Mas, afinal, o crime compensa? O questionamento veio diante da sessão do frenético A Senha, filme de ação que traz em sua ficha técnica os produtores de Matrix como referência, numa aventura cheia de cenas de perseguição, explosões e trocas de tiros com efeitos similares ao mencionado clássico moderno da ficção científica, com balas a atravessar os espaços em câmera lenta, potencializando os momentos de adrenalina. Para responder ao tom interrogativo de abertura desta breve análise, utilizo as necessidades dramáticas de Stanley Jobson, o personagem de Hugh Jackman, um manipulador de sistemas que depois da prisão, teve diversos direitos revogados, dentre eles, o impedimento de acessar qualquer computador e, ainda mais complicado, o acesso ao amor de sua vida, a sua filha, jovem que vive com a mãe, uma mulher comprometida pelo álcool e cigarro, deprimida num casamento falido, com um diretor conhecido por seus filmes pornográficos, figura que utiliza a própria esposa em algumas de suas produções.
Afastado das tentações, Stanley recebe uma oferta considerada por muitos como irrecusável: ele pode reaver o contato com a sua filha e ainda ganhar uma quantia enorme de dinheiro, mas para isso, precisará driblar os códigos legais e realizar um serviço cibernético que só ele mesmo pode dar conta. O convite vem por meio de Ginger (Halle Berry), uma mulher sensual e inteligente, cheia de informações sobre a vida do personagem, consciente das palavras-chave adequadas para utilizar como isca e atrair o indeciso homem que até então, prefere seguir os parâmetros legais. Ela é parte da equipe de Gabriel Shear (John Travolta), um espião insano que deseja financiar ações antiterroristas como estratégia para assegurar os preceitos do american way of life, no entanto, estabelecer o seu projeto por meio de ações paradoxais que também envolvem o crime como caminho para deixar a sua mensagem explicita para a sociedade.
Em linhas gerais, um louco interessado em versar sobre loucura, tendo meios escusos para alcançar os seus objetivos. Como lidar? É o que o protagonista terá de decidir: ou se mantém coeso em seus propósitos e junta uma grana alta para conseguir um advogado e rever as suas condições paternais ou aceita a proposta criminosa e sai de cena, tendo assegurado o contato com a sua filha, além de receber a tal quantia que o deixará despreocupado para o resto de sua vida. Assim é A Senha: é neste clima de tentações, sensualidade e ação que, ao longo de seus 99 minutos, acompanhamos a jornada do protagonista, um herói que titubeia diante das situações diversas que o deixam temeroso, obrigado a reagir diante da dúvida. Muitas reviravoltas acopladas no roteiro de Skip Woods dão lugar para as conveniências narrativas, numa história sobre crimes cibernéticos e busca por bilhões, dirigida por Dominic Sena.
A ideia neste submundo do crime é resgatar um fundo monetário preso desde os anos 1980, mas para isso, é preciso um hacker que tenha os conhecimentos necessários para a quebra dos sistemas de segurança. É um universo protegido por firewalls, redes avançadas e comprometedores segredos, espaço onde se situam dinheiro e informações valiosas. Acompanhamos esta jornada de ação pirotécnica com a embalada trilha sonora criada pela dupla formada por Paul Oakenfold e Christopher Young, responsável por potencializar as cenas concebidas pela direção de fotografia de Paul Cameron e design de produção de Jeff Mann, setores que elaboram espaços para a inserção dos numerosos efeitos especiais e visuais desta produção frenética, problemática no quesito roteiro, com excesso de reviravoltas, mas funcional enquanto narrativa de entretenimento. Os roubos de “antigamente”, com reféns acossados em bancos e estabelecimentos físicos, em A Senha, ganham espaço na virtualidade.
A Senha: Swordfish (Swordfish – EUA, Austrália, 2001)
Direção: Dominic Sena
Roteiro: Skip Woods
Elenco: John Travolta, Hugh Jackman, Halle Berry, Don Cheadle, Sam Shepard, Vinnie Jones, Drea de Matteo
Duração: 99 min