Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | ABC do Amor (2005)

Crítica | ABC do Amor (2005)

O amor verdadeiro representado na pureza de duas crianças.

por Arthur Barbosa
1,K views

“Estou apaixonado há duas semanas e meia e é uma dor que eu não desejo ao meu pior inimigo.”

Gabe.

Ah, o primeiro amor… Quem nunca teve um primeiro amor logo na infância, não é mesmo? Aquele sensação de borboletas no estômago, juntamente a uma companhia diária da escolinha infantil, a qual não conseguimos mais ficar longe todos os dias. Esse sentimento foi transportado para as telas no doce filme Little Manhattan, intitulado aqui, no Brasil, como ABC do Amor, protagonizado pelo ator Josh Hutcherson – conhecido por atuar na trilogia dos filmes Jogos Vorazes -, o qual dá vida ao personagem Gabe, e pela atriz Charlotte Ray Rosenberg, interpretando a pequena Rosemary Telesco. Ele, no caso, aos 10 anos de idade, se vê apaixonado por uma garotinha de 11 anos de idade, enquanto vive com os pais separados – Adam (Bradley Whitford) e Leslie (Cynthia Nixon)-, apesar de eles residirem na mesma casa. É uma trama de comédia romântica relativamente simples, mas não menos encantadora, pois o desenvolvimento amoroso ocorre no universo infantil, isto é, há uma pureza do começo ao fim do filme, sem qualquer menção sexual do universo dos adultos.

Em sua narrativa em primeira pessoa, Gabe vai nos dizendo sobre a vida dele, cercada de afazeres de uma criança nova-iorquina, como jogar futebol americano, basquete, passeios com os amigos, contudo com uma novidade inusitada: uma primeira paixão… Mais tempo ou menos tempo, todo mundo possui um primeiro amor, o qual aparece nas nossas vidas de uma forma avassaladora, principalmente em momentos aleatórios, como em uma aula de karatê. Todavia, a partir do momento em que ele se apaixona por Rosemary, a vida do menino muda completamente, em que ele precisa lidar com os sentimentos desse primeiro sentimento, ou seja, não basta apenas ganhá-lo, e sim aprender com ele em meio às mudanças na vida, que acontecem para qualquer ser humano. Simplesmente o amor é para ser sentido e vivido, e pronto. E nada melhor do que a narração feita pelo pequeno, porque, a partir dela, é que nós, telespectadores, torcemos para que os dois fiquem juntos.

No entanto, como em qualquer história de amor, há os percalços do caminho para que os pombinhos possam ficar unidos, como o fato de Rosemary ter um acampamento de seis semanas, juntamente à possibilidade de ela ir para um colégio particular. Sem contar o fato de o protagonista ter mentido para os próprios pais sobre ter ido ao parque de diversão com um amigo, mas, na verdade, ele foi procurar um apartamento para o pai, o qual está se divorciando da atual esposa. Essa é a vida, pequeno Gabe: todas as nossas atitudes têm consequências, sejam elas boas ou ruins, e o amor, por mais que seja um sentimento maravilhoso, tem um lado triste, que, infelizmente, pode acarretar também em sofrimento. Embora eu esperasse que os dois ficassem juntos, com o famoso “final feliz” de qualquer filme de comédia romântica, ABC do Amor mostra que, por mais que estejamos apaixonados, não significa que teremos esse sentimento pela mesma pessoa para o resto da vida. Não é, portanto, uma história triste, tampouco um “conto de fadas”, e sim uma história de amor e apenas isso já basta para a trama narrada na voz doce e infantil do garotinho Gabe.

Ademais, na infância, o primeiro amor é um sentimento muito forte para uma criança, afinal, se até nós, adultos, há um sofrimento hercúleo, imagina para um pequeno ser humano, que ainda está desbravando e descobrindo as dificuldades da vida? Pelo menos, aqui, nessa fase, ele é mais puro e verdadeiro, sem nenhum teor sexual ou sensual, apenas amoroso e convidativo para ser sentido e ser vivido da melhor forma possível. Para isso, então, o protagonista tenta ficar o tempo inteiro ao lado de sua amada, seja em algum passeio no Central Park com a babá, seja nas aulas de karatê, por exemplo. Entretanto, um ponto um tanto esquisito foi o fato de alguns diálogo soarem maduros demais para crianças de apenas 10 e 11 anos de idade, como eles discutirem sobre a ocorrência de as meninas amadurecerem mais cedo do que os meninos. Somado a isso, acredito que a característica de os personagens serem mais maduros psicologicamente torna o longa mais atraente para o público adulto, mais até do que para as crianças, eu diria.

Um dos momentos mais fofos foi quando Gabe acompanhou os pais de Rosemary – Jackie Telesco (Talia Balsam) e Mickey Telesco (John Dossett) – em um show e, com isso, ele teve a oportunidade de pegar na mão de sua amada, a qual retribuiu positivamente ao momento. Inclusive, no final do passeio noturno, ele deu um beijo nela – que, vamos combinar, foi mais um selinho do que um beijo propriamente dito, risos. Em função disso, ele ficou matutando por horas e horas se ela havia gostado ou não da atitude “ousada” do garoto. Ansiedade, aflição, frio na barriga… Diversos são os sentimentos e as sensações causadas por gostar de outra pessoa, que são piorados por não sabermos se somos correspondidos ou se ficaremos somente na amizade. É difícil trabalhar todas essas interrogações que aparecem em nossa mente, ainda mais em uma fase tão imatura e inicial da vida. É um amor doce e inesquecível, gerando lembranças agradáveis e saudosistas de um tempo sem grandes percalços, e sim com uma companhia “mágica” da melhor fase das nossas vidas.

Dessa forma, por mais que o amor acabe, ABC do Amor nos mostra que ele, o primeiro amor, é para sempre, ou seja, ele sempre ficará constatado em nossa memória mais afetiva, por mais que tenhamos na vida adulta outros amores. Finalizo a Crítica afirmando que a cidade de Nova York é quase um “personagem” idealizado, sendo praticamente uma extensão do jardim da casa casa dos personagens embora eles residem em apartamentos. Tem o Greenwich Village, o Central Park, a Broadway, o metrô, as ruas, as avenidas e toda a vida agitada nova-iorquina, com direito ainda ao cantor do restaurante chique, que é indiano, o menino que faz judô, que é árabe… A diversidade é estonteante em uma metrópole quase perfeita, tolerante e apaixonante no primeiro amor da infância. Já dentre as curiosidades de ABC do Amor, destaca-se que o primeiro beijo dos jovens atores protagonistas também foi o da estreia deles na vida real, ao passo que Jennifer Flackett, a roteirista, e Mark Levin, o diretor, são casados e escreveram o roteiro em apenas seis semanas.

ABC do Amor (Little Manhattan) | EUA, 2005
Diretores: Mark Levin
Roteiristas: Jennifer Flackett
Elenco: Josh Hutcherson, Charlotte Ray Rosenberg, Bradley Whitford, Cynthia Nixon, Talia Balsam, John Dossett, Willie Garson, Tonye Patano, J. Kyle Manzay, Josh Pais, Jonah Meyerson, Michael Bush, Alex Trebek, Loston Harris, Michael Chaturantabut, Nick Cubbler
Duração: 90 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais