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Crítica | A Roda do Tempo – 2X06: Olhos Sem Piedade

O terror da submissão.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Em críticas, notas são detalhes, apenas indicativos da percepção geral da produção analisada. O tutano, a parte realmente interessante da leitura do crítico está no texto. Acho importante pontuar isto nesta crítica em especial, porque a nota não reflete completamente como me senti em relação ao episódio, mais especificamente em relação à trama de Egwene, como explicarei abaixo. Se o episódio passado foi caótico e intenso ao tentar fazer coisas demais, Eyes Without Pity foca mais no núcleo em Famel, diminuindo a ginástica entre os diversos blocos da temporada.

No entanto, também é um episódio intenso, ou, melhor dizendo, absolutamente aterrorizante. Grande parte da narrativa se acentua na cela de Egwene, em que Renna, uma sul’dam, tenta submeter a jovem Aes Sedai a se tornar uma damane, que nada mais é do que uma escrava. Quebrando a personagem por meio de tortura psicológica e física, Renna gradualmente destrói o espírito de Egwene ao ponto dela desistir de atacar Renna e se sentir desesperadamente subserviente.

A maneira como Egwene se contorce, os efeitos especiais que visualmente maximizam a dor interna da personagem, o cenário que lembra um canil, os detalhes visuais torturantes (a coleira, o copo de água, o dispositivo ao alcance da prisioneira) e a maquiagem progressivamente mais sangrenta são artifícios tirados de um filme de horror. É sombrio, enervante e incrivelmente desconfortável de assistir o que está acontecendo com a personagem, num excelente e apavorante retrato de submissão. Até os pequenos interlúdios com Ryma contando o que aconteceu com suas irmãs enriquecem a construção de ambientação da cena.

Madeleine Madden nos presenteia com uma atuação estelar, misturando coragem, desespero e raiva de uma forma ímpar, ao passo que a cena desenvolve com esmero a personalidade e o arco dramático de Egwene. Podemos ver sua força, orgulho e impetuosidade a cada nova investida, ao mesmo tempo que seu desejo por poder ganha brilho em seus olhos na ótima sequência da árvore pegando fogo. Xelia Mendes-Jones também dá um show como Renna, caminhando entre uma manipulação sedutora, até estranhamente compassiva em sua face, e uma fúria abusiva que queima na frustração de seus olhos. Renna é, de longe, a melhor antagonista da série até aqui, colocando Ishamael, Lanfear e qualquer outro no chinelo.

Então, por que apenas a nota de “bom”? Bem, porque todo o restante do episódio não funciona para mim. A cena no templo para os amaldiçoados que Alanna e seus guardiões confrontam Lan de trabalhar para o lado sombrio é tão descontextualizada e sem sentido, desaguando em progressões de trama corridas e estranhas, como os personagens rapidamente encontrando Siuan Sanche, que por sua vez já faz uma reunião na casa de Moiraine, e logo depois terminamos o episódio com Lan e companhia confrontando Rand. Narrativamente, tudo pareceu muito estranho e súbito para mim, o que continua levantando receios na forma atrapalhada de se contar uma história que temos visto na série.

Além disso, fiquei extremamente decepcionado com o bloco no mundo dos sonhos. O desfecho do episódio anterior deixa um cliffhanger que cria toda uma expectativa para o encontro entre Rand e Lanfear, mas o momento não ganha nenhum destaque especial, além de manter Rand como o desinteressante papel branco que tem sido, andando pra lá e pra cá sem nenhum desenvolvimento dramático importante. Notem como a cena de “treinamento” do personagem não tem qualquer tipo de efeito narrativo ou como seu encontro com Mat soa desimportante e até anticlimático considerando o tempo de tela que tivemos para a traição de Min e a eventual traição do próprio Mat.

Eyes Without Pity tem a melhor trama de toda a série na minha opinião, capturando nossa atenção, emoção e desespero com o núcleo aterrorizante de Egwene se tornando uma damane. A sequência com Ryma sendo capturada e a revelação da prisioneira ao lado da personagem são os pontos de exclamações necessários para finalizar com perfeição uma história de horror. Estou surpreendentemente animado com os próximos desdobramentos em Famel, apesar de, infelizmente, todo o resto da história continuar medíocre. Ainda assim, porém, talvez com a reunião de todos os jovens de Dois Rios, possivelmente em Famel, a série pode até encontrar um nível de qualidade acima do mediano, me arrisco a dizer.

A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 2X06: Eyes Without Pity (EUA, 22 de setembro de 2023)
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Maja Vrvilo
Roteiro: Rammy Park (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Álvaro Morte, Natasha O’Keeffe, Xelia Mendes-Jones
Duração: 65 min.

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