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Crítica | A Superpata Contra o Superpato e O Bando Selvagem de Mekanos

Pataquadas da Superpata.

por Luiz Santiago
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O presente compilado traz duas histórias da Superpata, a primeira publicada no ano de 1973, e a segunda no ano de 1980. São aventuras do início da linha cronológica da personagem, ambas originalmente lançadas na Itália, e mostram um pouco como ela se organizava e como foi sendo construída em suas primeiras histórias. Você já leu esses dois arcos? O que achou deles? Deixe o seu comentário ao final da postagem!
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A Superpata Contra o Superpato

Passaram-se quatro meses da criação da Superpata, na história O Colar de Ariadne, até que ela aparecesse mais uma vez na Revista Topolino, em agosto de 1973. Esta segunda trama com a personagem encontra sua problemática em uma invenção de Eugênia, que faz um manequim super real para a Margarida. O propósito dessa criação não tem nada a ver com a existência da Superpata, mas acaba servindo de motivação para a personagem. Uma vez que o tal manequim tem um gravador de vídeo e áudio embutido, pode ser uma valiosa ferramenta na luta contra possíveis invasores da casa. Ou servir para qualquer outro uso inteligente que a Margarida possa pensar com uma recriação tão realista de si mesma. Num primeiro momento, ela se contenta em deixar a falsa Margarida lendo, em uma mesa da sala, e parte para discursar numa conferência sobre “o sexo frágil ser superior ao sexo forte“.

Eu já tinha comentado em O Colar de Ariadne que o “feminismo” de Margarida e da Superpata é uma corrupção da ideia geral e que, embora não seja misândrico, prega a superioridade da mulher sobre o homem, não a igualdade. Ainda assim, o escritor Guido Martina consegue elencar um problema de peso, em se tratando de convivência e organização social (o machismo) e explora isso, à sua maneira, ao longo da trama. A história anterior é mais engajada que esta e mais inteligente na forma como exibe essa ideia sui generis de um certo “feminismo” impulsionando a protagonista. Aqui, não é diferente. Mas quem causa o problema, na verdade, é o Pato Donald e seu primo Peninha, após o primeiro sair enraivecido da palestra da Margarida. Ele quer provar que presta para alguma coisa, então sequestra o manequim achando que é a Margarida de verdade e coloca o Peninha para vestir a roupa do Superpato, de onde vem o suposto conflito que o título da trama anuncia.

Só que não existe, de verdade, um “contra” aqui. Primeiro porque o Superpato da história nem é o Superpato-Donald, é o Peninha (os brasileiros criaram o Morcego Vermelho em maio daquele mesmo ano, vale lembrar) e não existe uma luta entre ele e a Superpata. O enredo destaca a heroína por completo; mostra o Donald fazendo papel de abobalhado e derrotado; e cria uma trilha humorística a partir da confusão que o pato inicia por ego, querendo provar que é útil e que os homens são melhores que as mulheres, com direito a algumas falas machistas no meio do caminho só para reforçar o que ele pensa a respeito, caso o leitor ainda não tenha entendido. A Superpata Contra o Superpato é uma história que nos faz rir pela confusão que expõe, mas perde um pouco por não trabalhar mais abertamente a sua heroína, que basicamente fica pra cima e pra baixo resolvendo coisinhas imediatas e falando frases de efeito sobre igualdade de gênero. A ideia é boa, mas como diria a minha avó, “falta sustância“.

Em tempo: a redefinição do layout original, na versão brasileira, é algo simplesmente horrendo! A diagramação fica toda amontoada, as quebras de quadro não valorizam a arte de Giorgio Cavazzano e tornam a experiência de leitura menos interessante. Se um dia republicarem isso, terão que melhorar a diagramação ou fazer exatamente no modelo de três tiras por página, como no original.

A Superpata Contra o Superpato (Paperinika contro Paperinik) — Itália, 5 e 12 de agosto de 1973
Código da História: I TL  923-AP
Publicação original: Topolino (libretto) 923 e 924
Editora originai: Mondadori
Outras publicações: Tio Patinhas 168, Disney Especial (1ª Série) 122 – Os Espertos, Disney Especial (1ª Série) 180 – Os Espertos, Disney Jumbo 10.
Roteiro: Guido Martina
Arte: Giorgio Cavazzano
Capa original: Pete Alvarado (arte, #923), Larry Mayer (arte-final, #923); Tony Strobl (arte, #924)
63 (no original, com 3 tiras por página) e 30 páginas (com layout na versão brasileira)

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Superpata e o Bando Selvagem de Mekanos

Algumas histórias simplesmente me deixam pensando, consternado: “onde é que o roteirista estava com a cabeça quando imaginou em uma coisa assim?“. Isto foi basicamente o que me veio à mente quando finalizei a leitura de Superpata e o Bando Selvagem de Mekanos, que traz ninguém menos do que a Rainha de Branca de Neve como antagonista. Num primeiro momento, minha reação foi de surpresa, seguida de grande curiosidade. Afinal de contas, o que o texto poderia trazer de interessante com a Rainha participando de uma história da Superpata? Ela sequer combina com o Universo de Patópolis! Se fosse a Bruxa Má, aí era outra coisa, porque quando colocamos magia ou bruxaria no meio, as regras de condução do enredo mudam, um novo padrão de aceitação é criado. No entanto, o que a Rainha e o seu Espelho Mágico poderiam fazer aqui? Pois bem, a resposta para essa pergunta é uma história que começa intrigante, interessando o leitor pela sua peculiaridade, mas que termina bem abaixo do que prometeu e do que imaginamos.

O mais irritante é a “motivação” para que a Rainha queira roubar a moeda número um do Tio Patinhas. Qual é o sentido disso? Como é que essa personagem vai se ocupar de querer ficar mais rica que Patinhas? Não faz sentido algum para o seu Universo e nem combina com as tramas já conhecidas da personagem. E a coisa não para por aí. A Rainha conseguiu desenvolver, de alguma maneira, robôs com a cara da Margarida, à semelhança do que Eugênia fez com o manequim tecnológico que vimos surgir pela primeira vez em A Superpata Contra o Superpato. Quando isso é posto, nós começamos a fazer uma quantidade enorme de perguntas e não há uma única resposta convincente para elas, ou seja, a estranheza só se acumula.

No início, eu até pensei que a participação da Rainha e do Espelho Mágico iriam deflagrar um problema à distância, numa espécie de “teoria do caos” narrativa, só para termos um cameo charmoso e passarmos para o que realmente importa. Mas atuando como personagens fixos e ativos da trama e com a justificativa que o roteiro nos dá para eles aqui… fica muito difícil gostar do desenvolvimento do texto. Pelo menos a arte de Giancarlo Gatti é bacana, apesar de, no ato final do título, o público já estar cansado da ladainha do “feminismo que não é feminismo” da Margarida. A gente só quer que a história acabe. E nem vou começar a questionar o que aconteceu com o uniforme da personagem aqui (uma mudança horrível, por sinal — a Superpata funciona muito melhor com o deliciosamente bizarro uniforme original dela) senão a lista de reclamações vai ainda mais longe. Eu não tenho muitas histórias de quadrinhos da Disney que eu achei ruim. Esta, porém, foi uma delas.

Paperinika e la selvaggia banda dei Mekanos — Itália, 17 e 24 de agosto de 1980
Código da História: I TL 1290-AP
Publicação original: Topolino (libretto) 1290 e 1291
Editora originai: Mondadori
Outras publicações: Não publicada no Brasil até o momento de escrita desta crítica (junho de 2022).
Roteiro: Guido Martina
Arte: Giancarlo Gatti
Capa original: Marco Rota (?)
66 (no original, com 3 tiras por página)

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