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Crítica | A Vilã das Nove

Sua vida é uma novela.

por Ritter Fan
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A telenovela brasileira existe basicamente dede que a televisão chegou ao país e, gostando ou não, é parte inafastável de nossa cultura popular, influenciando e repercutindo a vida e comportamentos, revelando atores e atrizes, atiçando a curiosidade e mantendo boa parte da população grudada na telinha todos os dias da semana muitas décadas antes do advento do streaming. Em A Vilã das Nove, longa dirigido por Teodoro Poppovic, a novela do horário mais nobre – que antes era oito da noite – está no centro das atenções e o roteiro que ele escreveu ao lado de Maíra Bühler, André Pereira e Gabriela Capello constrói uma história que aproxima a vida real da vida ficcional em uma premissa inegavelmente intrigante.

Nela, Roberta (Karine Teles), uma treinadora vocal que guarda um segredo muito bem guardado sobre seu passado e que envolve uma literal outra vida que teve, mas que decidiu abandonar, depara-se com uma nova e bem-sucedida novela que parece justamente contar para o país todo sobre o que ela passou décadas escondendo. No processo de tentar descobrir como afinal seu segredo chegou na televisão, ela acaba precipitando o encontro com aquilo que deixou para trás, com seu próprio “eu” de outra época. Em outras palavras, a proposta do longa é andar pela cada vez mais tênue linha que separa a ficção da realidade, além de abrir espaço para que o processo de criação e produção de uma telenovela seja descortinado, sem deixar de criticar o próprio conteúdo dessas obras que marcam as noites da televisão aberta brasileira.

Com uma premissa dessas, A Vilã das Nove tinha tudo para ser um excelente filme, mas diversas oportunidades são desperdiçadas ao longo da narrativa. Para começo de conversa, a grande decisão de Roberta em seu passado remoto é trabalhada e justificada da maneira mais rasa possível, com um contexto tão simplista que fica parecendo aleatório. E suas ações no presente, que incluem o envolvimento romântico com a atriz que a interpreta na novela e uma investigação sobre a origem da ideia que levou à produção da novela são desestruturadas, com o longa perdendo a oportunidade de construir efetivo suspense. Claro que, se o objetivo era fazer uma crítica das telenovelas com um roteiro típico de telenovela, então talvez, com boa vontade, ele tenha sido alcançado, mas não me parece o caso, já que esse comentário sobre o conteúdo das tão cobiçadas obras é feito justamente quando vemos trechos dos episódios de A Má Mãe, que conta a história de Roberta. Aliás, diria que os únicos momentos de humor efetivo em A Vilã das Nove é justamente quando o longa abre espaço para a novela dentro do filme, com atuações exageradas, quebras de quarta parede teatrais, reviravoltas extremas, desfazimento de situações na base do porque sim e assim por diante.

O filme torna-se marginalmente mais interessante quando entra nos meandros do processo criativo das telenovelas, que não é muito diferente do processo criativo de obras audiovisuais no geral, ou seja, com ideias que são apropriadas, criativos que não têm seus nomes creditados ou que ganham salários compatíveis com o que fazem, tudo para que o nome do roteirista principal e/ou produtor possa brilhar solitariamente no firmamento. Da mesma forma, a abordagem da característica principal de uma telenovela, ou seja, sua modificação ao longo do tempo de acordo com o comportamento da audiência, é algo raro de se ver por aí e o roteiro consegue tocar no assunto, mesmo que de forma corrida, apenas com pinceladas sem muito foco.

Quando, porém, o longa tenta construir suspense ou quando tenta fazer de Roberta a personagem interessante que ela realmente poderia ser, o roteiro se perde e a direção de Poppovic vai junto, não fazendo muito mais do que o básico, apesar do esforço de Karine Teles no papel. A Vilã das Nove, com isso, perde o vigor muito rapidamente, desfazendo uma premissa com potencial e transformando-a em algo comum, tão comum como a maioria das tramas das telenovelas que vemos por aí.

A Vilã das Nove (Idem – Brasil, 2024)
Direção: Teodoro Poppovic
Roteiro: Teodoro Poppovic, Maíra Bühler, André Pereira, Gabriela Capello
Elenco: Karine Teles, Alice Wegmann, Camila Márdila, Valentina Bandeira, Laura Pessoa, Antônio Pitanga, Murilo Sampaio, Negro Leo, Rodrigo Garcia, Catarina de Carvalho, Stella Rabello, Angela Rebello, Otto Junior
Duração: 103 min.

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