Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | A Vida Depois de Beth

Crítica | A Vida Depois de Beth

Não há como recompensar.

por Felipe Oliveira
718 views

Parte da carreira de Jeff Baena é notória pelas colaborações ao lado de David Russell, o que já rendeu quatro roteiros escritos em parceria. Mas se há uma palavra que resume seu estilo é a recorrência, aspecto que também envolve as participações de Alison Brie e Aubrey Plaza em seus longas, e por último, a maneira incomum com que ele aborda drama e comédia a fim de discutir os dilemas que afligem seus personagens. Se em Huckabees: A Vida é uma Comédia, Baena e Russell trazia um hilário e desconcertante prisma existencial sobre o significado da vida, em sua estreia solo como diretor e roteirista com Life After Beth, Baena teve como tema os fins de relacionamentos.

Ter sido distribuído pela A24 um ano depois que Meu Namorado é um Zumbi, torna inevitável ignorar a familiaridade com a temática, já que Baena propunha uma premissa romântica com ares de apocalipse zumbi, tal como no filme estrelado por Teresa Palmer e Nicholas Hoult, a diferença é que Baena parte de um autoria mais cínica, descompromissada e absurda para traçar uma analogia que se relaciona não só sobre términos, mas que também lida com perdas e sobre a vida.

O que faz de A Vida Depois de Beth por algum motivo divertido é mais pela performance de Plaza, já que ela é quem sintetiza a lógica por trás do título: um prolongado sentimento de luto, arrependimentos e mágoas. Ao costurar uma série de variações de estilos e subgêneros pela ótica da comédia, é como Baena ia sempre deixando a sensação de indiferença e incerteza quanto ao que achar do filme, como se não tivesse nada ali para se definir, e sim ser uma peça incomum que explora variados temas. A exemplo de quando Beth morre e encaramos o inconformado Zach (Dane DeHaan) se tornar uma figura invasiva na casa dos sogros e confuso com os pais; é tudo muito desconfortável, nonsense e exagerado, mas são nesses momentos que o roteiro fala de relações familiares e a maneira que Zach busca consolo.

Talvez encarar a ideia proposta por Baena como uma paródia seja mais fácil de perceber que, mesmo impreciso, o filme transita de um dramático romance desajustado para um romance trash num apocalipse zumbi para lidar, no geral, sobre perdas. Em alguns momentos, a loucura de ver a personagem de Plaza ser enterrada e depois ressurgir implacável assume um tom de trama adolescente digna do cunhado “manic pixie dream girl” com Zach obcecado em viver uma relação que estragou quando Beth estava viva. Mas Plaza é quem tira de letra esse papel excêntrico que vai experimentado reações raivosas como uma adolescente que não entende as mudanças da idade. E mesmo lembrando vagamente Megax Fox em Garota Infernal, Plaza consegue transmitir personalidade em cada sequência bizarra como uma zumbi, sendo o ponto alto a cena que envolve um fogão, uma pistola e montanhas.

Servindo ao acervo de ideias e cenas constrangedoras com que Baena promovia em seu debut, a trilha sonora composta por Black Rebel Motorcycle Club trazia um entretenimento a parte que ora emulava arranjos genéricos de thrillers de sobrevivência, ora seguia por uma melodia descompensada e melancólica das fases de um relacionamento mórbido. Até em apelar para o humor ácido, como em outras abordagens do longa, Baena não queria se definir por algum subgênero específico e sim superabundar as temáticas pela estranheza de sua abordagem. 

Mesmo sem trazer explicações lógicas para as metáforas sobre perdas, de fato, A Vida Depois de Beth foi um filme atípico graças a sua analogia com zumbis que reflete muito sobre os relacionamentos modernos e sem entrar na zona da cultura pop. Um exemplo do que Baena quis ser para o espectador — desconfortável, escatológico, e comicamente mórbido — é com Um Cadáver para Sobreviver, que veio dois anos depois e soube como ser uma experiência bizarra de se assistir, mas ser excepcionalmente peculiar, criativo e reflexivo.

A Vida Depois de Beth (Life After Beth – EUA, 2014)
Direção: Jeff Baena
Roteiro: Jeff Baena
Elenco: Aubrey Plaza, Dane DeHaan, John C. Reilly, Molly Shannon, Cheryl Hines, Paul Reiser, Matthew Gray Gubler, Anna Kendrick, Eva La Dare
Duração: 89 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais