Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | A Semana da Minha Vida

Crítica | A Semana da Minha Vida

Musicalmente confuso, e gospelmente falho

por Davi Lima
1,K views

Quando a musicalidade se torna um motor sem ritmo, a sensação é a de assistir um vale da estranheza como se não houvesse nenhuma suspensão de descrença, perdendo completamente dramas e pausas para o sentimento. A Semana da Minha Vida (A Week Away) é uma das definições mais imediatas do que é aleatoriedade; um musical no estilo Summer Camp (acampamento de verão) reproduzindo uma cultura americana sem base narrativa além dos números emaranhados em meio a florestas e lagos. Assim, a moda pouco comum de cinema gospel disfarçado de musical – que poderia ser fácil de se fazer – torna-se quase cômico nessa produção distribuída pela Netflix.

Refletindo com uma espectadora comum, que achou esse musical no streaming em busca de assistir mais do gênero que tanto gosta, ela se pergunta: existem filmes como esse? Musicais com toada gospel sem se vender como gospel? Com um cantor profissional (Kevin Quinn) e uma atriz famosa (Bailee Madison) em filmes infanto juvenis ou do Adam Sandler? A empreitada da Netflix com o músico Adam Watts para fazer um jukebox (estrutura de palco com músicas conhecidas ou de outro cantores populares) poderia responder positivamente essas perguntas e adentrar nas áreas inovadoras do nicho gospel pouco eclesiástico, mas que não desculpa as dificuldades de produção da Rove Productions e o diretor de clipes Roman White em fazer um Summer Camp confuso.

O grande problema de A Semana da Minha Vida é tornar as músicas uma invasão em uma história gravada. Se o conflito do protagonista é ser transformado no seu caráter, os teores gospel aparecem nas letras musicais sem contexto, indicando que o processo da história é o personagem se envolver com o cristianismo. Isso se torna ainda mais estranho quando o protagonista aparenta estar confuso ao imergir em um acampamento onde não conhece ninguém, e ao mesmo tempo dispersa isso de maneira imediata com um romance. O estranhamento aqui é porque essas duas vertentes quebram o ritmo claro da narrativa de um personagem que vai se transformar ao conhecer o ambiente, priorizando o romance por puro atropelamento da história. É certo que o conflito do ator central é exatamente fingir para conquistar a garota, mas o estranhamento do personagem e o nosso estranhamento dos momentos musicais se atropelarem e não refletem o drama do filme.

E este drama é exatamente criar encantamento pelo acampamento, onde o protagonista é um antagonista. Mas sua inclusão rápida e a maneira como seus fingimentos se tornam cenas musicais acabam por tornar tudo superficial no que vai transformar o personagem. É como se Adam Watts fizesse as músicas e Roman White só gravasse em modo de videoclipe – quando definitivamente não é a história que importa, e sim a performance. Nesse sentido, faria mais sentido para a história do filme se houvesse um incômodo intencional, direcionado a nós, espectadores, dessa performance confusa por algum incômodo do personagem, ou um drama sobre como o cristianismo cria transformações abruptas. Mas não. Toda a musicalidade é uma grande farsa exposta em meio a um romance meloso, criando uma grande estranheza visual e narrativa.

Apenas dois momentos funcionam nessa superfície, de modos distintos: de um personagem que cria um sonho, se vestindo de maneira futurista no palco, combina com o modelo de clipe, criando uma estrutura ilusória em busca de encantar uma garota. E outro momento é o final, apresentação de palco, como show, como apoteose da transformação do protagonista, enquanto há uma história de conflito de outro personagem antagonista de verdade. São dois momentos do filme que funcionam isolados, pois A Week Away é uma grande montagem sem sequência modelada, apenas conectada.

Ao fim, temos uma proposta gospel engolida pelo gênero musical de Summer Camp como ideia teoricamente inovadora, mas que se perde em questões básicas de produção cinematográfica. Até mesmo as coreografias, que são boas, em alguns momentos podem parecer repetitivas. E o romance, o grande foco do filme, pode criar até controvérsias teológicas, que alguns podem esquecer ou se aventurar no ritmo musical – seguindo a obra como vários videoclipes, um jukebox, mas sem planejar um cinema jukebox…apenas um musical com jukebox, ou algo parecido e repetitivo como essa última frase.

A Semana da Minha Vida (A Week Away) – EUA | 2023
Direção: Roman White
Roteiro: Alan Powell, Kali Bailey
Elenco: Kali Bailey, Bailee Madison, Jahbril Cook, Kat Conner Sterling, Sherri Shepherd, David Koechner, Iain Tucker, Ed Amatrudo
Duração: 94 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais