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Crítica | A Última Hora

por Leonardo Campos
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Cenas de lixo e degradação para todo lado. Uma narração questionadora nos intimida: ainda há tempo? Há algo que possa ser feito? Estamos engajados para mudar? Com a sua multiplicidade de pontos, sem fechar definitivamente as questões apresentadas, A Última Hora se apresenta ao espectador como um documentário sobre a urgência de nosso comportamento para mudar a dinâmica ecológica global e transformarmos a história que indica a extinção dos humanos. E isso não é sensacionalismo. Basta acompanhar as reportagens atuais para perceber. Prova disso é o cenário covid-19 em 2020 e a mudança na atmosfera pela diminuição da emissão de gases e outras substâncias em nosso planeta. O isolamento permitiu a mudança panorâmica de cenário, não pelas razões ideais, mas comprovou que a ação massiva numa ocasião de contratos ecológicos e exercício cidadão pode mudar as coisas.

Seria a ocasião ideal para A Última Hora 2 – O Retorno, não é mesmo? O ponto de partida é a destruição do planeta em larga escala, com alguns destaques para a vida animal, o acúmulo de lixo e a celeuma do aquecimento global, ponto que podemos considerar como nevrálgico no desdobramento dos depoimentos e nas reflexões apontadas pela produção. O texto coloca, a todo instante, a solução nas mãos da própria humanidade, pois segundo os relatos, o planeta continuará onde está, mas a população, para onde irá com a ausência de recursos básicos de sobrevivência, utilizado de maneira inadequada? Responsável por habitar mais de seis bilhões de pessoas que carecem de roupas, moradia, alimentação, água potável e outras ofertas esgotáveis, a conta não “fecha”. A proporção do que é necessário para o que há em disponibilidade é gritante, motivo da crise apresentada sem discurso político panfletário inflamado, mas com a firmeza de quem está voltado para campanhas conscientizadoras.

Dirigido por Leila e Nadia, ambas da família Conners, A Última Hora traz depoimentos captados pela direção de fotografia de Peter Y. Hills, acompanhados pela condução musical de Jean-Pascal Beintus, equipe focada na emissão da mensagem do documentário com elementos que estejam ao menos próximo da estética do entretenimento. As cabeças falantes dos enquadramentos de entrevistas e alguns efeitos visuais entre uma passagem e outra dão ritmo ao filme focada na urgência de sua denúncia. Apresentam, com imagens intermediadas pela narração de Leonardo DiCaprio, propostas sobre design verde de produtos sustentáveis que não prejudicam o meio ambiente, as tecnologias biométricas que mimetizam a natureza e ainda debatem a celeuma sobre carros e mobilidade urbana, problematizada em documentários como Bike versus Carros e Urbanized: todos os indivíduos que habitam o planeta podem ter carros como único recurso de deslocamento?

Dentre os depoimentos, David Suzuki expõe que as toneladas de lixo despejadas nos oceanos promovem um espetáculo da destruição irreversível, pois o oxigênio disposto para a nossa existência não pode ser produzido naturalmente por águas poluídas de um futuro nada promissor. Para Richard Heinberg, jornalista autor de publicações sobre petróleo, guerras e outros temas na seara do meio ambiente, os grandes conglomerados esquecem do caráter esgotável de muitos recursos e produzem sem pensar em outras alternativas ou em reposições. Para Joseph Tainter, vivemos no colapso das sociedades e os resultados que se acreditavam surgir a longo prazo já podem ser contemplados com espanto por agora. Visto após quase 15 anos de seu lançamento, são informações proféticas certeiras. Conforme o especialista Paul Hanken, o declínio das espécies é inevitável com a falta de algumas ofertas de vegetação, solo, oceanos, etc.

A edição de Pietro Scalia e Luiz Alvarez ainda inclui o escritor James Hillman, autor que reforça que estamos a viver os problemas oriundos de nossas escolhas pessoais extravagantes. Para o economista Lester Brown, o imposto de renda do cidadão comum deve ser diminuído para que haja o aumento dos tributos para empresas e outros que queimam combustíveis fosseis e prejudicam a atmosfera. Sandra Postel, em sua abordagem lúdica, versa sobre a água e suas propriedades numa ameaça que acarretará o caos global. Lançado em 2007, A Última Hora também aborda o direito dos animais, mesmo que indiretamente, num constante lançamento de questionamentos reflexivos e críticos. “Se os homens são o problema, só eles podem ser a solução”, aponta um dos entrevistados, quando comenta que “as pessoas não estão separadas da natureza”. O cidadão comum precisa mudar, mas os governos e suas constituições também.

Ademais, como propostas de intervenção, A Última Hora propõe o conceito slower de vida, com o consumismo sendo um ponto menos importantes no cotidiano e as pessoas possam aderir a possibilidade de atribuir as suas missões de consumo para outras coisas. A mudança é complexa e requer a colaboração mútua. Visto mais de uma década após o seu lançamento, é possível perceber alguma alteração no cenário? Como não podemos ficar apenas na linha do pessimismo, devemos dizer que sim. Há mais grupos conscientizadores, as discussões ganharam mais amplitude, mas ainda assim, falta a ação do cidadão comum, o espectador que precisa conferir o documentário e sua mensagem e não pensar apenas num discurso para redações de vestibulares e concursos. É preciso sair das postagens em redes sociais e colocar a coisa para funcionar em suas vias de fato. O filme funciona em sua mensagem, às vezes pode soar cansativo, mas é a exposição para uma realidade que preferimos jogar para debaixo do tapete. Mas não podemos.

A Última Hora — (The 11th Hour) Estados Unidos, 2007.
Direção: Leila Conners, Nadia Conners
Roteiro: Leila Conners, Nadia Conners
Elenco: Leonardo DiCaprio, Brian Gerber, Chuck Castleberry, Leila Conners Petersen, Leila Conners, Nadia Conners
Duração: 95 min.

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