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Crítica | A Roda do Tempo – 3X05: Tel’aran’rhiod

Expandindo o universo.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Caramba, como tem coisa acontecendo em Tel’aran’rhiod, o quinto episódio dessa temporada, que leva em seu título o nome do mundo dos sonhos sobreposto ao mundo real e paralelo aos sonhos comuns, onde os personagens podem ser fisicamente feridos ou mortos, como tem acontecido com Egwene. Indo no extremo oposto de O Caminho para a Lança, o roteiro de Ajoke Ibironke faz uma ginástica gigantesca para conseguir abordar o que parece ser vinte núcleos diferentes em apenas um capítulo, tanto para reorganização da narrativa depois de alguns ganchos do início da temporada, como a viagem de Nynaeve, Mat e Elayne ou a passagem no teste de Rand, Aviendha e Moiraine, quanto para movimentar as diversas tramas do seriado, que parece cada vez mais fragmentado. Não gosto dessa abordagem (mais pela falta de controle dos roteiristas do que pelo conceito), preferindo quando a produção tece capítulos mais contidos e focados em determinados blocos.

Dito isso, Tel’aran’rhiod me surpreendeu pelo tom épico, o senso de escopo e a sensação gostosa de estarmos conhecendo o início de uma mitologia rica. Fazia tempo que eu não sentia esse tipo de elemento de jornada e de aventura dentro da adaptação, que há muitos episódios perdeu meu interesse nos meandros desse universo – a falta de um bom trabalho de construção de mundo, como no desenvolvimento de culturas, tradições e detalhes com artefatos, diferentes realidades, etc, que trouxe esse ponto de indiferença. Já no quarto episódio, porém, conseguimos ver uma tentativa de resgatar essa qualidade, com a trajetória por eras de Rand, algo que ganha mais destaque aqui dentro de um texto chamativo para elementos desse universo. Não é, nem de longe, uma reparação dos problemas anteriores ou algo que seja brilhante, mas é um pontapé para o que pode ser um mergulho na mitologia do material de origem com um olhar mais cuidadoso por parte da narrativa.

Vejo isso logo de cara no núcleo de Aiel Waste, que começou estéril, mas que gradualmente tem se mostrado um espaço de mitologia intrigante – por mais expositivo que os diálogos sejam, principalmente daquelas duas “sábias” que explicam tudo para todo mundo -, com destaque nesse episódio para a trajetória de Egwene na dimensão que dá nome ao episódio. Gosto quando a direção flerta com o suspense e até o horror e menos com a ação e o gore, dando maior estofo dramático para alguns arcos. Como venho dizendo há um tempo, a jornada de Egwene tem sido sempre a que mais destaco e a que mais tem maturidade e densidade dramatúrgica, com novos desdobramentos legais aqui, incluindo a revelação da traição de Rand e da perseguição de Lanfear, que continua sendo a melhor antagonista da obra. Dos efeitos especiais, a atuação, até a construção de algumas cenas nesse mundo onírico, temos uma linha narrativa que promete.

Também gostaria de elogiar a trama na Torre Branca. A introdução de Elaida realmente trouxe um tempero para o jogo de interesses e de traições das Aes Sedai e das Ajah Negra, com sua personalidade implacável dando contraste com a falsamente boba Siuan, sem falar que o ataque de Moghedien com seu homem-cinza traz outra camada de perigo, com uma crescente urgência na busca pela traidora – eu voto na Verin. Eu sou caidinho por tramas palacianas, ainda mais com bruxas perversas e sem escrúpulos no centro disso tudo. Ademais, pensei que a saída de Nynaeve, Mat e Elayne atrapalharia esse núcleo (de certa forma, mais uma tangente não ajuda a fluidez narrativa), mas a trama deles é agradável, com a participação de Min trazendo um ponto de conflito, além de ganharmos mais algumas doses de aventura e de mitologia, com o bloco sobre outras formas de canalizar sendo bem bonito – a sequência da fonte sendo usada para guiar o barco é simplesmente maravilhosa e uma das mais belas de toda a série, com destaque, também, para a cena de abertura com Moiraine.

No entanto, os cacoetes de A Roda do Tempo continuam aparecendo. Mesmo com um senso de escopo e de um texto que melhora a construção de mundo, a narrativa picotada tem muitos defeitos, passando pela estrutura cansativa, com falta de foco (o que deixa muitos núcleos superficiais) e até certo ponto confusa, por mais didático que seja o roteiro. A subtrama de Perrin e companhia contra os Mantos Brancos enfatiza esses defeitos, sendo que, confesso, tinha até me esquecido desses preconceituosos, e o encaminhamento dramático ali em Dois Rios continua não chamando minha atenção. Ainda assim, com erros e evoluções tortuosas, Tel’aran’rhiod se encosta nas consequências dos episódios passados para abrir novas portas de aventuras e perigos no que é um capítulo que se atrapalha no clássico “quero fazer muita coisa e acabo fazendo pouco“, mas que, de maneira geral, é divertido, atiça a curiosidade para conhecermos mais desse universo e quem sabe dá base para melhores episódios.

A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 3X05: Tel’aran’rhiod – EUA, 27 de março de 2025
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Marta Cunningham
Roteiro: Ajoke Ibironke (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Natasha O’Keeffe
Duração: 69 min.

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