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Crítica | Acapulco – 3ª Temporada

Enfrentando o passado.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica das demais temporadas.

Acapulco é uma das séries mais simpáticas e agradáveis da atualidade. Sua premissa é singela: Máximo (Eugenio Derbez), um bilionário mexicano radicado nos EUA, começa a conta para seu sobrinho Hugo (Raphael Alejandro) como começou sua vida de trabalhador no espalhafatoso resort Las Colinas, em Acapulco, e isso leva o espectador aos anos 80 em que Máximo, jovem (Enrique Arrizon), consegue seu primeiro emprego e, aos poucos vai subindo na hierarquia do hotel gerenciado por Don Pablo (Damián Alcázar), de propriedade da ex-atriz americana e guru de aeróbica Diane Davis (Jessica Collins). É uma viagem nostálgica para o Máximo de meia idade que, aos poucos, vai compreendendo os erros e acertos de seu passado, com os elementos e personagens variados que são introduzidos na primeira temporada e com a aproximação espacial promovida na segunda temporada, com Máximo e Hugo viajando para Acapulco para homenagear Don Pablo, que falecera recentemente.

No terceiro ano, essa aproximação espacial continua, com Máximo e Hugo não só visitando a filha casada de Máximo que ele não via há muito tempo, como também finalmente chegando na versão moderna – e sem graça – do Las Colinas, em que as elegias a Don Pablo devem acontecer. Com isso, claro, passado e presente se chocam mais diretamente, pois finalmente vemos as versões de meia-idade de Memo (Fernando Carsa quando jovem e Hemky Madera mais velho), melhor amigo de Máximo, de Hector (Rafael Cebrián surpreendentemente vivendo tanto o personagem mais novo quanto mais velho, o único ator a fazer isso na série até agora, com um trabalho excelente de maquiagem e penteado, além das atuações bem marcadas), o piscineiro paquerador, e, finalmente, de Julia (Camila Perez quando jovem e Carolina Gómez mais velha). O ato de “contar histórias”, com isso, torna-se uma tarefa um pouco mais tumultuada e coletiva, por assim dizer, já que tanto sua filha Paloma (Vico Escorcia), casada com Gustavo (Cristo Fernández), quanto os demais personagens com quem ele interage no presente, incluindo, claro, seu cínico motorista Joe (Will Sasso), passam a contaminar a narrativa e a desafiar a pegada de “narrador não confiável” do protagonista, em uma abordagem que, devo dizer, funciona muitíssimo bem.

De grandes novidades, temos a introdução de dois personagens importantes na série, o magnata Alejandro Vera (Jaime Camil) que passa a ser investidor e coproprietário do Las Colinas, e também romanticamente envolvido com Diane e a ambiciosa Dulce (Karen Rodriguez), irmã de Memo que passa a trabalhar no hotel e a que se torna a grande rival de Máximo pelas atenções de Diane e Don Pablo. E, claro, Chad (Chord Overstreet) retorna barbado e zen de uma viagem espiritual que ele fez pelo mundo, passando a trabalhar como funcionário de baixo escalão em diversas posições no resort da mãe para encontrar sua verdadeira vocação. O uso dos dois personagens novos cria uma bem-vinda aceleração da narrativa no passado, levando o Máximo jovem a vagarosamente perder sua altivez e moralidade, aproximando-se mais do que imaginamos ser o Máximo bilionário do presente. Alejandro e Dulce são, para todos os efeitos, representações das qualidades duvidosas que, no fundo, imaginamos que todas as pessoas podres de rica têm em graus diferentes, pois seria impossível progredir dessa maneira meteórica sendo sempre “bonzinho”. Isso ajuda inclusive – e especialmente – na narrativa do presente, em que, com cada vez mais constância, vemos o Máximo bilionário arrependendo-se do que fez ou deixou de fazer quando mais jovem, levando ao final que pode ser definitivo ou um cliffhanger, dependendo de como o espectador interpretar (falarei mais disso no final da crítica).

Mas a temporada não se esquece da família de Máximo. Na verdade, há um bom foco neles, com sua mãe Nora (Vanessa Bauche), agora casada com o simpático Esteban (Carlos Corona), tendo que lidar com a presença constante do marido em casa fazendo as tarefas que eram normalmente dela e também com a filha Sara (Regina Reynoso) que passa a encontrar propósito no concurso de debates influenciada por Esteban e com o retorno mais presente da linha narrativa da homossexualidade da jovem e sua aceitação plena (ou não) pela mãe católica e conservadora. Como de praxe na série, as histórias de Máximo no trabalho e na família são mantidas ao mesmo tempo separadas e juntas, com os roteiros criando situações que fazem esses dois universos do protagonista se entremearem de maneira natural e fluida.

Interessantemente, como o presente está mais… hummm… presente na série e como as ações de Máximo no passado começam a ser mais complexas e, talvez, mais adultas, a pegada cômica da série é um pouco emudecida neste terceiro ano. Sim, o embate dele com Dulce leva a ótimos momentos cômicos, assim como é basicamente tudo o que envolve o novo Chad hippie, mas, no geral, vemos um Máximo do presente mais entristecido, mais pensativo e mais arrependido querendo quase que literalmente voltar ao passado para apagar seus erros. No entanto, não vejo isso como um problema, mas sim como uma qualidade na temporada, pois a convergência de passado e presente, com isso, torna-se mais urgente e todo o conceito da série, que é justamente um Máximo mais velho revisitando sua vida, ganha mais corpo com essa abordagem levemente mais série e melancólica. Afinal, nem tudo na vida é feito de paredes rosas choque em um resort idílico em uma cidade turística. O peso das decisões do passado precisam ganhar relevo e é justamente o que acontece aqui.

No final da temporada, a promessa de que o status quo será novamente alterado torna-se evidente pela compra do resort pelo Máximo rico e pelo convite que ele faz à Julia estilista famosa de ajudá-lo a elevar o lugar à sua antiga glória. Esse é o encerramento que pode ser encarado tanto como o final da série como apenas o final da temporada. Pessoalmente, acho que esse seria um excelente encerramento da história como um todo. O que vem a partir daí – tanto no passado quanto no presente – pode muito facilmente ficar para a nossa imaginação, sem que precisemos de um “passo a passo” de como o Máximo jovem torna-se bilionário ou de testemunharmos como o Máximo mais velho, possivelmente ao lado da Julia mais velha, conseguirão transformar o Las Colinas genérico em algo que chame atenção de verdade como em sua época áurea. Em outras palavras, se Acapulco acabar por aqui, ficarei feliz com a jornada até esse ponto. Se a série for renovada, sei que assistirei e, provavelmente, gostarei da continuação por toda a agradabilíssima atmosfera e pelo inspirado elenco, mas fica sempre aquele receio de que séries muito alongadas acabem perdendo qualidade.

Acapulco – 3ª Temporada (EUA – 1º de maio a 26 de junho de 2024)
Criação: Austin Winsberg, Eduardo Cisneros, Jason Shuman
Showrunner: Austin Winsberg, Chris Harris
Direção: Jamie Elezier Karas, Nicole Treston Abranian, Claire Scanlon, Catalina Aguilar Mastretta
Roteiro: Sam Laybourne, Jason Belleville, Hailey Chavez, Rob Sudduth, Ilse Apellaniz, Francisco Cabrera-Feo, Celeste Klaus, Bernardo Cubria, Gonzalo Lomeli, Maggie Feakins, Austin Winsberg
Elenco: Eugenio Derbez, Enrique Arrizon, Fernando Carsa, Hemky Madera, Damián Alcázar, Camila Perez, Carolina Gómez, Chord Overstreet, Vanessa Bauche, Regina Reynoso, Raphael Alejandro, Jessica Collins, Rafael Cebrián, Carlos Corona, Will Sasso, Regina Orozco, Lobo Elias, Rodrigo Urquidi, Rossana de Leon, Carolina Moreno, Karen Rodriguez, Jaime Camil, Vico Escorcia, Cristo Fernández
Duração: 336 min. (10 episódios)

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