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Crítica | Acima de Qualquer Suspeita (1990)

Sem conclusões antecipadas.

por Kevin Rick
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Baseado no livro homônimo de Scott Turow, Acima de Qualquer Suspeita acompanha a história de Rozat “Rusty” Sabich (Harrison Ford), um promotor acusado do assassinato de sua colega e amante Carolyn Polhemus (Greta Scacchi). Curiosamente, Rusty havia assumido a investigação do caso antes de ser considerado um suspeito, fazendo escolhas duvidosas que levantam muitas perguntas sobre a inocência do personagem. A partir disso, o diretor e roteirista Alan J. Pakula desenvolve um thriller eficaz sobre o mistério do assassinato e sobre os segredos dos personagens.

A direção de Pakula não é, digamos, super técnica, com shots de grande destaque ou com movimentações diferentes, por muitas vezes soa até simples em seus enquadramentos comuns, mas o diretor faz um trabalho tão eficiente em termos de atmosfera, sempre com um tom de suspense, totalmente fechado, nos passando uma sensação de claustrofobia e de algo escondido. A sutileza do cineasta é extremamente apropriada ao material, que traz uma narrativa quieta e cheia de segredos, aos poucos revelando a natureza dos personagens. A fotografia sombria de Gordon Willis e a trilha sonora intensa de John Williams apenas melhoram a construção das cenas e o mistério da história.

Temas como corrupção, infidelidade e inveja estão em pauta com um elenco moralmente tênue, todos cheios de interesses próprios e ótimos em mascarar suas emoções e intenções. Esse trabalho de estudo de personagem e da falta de ética profissional/matrimonial/pessoal dos indivíduos em tela é a verdadeira essência do material taciturno, fazendo com que o drama legal aos poucos assume uma investigação mais sobre os contrastes dos personagens e menos sobre o caso em si. Por exemplo, a vítima de assassinato é transformada em uma femme fatale e um parceiro de trabalho se revela um crápula.

A montagem é particularmente inteligente e efetiva em fazer essas mudanças de perspectiva de como vemos os personagens, num uso eficiente de flashbacks que expõem a natureza do elenco e suas ações tendenciosas. Pakula é mais uma vez eficiente em trabalhar as pequenas complexidades desses indivíduos, em especial Rusty e Carolyn, no que é uma narrativa intricada e sutil. Ford é particularmente bem escalado, com seu estilo estoico e pouco expressivo agregando para as incertezas do protagonista, se é uma marido simpático que cometeu um erro ou se é um adúltero que matou por obsessão.

Todo esse foco nos personagens acaba deixando o whodunnit um pouco de lado. Noto isso principalmente na forma simples que o caso jurídico é resolvido (não vou dar spoilers) e na maneira como a acusação é atrapalhada, perdendo provas e basicamente fazendo um papelão perante o tribunal. A obra ainda cria indagações e responde todas as nossas perguntas, mas a narrativa foca mais nos pecados dos personagens. Algumas sequências clássicas de dramas legais, com grandes discursos, testemunhas calorosas e revelações no último momento também são boas, especialmente com a participação de Raul Julia como um advogado de defesa, numa atuação calma, porém incisiva e agressiva, mas esse realmente não é tópico principal do filme.

Não diria, porém, que a falta de um processo investigativo mais complexo ou de uma estrutura narrativa que enfatize o suspense do assassinato atrapalhe o filme. A eficiência e a simplicidade do roteiro e da direção está em justamente trabalhar a moralidade, os segredos e as ações dos personagens. Acho que minha maior crítica seria em relação às sequências no tribunal, que realmente são carentes de tensão, justamente por conta da acusação não apresentar perigo à Rusty. De qualquer forma, é um trabalho de produção realmente competente, se ainda não completamente marcante. A revelação final é orgânica, em um plot twist que está em linha com a temática do filme: pessoas com segredos obscuros mantendo uma fachada de integridade.

Acima de Qualquer Suspeita (Presumed Innocent) – EUA, 1990
Direção: Alan J. Pakula
Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Pakula (baseado no livro homônimo de Scott Turow)
Elenco: Harrison Ford, Brian Dennehy, Raul Julia, Bonnie Bedelia, Paul Winfield, Greta Scacchi
Duração: 127 min.

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