- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Na crítica de A Filha da Noite deixei claro que o episódio da semana passada parecia indicar uma reviravolta na temporada com a perseguição de Lanfear e o sequestro de Nynaeve e Egwene, saindo um pouco daquela melancolia enfadonha e o ritmo lento dos quatro episódios que abriram o segundo ano, para uma segunda metade de temporada mais intensa e perigosa. Minha afirmação era tanto um indício quanto uma esperança, porque alguma coisa precisava acontecer na série. Bem, muita coisa acontece em Damane, mas é muita coisa mesmo, para bem ou para mal.
Logo no início, somos apresentados a Falme, uma cidade ocupada pelo Império Seanchan. Conhecemos Turak (Daniel Francis), o lorde que comanda esse povo, e aprendemos mais de Suroth (Karima McAdams), a responsável por atacar a vila no terceiro episódio, e a estranha cultura dos Seanchan, que pretendem conquistar o continente antes da Última Batalha. Também é confirmado que Liandrin fez um pacto com Ishamael para salvar seu filho, entregando Nynaeve e Egwene para Suroth; descobrimos que Lanfear pode atacar Moraine e Rand em Tel’aran’rhiod, o mundo dos sonhos; vemos Perrin libertar uma guerreira Aiel chamada Aviendha (Ayoola Smart); e Verin (Meera Syal) chega a Tar Valon para investigar quem é a traidora entre as Aes Sedai.
A quantidade de informação e mitologia bombardeada no espectador não é brincadeira. Não sei se é exatamente um elogio, considerando que a qualidade desse episódio é fruto de uma temporada devagar, mas nossa, como é agradável ver a história fluindo, os personagens se movimentando, vilões surgindo e a aventura efetivamente acontecendo. Só por conta disso já é meu episódio favorito da temporada, o que não diz muito, claro, mas que pelo menos deixa de lado a monotonia e indica que os próximos capítulos terão muita atividade e desenrolar de eventos. A questão é: a terapia agora é substituída pelo caos da maneira mais abrupta possível.
Por um lado, isso é um exemplo claro de narrativa mal elaborada. Depois de quatro episódios em que pouquíssimo acontece, somos mergulhados num despejo violento de novos elementos e progressões de trama mal calculadas, com tudo acontecendo muito rápido, de forma arbitrária e sem envolvimento no universo. A mitologia é dada, atirada em nossa cara, e não gradualmente arquitetada enquanto descobrimos sobre esse mundo e nos interessamos nele. É wordbuilding feito do jeito errado. Pode ser contraditório que, depois de reclamar de lentidão, agora esteja criticando a correria da história, mas não é minha culpa que a temporada começou uma carroça e agora engataram a quinta marcha sem freios.
No entanto, por outro lado, é bacana conhecer mais desse universo, ver o mundo expandir e notar algum senso de escopo na história dos jovens de Dois Rios. Começando por Falme, é notável a qualidade do design de produção e do cenário em locação, criando uma cidade de tirar o fôlego, com figurinos fantásticos e ótima ambientação. É fantasia ganhando vida, assim como na adaptação interessante do mundo dos sonhos, meio surrealista e meio aterrorizante nas mãos de Lanfear (o cliffhanger é ótimo, aliás). O bloco de Perrin é totalmente confuso, mas existe carisma entre o personagem e Aviendha, bem como algumas cenas de luta alvoroçadas.
Particularmente, gostei bastante da dinâmica entre os vilões. Ishamael e Lanfear tem ideais diferentes; a maioria dos antagonistas não se bicam, como Suroth e Liandrin, ou Turak e também Suroth; e, em suma, vemos motivações e interesses diferentes que aprofundam os vilões e deixam a batalha contra o mal menos genérica, se ainda maniqueísta. Também temos um desenvolvimento dramático com Moiraine, algumas camadas de intriga na Torre Branca e até o saco de vento do Rand recebeu um desenvolvimento interessante em sua conexão com Lanfear de uma vida passada.
Podem ficar tranquilos que não estou me enganando e pensando que a série vai ter um boost de qualidade. Esse episódio é bagunçado, confuso, atrapalhado e tenta fazer um milhão de coisas para compensar a falta de progressão do início da temporada, algo que certamente irá desaguar num desfecho descarrilhado. Já me conformei com os defeitos e o teto narrativo da obra, resignada a ser uma colagem genérica de tantas outras fantasias. Mas olha, se for para ver algo legalzinho e esquecível, prefiro infinitamente mais esse caos divertido, levemente intenso e visualmente engajante que Damane oferece do que aquela morte lenta que é o início da temporada.
A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 2X05: Damane (EUA, 15 de setembro de 2023)
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Maja Vrvilo
Roteiro: Rohit Kumar (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Álvaro Morte, Natasha O’Keeffe
Duração: 65 min.