- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
A Sombra da Noite é mais um episódio protocolar desta série que parece ter tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, mas com poucos elementos que realmente chamam a nossa atenção. Entre os diversos núcleos da série, o texto de Rammy Park até que desenvolve razoavelmente bem alguns arcos, prepara alguns ganchos importantes para a reta final da série e borbulha a tensão para o que parece ser um momento definidor sobre Rand, se irá enlouquecer ou não como o Dragão Renascido, mas a sensação de enrolação e de um vai e vem chato me decepcionaram aqui depois da dobradinha promissora que tivemos nos dois últimos capítulos. Não é um episódio de todo ruim, mas, novamente, vou me repetir: a estrutura fragmentada da história simplesmente não está funcionando, apesar da montagem se esforçar bastante para dar algum senso de ritmo; não tanto por causa do conceito de uma história de fantasia de vários núcleos, mas porque alguns blocos não funcionam.
Já quero começar falando mal do núcleo em Tanchico, que com exceção de um momento específico (mais dele à frente), me irritou demais nesse episódio. A forma atrapalhada e estúpida que os personagens se “enturmam” na cidade, com diversas aparições forçadas, como o retorno de Thom, e conveniências bobas, como a terrível saída do roteiro para a descoberta do bracelete – eu fiquei pasmo quando o carinha que o Mat conheceu por dois minutos trouxe o artefato mais importante do episódio de bandeja -, tornaram esse lado narrativo extremamente decepcionante. Não gosto nem um pouco do tratamento narrativo aqui, forçando momentos fofinhos como a cantoria do bar para mascarar uma falta de inteligência e de inspiração para desenvolver uma trama mais orgânica e com um mínimo de cuidado dramático.
O pior é o quanto esse núcleo é longo e arrastado, cheio de cenas descartáveis do grupo se “unindo”, em tese para tornar os personagens mais carismáticos – nossa, como eles tentaram isso com Elayne aqui -, mas que deixam um sabor de inércia, ainda mais quando pensamos que o MELHOR núcleo da temporada sequer aparece no episódio. Estou falando, claro, de Elaida e dos acontecimentos na Torre Branca, que facilmente poderiam ter tido algum destaque no capítulo dessa semana em detrimento dos eventos de Tanchico ou de Dois Rios, outra trama que parece não ir a lugar algum. Sério, tinha até me esquecido da existência de Padan Fain e qualquer aparição dos Mantos Brancos simplesmente não me convence já que os antagonistas secundários nunca ganharam o devido desenvolvimento na obra. Também tenho zero interesse com Perrin e seu arco genérico de protetor da vila ou de Alana e seus melodramas pessoais.
A aparição de Moghedien que salva o encaminhamento da história por aqui, com mais uma atuação notável de Laia Costa em sua psicopatia quase cômica e travessa. A presença dos Abandonados sempre traz um peso para a produção, que muitas das vezes surfa na indiferença. Gosto tanto de Moghedien ao longo de todo o episódio, incluindo no bom e maligno núcleo de Liandrin (aprecio o flashback, apesar da rasa construção de mitologia), quanto da participação de Lanfear, que segue sendo a controladora por trás das cortinas, dando estofo antagonista para o já interessante arco de Egwene, traumatizada e ainda com sede de poder, além de manter Moiraine na linha. Ambas as vilãs têm presença e trazem um necessário sentimento de urgência para o seriado.
Ademais, sigo surpreso com o inusitado crescimento de Josha Stradowski como Rand, com o efetivo protagonista finalmente ganhando contornos de personalidade. A dubiedade sobre seu futuro e as mudanças de humor do personagem criam um atrito que realça o drama (a discussão dele com Egwene é um destaque, aliás, com bons diálogos), adiciona densidade à sua jornada e traz complexidade para o centro da trama. Ainda penso que o episódio se alonga demais aqui e ali, mas é notável o aumento de qualidade desse lado da história, com o desfecho brutal trazendo consequências emocionais corajosas e que melhoram muito o conflito interno de Rand – vale elogiar o trabalho técnico de CGI também, com a canalização continuando como um elemento visual positivo. O clímax, apesar de bom, não salva A Sombra da Noite, um episódio que tem momentos, mas que no todo tem problemas recorrentes da série. Ainda há o que se gostar e o que ficar animado para as próximas semanas, mas arrisco a dizer que a terceira temporada seguirá o eterno morde e assopra narrativo da obra.
A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 3X06: A Sombra da Noite (The Shadow in the Night) – EUA, 03 de abril de 2025
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Marta Cunningham
Roteiro: Rammy Park (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Natasha O’Keeffe, Laia Costa
Duração: 70 min.