- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Fiquei em conflito enquanto assistia Olhos-Dourados, porque, por um lado, o penúltimo episódio da temporada é inteiramente focado em um único núcleo, o que normalmente significa uma qualidade maior dentro da série, mas, por outro lado, esse foco é na trama de Perrin e de Dois Rios, de longe a linha narrativa mais frágil e convencional do seriado. Ainda assim, o resultado final é razoável, com um capítulo que explora o novo papel do personagem titular como líder do vilarejo em uma pequena vitória improvável contra o mal, no que é sua típica batalha de fantasia – bem genérica, como vou falar mais à frente – com o grupo mais fraco perseverando com alguns sacrifícios e algumas tentativas de se criar momentos memoráveis.
A falta de tangentes narrativas ajuda na preparação dramática do clímax do episódio. Passamos um tempo considerável com alguns personagens coadjuvantes, com destaque para a presença carismática de Loial e a ligeira latitude dramática que ganhamos com Perrin, com o texto pesado em diálogos ensaiando algumas nuances com o lobinho e um senso de progressão e maturidade em seu arco, principalmente em seu poder de decisão bem melhor do que no início da série. Não sei se compro completamente o romance, que me soou um pouco abrupto desde os episódios passados, mas é bom notar algum tipo de crescimento com um personagem que, de maneira geral na série, sempre foi indiferente e em muitos momentos soava quase deslocado pela sua pouca participação com a trama principal.
Dito isso – e já entrando em contradição – penso que o episódio alonga demais o prólogo da batalha. Algo em torno de trinta minutos do capítulo é dedicado para a construção do combate, o que para mim passou muito da conta. A dilatação aqui fica ainda pior quando pensamos no contexto geral da temporada, que está entrando no último episódio com muitas pontas soltas e com uma progressão mínima ao longe de quase dez horas de projeção. Com exceção da trama de Rand e companhia, praticamente não tivemos desenvolvimento com o grupo de Mat, para além de uma cantoria e o achado demasiadamente fácil de um artefato; já fazem eras que não vemos a situação na Torre Branca; e quase não vimos dos Amaldiçoados/Abandonados que tanto foram prometidos para essa temporada. Continuo achando o desenho e a estrutura narrativa muito mal pensada, com temporadas que simplesmente andam pouco demais – entendo ser paciente, mas não é o caso aqui, e me preocupo que entraremos em mais um final de temporada que encapsula um monte de coisa, conclui quase nada e deixa o resto para um novo ano que talvez nem se concretize.
Tirando isso um pouco de lado para focar no restante desse episódio, penso que a narrativa flui melhor quando a batalha começa e o ritmo certamente fica mais intenso. Gosto dos cenários, dos poucos efeitos especiais, da maquiagem e do design de produção, no que é um embate entre Dois Rios, Trollocs e Mantos-Brancos que tem seus momentos de entretenimento e até de uma leve emoção, com destaque para o sacrífico de Loial. É tudo bem previsível, cheio de conveniências – o fato da Alanna não ter morrido chega a ser ofensa intelectual – e narrativamente seguro, sem nenhum momento inesquecível, digamos assim, mas tem sim seu valor e que acho injusto classificar como um trabalho ruim. Dito isso, não posso deixar de pontuar alguns problemas que penso que não deixam o episódio ser melhor nesses momentos, começando pela direção limitada de Ciaran Donnelly. Talvez seja questão de orçamento ou até da proposta em um escopo menor dessa batalha, mas o diretor tem um direcionamento visual muito fechado e chapado, explorando pouco os espaços, deixando de aproveitar as possibilidades geográficas e de dar um senso maior de expressividade à batalha – notem como ele usa pouco a floresta, como o desenho dos embates ocorrem em três espaços pequenos (a primeira barricada; o vilarejo; e a entrada do portal) e como sua câmera é quase sempre estática e próxima dos personagens, sem absorver a batalha como um todo. Algumas cenas são muito escuras e alguns cortes ruins, o que também atrapalha a qualidade.
Mesmo relevando algumas dessas escolhas visuais equivocadas, talvez o elemento que mais realmente me incomode seja a falta de uma boa presença antagonista. Os Trollocs, mesmo para sua típica bucha de canhão, são muito genéricos, e Padan Fain, mesmo trazendo ali um conflito dramático sobre traição, não convence. Isso esvai o sentimento de urgência de muitas cenas, valendo ressaltar a pouco importância de alguns coadjuvantes – sério, esse Dain consegue ser mais irritante e infantil? -, no que acaba sendo uma batalha de fantasia comum, que tem sim algum nível de comoção e de diversão estética, mas que não tira o episódio da mediocridade, principalmente quando se leva em consideração o início claudicante. Não quero nem pensar muito no contexto geral da narrativa da temporada, que deve estofar tudo em um season finale Frankenstein em seus 57 núcleos – coitada da montagem… -, mas quem sabe tenhamos algum novo clímax, provavelmente com Rand.
A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 3X07: Olhos-Dourados (Goldeneyes) – EUA, 10 de abril de 2025
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Ciaran Donnelly
Roteiro: Dave Hill (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Natasha O’Keeffe, Laia Costa
Duração: 60 min.