- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.
Mais um episódio de A Roda do Tempo, mais enrolação narrativa. É difícil entender uma série que, pelo bem ou pelo mal, começou alucinante, cair nesse tipo de progressão cansada e que parece não nos levar para lugar algum. Depois do episódio anterior ser hermeticamente focado em Stepin, A Chama de Tar Valon muda a atenção para Moiraine e as intrigas das Aes Sedai na Torre Branca. E intrigas é basicamente um exagero, pois há raros momentos verdadeiramente intrigantes nesse drama de novelinha boba das feiticeiras. Repito o que disse nos capítulos anteriores: esta série não funciona com a narrativa entre quatro paredes, dilatada em diálogos desinteressantes e conspirações triviais.
Seria isto um complexo do sucesso de Game of Thrones? E digo as séries, não os livros – até porque a abordagem de Rafe Judkins está bem diferente do material literário de Robert Jordan. A Roda do Tempo é mais uma fantasia familiar do que política, então não consigo entender o que Judkins está querendo conquistar aqui. A quantidade de momentos vazios e descartáveis desse episódio são um total absurdo, como a cena da banheira entre Moiraine e outra Aes Sedai azul ou então as longas sequências de julgamento. Judkins realmente precisa de uma aula sobre economia narrativa, porque nada justifica o exílio de Moiraine durar um episódio inteiro. Ainda mais porque não havia qualquer mistério no desfecho do julgamento ou suspense no jogo político para manter nossa atenção engajada. Eu fico me lembrando do quanto elogiei a montagem em O Dragão Renascido e o começo de uma jornada épica com diferentes núcleos. Por que aquilo não foi estendido, trabalhado e focado como uma série de aventura? Não saberia responder.
Atualmente, não consigo delinear o enredo. Os episódios agora irão focar em um personagem singular com o resto da história orbitando esse drama sem desenvolvimento? Por causa disso, os dois últimos episódios não avançam a trama macro em absolutamente nada. E pior, o fazem em custo dos arcos dos jovens de Dois Rios, que, em tese, deveriam ser os personagens mais interessantes da série. Para fazer uma analogia bem pobre, imaginem só se Dumbledore tivesse mais tempo de tela do que Harry Potter, Hermione e Ron, ou então se os Hobbits da Terra-média raramente aparecessem nos filmes. É meio que meu sentimento com os possíveis dragões da série.
É uma sensação muito grande de indiferença. O episódio fecha com eles de frente a um portal negro, e, como espectador, não há um instante de temor ou de excitação com a aventura. Para mim, isso é resultado de duas péssimas escolhas narrativas. Primeiro, a falta de tempo para resoluções dramáticas dos jovens. Notem como os três primeiros episódios fazem todo um desenvolvimento do relacionamento entre Rand e Egwene, e seu encontro dura apenas alguns segundos nesse episódio. Ou então como houve todo um andamento narrativo da doença do Mat, e, da mesma forma, a situação é resolvida com facilidade e de maneira anticlimática. Os atores juvenis já não são lá tão bons, e se o roteiro não se importa com eles, em criar momentos especiais e situações de perigo, fica tudo pior no campo da empatia. Uma obra de fantasia e aventura com protagonistas desimportantes está condenada ao fracasso.
E eu não acho que seja algo tão difícil de ser feito, no mínimo de maneira razoável. Os poucos momentos que tivemos com Nynaeve no quarto episódio e do drama de Perrin com a morte de sua esposa já foram suficientes para fazê-los se destacarem. Mas não, Judkins parece achar que está criando o suprassumo da fantasia com esses dramas arrastados de personagens coadjuvantes e a maneira burocrática que ele tem movimentado a trama nos dois últimos episódios. O que me leva ao segundo problema: antagonismo. A série carece de um perigo para dar impulso narrativo, algo que existia com a violência na trinca inicial e também com Logain no quarto episódio. Aliás, continuo achando que o falso Dragão é o maior destaque da temporada, com sua loucura e seus “demônios” oferecendo um dos raros momentos de urgência na série. Uma das poucas sequências que gostei neste episódio foi justamente sua cena no tribunal das Aes Sedai.
A Chama de Tar Valon consegue ser ainda mais chato que o episódio anterior. No quinto capítulo, pelo menos havia um drama de luto emocionante para assistir. Aqui, a jornada pessoal de Moiraine parece ser uma obrigação de dar mais tempo de tela para a estrela de Rosamund Pike, uma justificativa melhor do que acreditar que Judkins deliberadamente gastou 1 hora para chegarmos no exílio da personagem, sem qualquer avanço narrativo substancial para a trama macro ou desenvolvimento de outros personagens. Um drama político fútil, várias conversações enroladas e insignificantes e totalmente sem urgência, A Roda do Tempo parece refletir o personagem de Rand ao longo da série: total indiferença. Para não dizer que é um capítulo totalmente ruim, eu gostei da cenografia e das paisagens naturais, assim como a apresentação da Siuan Sanche (Sophie Okonedo) e seu relacionamento com a Moiraine. Mas as pouquíssimas qualidades não estão nem perto de tirar o gosto banal dessa experiência que não gira (he, he).
A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 1X06: A Chama de Tar Valon (EUA, 10 de dezembro de 2021)
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Salli Richardson-Whitfield
Roteiro: Rafe Judkins, Celine Song, The Clarkson Twins, Justine Juel Gillmer (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Barney Harris, Madeleine Madden, Daniel Henney, Helena Westerman, Michael McElhatton, Alexandre Willaume, Álvaro Morte, Peter Franzén, Clare Perkins, Hammed Animashaun, Sophie Okonedo
Duração: 62 min.