Número de temporadas: 04
Número de episódios: 90
Período de exibição: 26 de setembro de 1982 a 04 de abril de 1986
Há continuação ou reboot?: Sim. Além de romances, cinco videogames e até uma convenção dedicada à franquia apropriadamente batizada de KnightCon, a série original foi “continuada” por dois telefilmes, A Super Máquina 2000, de 1991 e Califórnia 2010 (o título em português não faz o menor sentido), de 1994, o primeiro ainda com David Hasselhoff e o segundo sem ele, e ambos localizando a ação no “futuro”. Em 1997, uma série que continua a série original, mas também sem Hasselhoff, foi lançada – Team Knight Rider -, com apenas uma temporada e 22 episódios. Em 2008, o telefilme A Nova Super Máquina, um reboot, foi lançado como um backdoor pilot para a série homônima que foi ao ar entre 2008 e 2009, com apenas 17 episódios. Entre 1985 e 1986, uma série batizada de Code of Vengeance foi lançada com base em um personagem – Dalton – introduzido na série original.
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Claro que depende da experiência de cada um na época em que A Super Máquina foi lançada, mas eu diria que, se essa não for a série enlatada americana mais icônica dos anos 80, ela pelo menos tem que constar em qualquer Top 5 com essa premissa. Afinal, como esquecer de – ou não ser imediatamente fisgado por – David Hasselhoff em toda sua canastrice galã com seus cabelos encaracolados e usando uma jaqueta de couro preta normalmente com uma camisa de cor forte por baixo, o Pontiac Firebird Trans Am modificado, na cor preta e com olhos de Cylon (não sem querer, considerando que Glen A. Larson criou Battlestar Galactica e A Super Máquina) entre os faróis que não só era quase indestrutível, como ainda contava com a inteligência artificial K.I.T.T. (sigla de Knight Industries Two Thousand) e a música-tema tocada em sintetizadores e composta por Stu Phillips em coautoria com o próprio Larson?
Mas acima desses elementos audiovisuais marcantes e, francamente, inesquecíveis, A Super Máquina, pelo menos em seu piloto na forma de telefilme como era comum na época, tinha algo mais, ou seja, uma história simples de origem, mas bem bolada e bem trabalhada que é capaz de engajar o espectador. Nela, o policial disfarçado Michael Arthur Long (Larry Anderson) leva um tiro na cabeça durante uma missão e é dado como morto. Resgatado e de certa forma adotado pelo bilionário filantropo moribundo Wilton Knight (Richard Basehart, o Almirante Nelson de Viagem ao Fundo do Mar), Michael sobrevive porque, como veterano do Vietnã, teve uma placa de metal cirurgicamente inserida na testa em razão de um ferimento, e, com a atenção médica que recebe, tem seu rosto reconstituído de forma – como é indiretamente indicado – a parecer Wilton Knight quando mais novo. Assumindo a identidade de Michael Knight, ele parte com o automóvel do título – na verdade é seu próprio carro que, durante o tempo em que ele ficou convalescendo, foi transformado em uma máquina de combate pelos dólares do bilionário – para vingar-se de que “o matou”.
A missão em si, que gira em torno do roubo de planos de um microchip no Vale do Silício, é apenas uma desculpa de fundo para criar a referida origem e permitir que o telefilme empregue grande parte de sua duração para, primeiro, estabelecer a cômica relação entre Michael e K.I.T.T. (voz de William Daniels que, por estar fazendo outra série simultaneamente, pediu para não ser creditado), o primeiro se recusando a aceitar que seu carro – que, como ele, diz, parece o banheiro do Darth Vader – tem consciência e que é capaz de dirigir melhor do que ele e o segundo sarcasticamente mostrando que Michael é, afinal de contas, apenas um humano. Em segundo lugar, a trama de fundo ajuda a mostrar as características do carro, seja sua quase completa invulnerabilidade, como também os assentos ejetores, seu turbo que o permite dar pulos e quase voar sem rampas e sem nada e assim por diante. Para tornar isso possível, o roteiro faz de tudo para criar todas as mais improváveis situações, desde fazer com que Michael durma ao volante e protagonize uma sequência hilária perante dois policiais que o param, até introduzir dois ladrões que, em uma gag recorrente, tentam roubar o bólido negro, passando por um derby de demolição que deve ter dado um trabalho enorme para os dublês e um duelo nas estradas contra dois enormes caminhões.
Mesmo com tudo isso e mesmo introduzindo um quase-interesse amoroso para Michael, Maggie (Pamela Susan Shoop), garçonete que fora funcionária da COMTRON, empresa que ele investiga e que tem um filho – Buddy, vivido por Barret Oliver que viria a ganhar fama logo em seguida como Bastian, de A História sem Fim e Daryl, de D.A.R.Y.L.) – que logo se afeiçoa a Michael, chegando a se esconder no carro para participar do derby de demolição, o piloto de A Super Máquina sofre do mesmo clássico problema de pilotos que são telefilmes: há história de menos para minutagem demais. Não chega a ser um problema sério porque K.I.T.T. e as características do carro que ele comanda, além da postura irresistivelmente blasé de Hasselhoff em um dos dois mais famosos papeis de sua carreira (o outro, obviamente, é o de Mitch Buchannon em Baywatch, que chegaria às telinhas três anos após o fim de A Super Máquina), seguram bem a duração e mantém o interessante razoavelmente constante, mesmo que as barrigas narrativas sejam sensíveis.
A Super Máquina não só marcou sua época, como deixou um legado de outras séries repletas de veículos turbinados, sendo até hoje uma das mais lembradas dos anos 80, mesmo que ela porventura possa não ser a favorita de quem lembra dela (como é meu caso, aliás). Trata-se de diversão garantida com um piloto que se esforça mais do que a média para criar uma história realmente interessante e engajadora e dar origem ao cavaleiro errante que pilota um dos mais icônicos automóveis do audiovisual.
A Super Máquina – 1X01 e 02: Knight of the Phoenix (The Fall Guy – EUA, 26 de setembro de 1982)
Criação: Glen A. Larson
Direção: Daniel Haller
Roteiro: Glen A. Larson
Elenco: David Hasselhoff, William Daniels, Edward Mulhare, Richard Basehart, Larry Anderson, Phyllis Davis, Ed Gilbert, Vince Edwards, Herb Jefferson, Jr., Lance LeGault, Pamela Susan Shoop, Barret Oliver
Duração: 90 min.