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Crítica | A Sombra do Abutre, de Robert E. Howard

por Luiz Santiago
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Originalmente publicada na revista The Magic Carpet, A Sombra do Abutre é uma história pouco conhecida de Robert E. Howard, mas que contém as sementes da criação de uma famosa personagem dos quadrinhos: Red Sonja, concebida por Roy Thomas e Barry Windsor-Smith para a Marvel Comics, em 1973. Mas estamos colocando um pouco o carro na frente dos bois. Vamos começar… do começo.

A Sombra do Abutre é uma ficção histórica. Nela, temos como protagonista o Sultão Suleiman (ou Solimão) o Magnífico, também conhecido como O Legislador e o recorte histórico da obra é bem preciso: o segundo semestre de 1529. No entanto, o primeiro grande evento histórico abordado é Batalha de Mohács, que se deu em 1526 entre o Império Otomano e o Reino da Hungria. Este momento histórico é utilizado pelo autor apenas para dar contexto a uma certa ideia fixa do sultão que impulsionará o drama, ao lado do evento histórico verdadeiramente importante aqui.

A escrita de Howard é fascinante desde os seus primeiros parágrafos. Ele cria uma excelente base dramática em torno do sultanato e prova que fez uma grande pesquisa histórica, pois utiliza de maneira correta os reinos e as nomenclaturas de cada ordem militar ou política então chefiadas por Suleiman. E é com toda a pompa e circunstância de um grande monarca que presenciamos uma cena de liberação de prisioneiros após um acordo de paz, sendo ironicamente neste momento que a já citada ideia fixa aparece para o sultão, indo desaguar no Cerco de Viena (27 de setembro a 14 de outubro de 1529), opondo o Império Habsburgo, com mercenários boêmios, alemães e espanhóis ao Império Otomano, com Principado da Moldávia e sérvios.

A mistura desse grande evento histórico com personagens reais e fictícios torna a trama mais chamativa, pois quem conhece um pouco do que se passou no Cerco sabe o resultado dele para o sultão, e quem não sabe, imagina uma resolução no mínimo pé no chão. E sim, é justamente isso que o autor traz para nós, aproximando-se muito dos fatos históricos e sabendo temperá-los com uma grande dose de intrigas palacianas que envolve uma vingança e todo um contexto de guerra que nos fascina, ao mesmo tempo que nos enraivece. No meio de tudo isso é que aparece uma grande guerreira, a personagem que inspirou a Red Sonja dos quadrinhos: Red Sonya (ou Sonya Rubra) de Rogatino.

Mesmo não sendo a protagonista da trama, Sonya Rubra se destaca com uma imensa facilidade em absolutamente todas as cenas em que aparece. Os comentários que fazem sobre ela e a impressão que causa nos homens ao seu redor nos arrancam risos ao mesmo tempo que criam em nós uma admiração tremenda pela personagem, fazendo com que a visão sobre o Cerco de Viena e o que se sucede a partir daí receba um outro tipo de “exercício de vingança”.

A Sombra do Abutre retrata com bastante crueza a invasão dos otomanos às terras cristãs e consegue nos passar uma visão muito boa acerca de um dos eventos históricos mais importantes para a Europa, em termos de rumo que o continente poderia ter tomado. Um relato de guerra, bravura e demonstração do que há pior e melhor nos homens e nas mulheres.

A Sombra do Abutre (The Shadow of the Vulture) – EUA, janeiro de 1934
Autor:
Robert E. Howard
Publicação original: The Magic Carpet Magazine
Edição lida para esta crítica: Arte & Letra, 2012
Tradução: Gabriel Oliva Brum
88 páginas

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