Home QuadrinhosArco Crítica | Academia Gotham #1 a 6: Mistério na Sala de Aula

Crítica | Academia Gotham #1 a 6: Mistério na Sala de Aula

por Pedro Cunha
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Heróis são o que são desde sua criação. É claro que seria ignorância não admitir que algumas mudanças foram feitas durante seus longos anos de história, mas, se olharmos bem, os nosso queridos defensores nasceram e morreram, diversas vezes, sempre lutando pelo mesmo ideal. Batman sempre foi o menino órfão, que, no final, quer apenas vingança, Superman e Capitão América são os grandes escoteiros americanos, lutando pela justiça e pela verdade. Homem-Aranha, apesar de crescer continua com seus mesmos problemas de adolescência, a falta de dinheiro mais a mistura de poder e responsabilidade sempre pesarão na caminhada de Peter.

Com a jornada do herói sendo cada vez mais desgastada pelas grandes editoras de quadrinhos, fica difícil ver uma importante palavra no ramo das HQs. Inovação é um substantivo em desuso durante os últimos anos, com o apelo enfraquecido, Marvel e DC tentam de tudo para renovar aquilo que já está velho. É claro que a gratidão para com esses ícones nunca irá acabar, porém os quadrinhos necessitam de mais fôlego, precisam de coragem, e de principalmente algo novo.

Foi com esses pensamentos que o crítico que vos escreve leu Academia Gotham, uma HQ diferente de tudo que a DC Comics vinha publicando. Aqui não se vê grandes batalhas, socos ou explosões. No quadrinho não encontramos grandes participações de nenhum dos figurões da editora, mas sim vemos um trabalho novo, que utiliza de nomes e propriedades intelectuais antigas para construir sua narrativa.

Na história acompanhamos Olive Silverlock, uma menina que está no segundo ano da Academia e que recebe uma atenção especial do diretor da escola e de seu principal contribuinte, Bruce Wayne. A menina é amiga de Maps, uma recém chegada aluna que em poucas páginas vai arrancar vários sorrisos dos leitores. Milie (Maps) é uma caçadora de aventuras, as duas se juntaram com Pomeline e Colton Riviera e irão formar um grupo de caçadores de mistérios.

O motivo para a união do grupo é que alguns alunos da Academia relataram ter visto aparições de fantasmas nos corredores e dormitórios. Isso, misturado com as dúvidas que a protagonista tem sobre seu passado e sua família, mais a insaciável vontade de Pomeline em estar ligada com o sobrenatural acarretam na união de toda a sociedade.

Millie Jane Cobblepot também é uma personagem bastante citada durante as aulas de história, os alunos aprendem que o local onde hoje reside a Academia um dia já foi a casa da família do Pinguim. Olive acha um diário com os contos de Milie Jane, ele revela que a menina foi presa em sua própria casa, que hoje é a escola e morreu tida como louca pela sua família. Não demora muito para Silverlock, Maps e seus amigos desconfiarem que o terrível fantasma que assola o campus é a alma de tal jovem.

Com o roteiro de Brenden Fletcher e Becky Cloonan o quadrinho constrói uma trama recheada de ação e aventuras. Todo o clima construído pelos escritores também é um grande acerto, aqui vemos uma cidade que não aparece, porém conseguimos enxergar como ela funciona. Gotham é arcaica, rústica e tradicional, um local que valoriza a sua história e, principalmente, seus mistérios. Como a cidade é tratada com uma grande personalidade, seu defensor principal não poderia fugir disso.

Batman aparece pouco, mas é mencionado diversas vezes durante o quadrinho. Todavia, o leitor não se depara com um herói de chavões, Brenden e Becky preferem trabalhar o morcego como ele deve ser, uma presença mística. Não um homem cheio de utensílios e músculos, vemos uma presença que dá medo pelo que ela representa, somos apresentados a um símbolo, de terror e justiça.

Além de Batman a dupla de roteiristas escreve muito bem todos os outros personagens da história, é possível ver um arco dramático para cada um na HQ e é muito gratificante ver que para desenvolvê-los, Fletcher e Cloonan não precisam usar de diálogos ou de frases de efeito. A narrativa avança conforme os atos se desenvolvem, esses que são muito bem contados, é relativamente fácil escrever uma primeira parte para uma obra que é nova para o leitor, o escritor tem muito com que se preocupar apresentando tudo para o receptor.

Já o segundo ato é sempre muito temido, saber a hora de parar apresentar e começar a desenvolver é algo que nem todo o criador sabe fazer. Felizmente, a dupla acerta não só no primeiro, mas também no segundo e terceiro ato. Então a obra não tem defeitos no roteiro? Aí entramos em uma parte complicada, quando se escreve um título de quadrinhos mensal, deve-se pensar em contar sua história da forma com que ela será publicada. Aqui Academia de Gotham falha, deixando muitos cliffhangers (paradas na narrativa justamente quando a história estava no topo) que mostram o medo dos escritores em perder seu público, talvez, a incerteza de um novo título, com personagens desconhecidos, tenha afetado a trama de toda a HQ.

A arte de Karl Kerschl é impressionante, com um traço de encantar e com uma criatividade para criar personagens diferentes bastante elevada, o artista trabalha de forma excepcional durante toda a obra. Além de tudo isso, os desenhos de Karl encantam não apenas em seu estilo, o que mais se destaca em toda a HQ são as distribuições de quadros. Academia de Gotham tem um lindo trabalho de painéis, não vemos muitas splash pages, mas acompanhamos durante todo o quadrinho páginas que parecem estar dançando com o leitor, nunca esquecendo da importante arte sequencial. Kerschl recebe a nota mais elevada pelos desenhos e, principalmente, pela sua capacidade em contar uma história de uma forma clássica e inovadora.

Outro aspecto que deve ser mencionado são as cores de Geyser e Dave Maccaig. Predominando-se verdes, vermelhos, amarelos e azuis, todo o cenário é muito bem iluminado e colorido. Os personagens também são, apesar de estarem sempre uniformizados, facilmente reconhecidos pelas cores que a dupla escolheu para cada um.

Academia Gotham é o que a industria dos quadrinhos precisa, não vemos uma história que tem um grande terceiro ato, ou que é um verdadeiro pornô de destruição. Acompanhamos uma narrativa totalmente nova, com personagens nunca antes vistos, mas que estão inseridos em locais comuns para todos os fãs. É uma prova que a DC Comics e sua concorrente podem muito bem contar boas histórias explorando o novo.

Academia Gotham: Mistério na Sala de Aula (Gotham Academy #1 – 6) — EUA, 2014
Roteiro: Brenden Fletcher, Becky Cloonan
Arte: Karl Kerschl
Cores: Geyser, Dave Maccaig
Letras: Sílvia Lucena
Editora original: DC Comics
Editora no Brasil: Panini Comics
Datas originais de publicação: 2014
Data de publicação no Brasil: Abril de 2016
Páginas: 132 páginas.

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