte de Darko Perović funciona, pelo menos nesse tipo de história, muito melhor para a capa (que é linda) do que para a narrativa em si. Talvez se a expedição e os perigos de uma jornada num ambiente cercado por animais selvagens fosse exclusivamente o foco do volume, esse tipo de arte com finalização mais suja funcionasse melhor (e de fato, as cenas com animais e paisagens em destaque são as melhores, visualmente falando, desse livro), mas como esta é uma percepção bastante pessoal, tenho certeza de que a arte vá agradar uma porção de outros leitores. Para mim, porém, fora do ambiente selvagem, o trabalho de Perović parece bastante deslocado…
Vemos se estabelecer aqui o romance entre Wild e a princesa Amina, com um pouquinho de humor do Conde (meio fora de tom em relação à trama) e uma aceitação esperada dos outros membros do grupo. Mais pessoal que a primeira aventura e menos interessante em termos de novidades narrativas, O Ataque dos Elefantes funciona como fortalecimento da figura do grande vilão (o buana americano) e como exposição de mais um importante laço para a vida de Adam Wild. Embora o Conde seja bastante pessimista em relação ao casal que se forma aqui, em uma coisa ele tem razão: esse tipo de compromisso para alguém como Adam pode trazer muitos problemas…
Adam Wild #2: La Carica Degli Elefanti (Itália, novembro de 2014)
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora Saicã (Adam Wild n°1, março de 2021)
Roteiro: Gianfranco Manfredi
Arte: Darko Perović
Capa: Darko Perović
100 páginas