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Crítica | A Queda (2022)

Um filme sobre a burrice humana.

por Ritter Fan
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Eu simplesmente adoro filmes pequenos com elenco menor ainda que abordam, fundamentalmente, a estupidez humana, com protagonistas que merecem os cobiçados Darwin Awards. São, quase que sem muito esforço, obras tensas e ao mesmo tempo divertidas demais como 127 Horas e Águas Rasas que se refestelam em um mar de clichês e tropos narrativos e que normalmente lidam com personagens angustiados, procurando uma direção na vida, tendo que enfrentar situações que eles infligem neles mesmos.

Eu sua concepção original, A Queda não era só um filme pequeno em orçamento, mas também em duração, pois ele foi imaginado como um curta-metragem que o diretor e co-roteirista Scott Mann concebeu enquanto filmava algumas cenas nas alturas de Refém do Jogo, de 2018. No entanto, o caminho seguido acabou sendo de um longa tradicional mesmo e filmado não apenas com chromakey, mas, também, com a reprodução de parte da torre de TV que a dupla protagonista escala no topo de uma montanha de forma a criar a necessária sensação de vertigem. Depois que o filme foi comprado para distribuição pela Lionsgate, a obra curiosamente passou por uma “refilmagem digital”, digamos assim, em que todos os palavrões que garantiriam uma avaliação R pela MPAA, foram retirados via deepfake e substituídos por um palavreado mais leve, o que em nada parece ter prejudicado a efetividade da fita.

Aliás, a efetividade da obra está em sua premissa e o quanto as tomadas vertiginosas durante a escalada convencem o espectador e, nesse quesito, tenho para mim que a obra é excelente. Em termos de premissa, a figura angustiada da vez é Becky (Grace Caroline Currey, a Mary Bromfield, de Shazam! e a Mary/Mary Marvel de Shazam! Fúria dos Deuses) que, em um preâmbulo, perde seu marido Dan (Mason Gooding em uma ponta) em uma escalada e entra em uma espiral depressiva de bebida, pílulas e afastamento do convívio social por quase um ano, apesar dos esforços de seu pai James (Jeffrey Dean Morgan em outra ponta) de fazê-la viver sua vida novamente. Somente sua melhor amiga Shiloh Hunter (Virginia Gardner), que estava no acidente, mas que, diferente de Becky, enfrentou o trauma tornando-se uma Youtuber de esportes radicais, é finalmente capaz de retirá-la da reclusão, convencendo a subir a tal torre de TV no meio do deserto que, em breve, será desmontada. Ou seja, não só há o perigo em si da escalada, como a torre está caindo aos pedaços e as duas, obviamente, não avisam a ninguém para aonde estão indo.

O roteiro chega a ser hilário pela maneira como ele, logo de início, telegrafa da maneira mais óbvia e direta possível, tudo – absolutamente tudo – o que acontecerá ao longo da escalada e qualquer espectador que estiver minimamente prestando atenção poderá, com 15 minutos de projeção, estabelecer exatamente os detalhes de tudo o que ocorrerá. Mas, como eu já disse um milhão de vezes, previsibilidade não é o problema, ainda que seja cansativa a maneira bobalhona como cada elemento é efetivamente colocando em cena para que, depois, seja útil mais adiante. O que interessa realmente, no final das contas, é o quanto A Queda é capaz de convencer o espectador que Becky e Shiloh estão mesmo escalando os mais de 600 metros do que parece ser, à distância, um agulha de metal enferrujado no meio do deserto.

E a direção de Mann consegue ser convincente mesmo quando, aqui e ali, os truques de câmera e os inevitáveis efeitos especiais tornam-se mais óbvios. No geral, A Queda causará vertigem e aflição aos que forem mais suscetíveis a isso ou tiverem medo de altura ou mesmo aqueles que forem mais fortes, mas souberem entrar na brincadeira. A relação antitética de Becky – a medrosa, mas que não desiste facilmente – e Shiloh – a corajosa a ponto de ser irresponsável – é maniqueísta até não poder mais, só que, para a proposta da obra, isso é tudo o que é necessário para a dinâmica funcionar. Há a obrigatória reviravolta surpresa até – que, de novo, só é surpresa para quem, por acaso, dormir na projeção – que o diretor maneja muito bem e que funciona dentro da lógica estabelecida que é, com mencionei no começo, a de superação de um trauma.

A Queda é uma divertida bobagem que, em um mundo em que as pessoas fazem basicamente de tudo por uma “selfie radical“, nem é tão bobagem assim. Com sequências nas alturas de literalmente tirar o fôlego e um eficiente trabalho de construção de tensão mesmo que o roteiro ofereça um detalhado mapa do que ocorrerá logo nos primeiros minutos de projeção, o filme consegue ser mais um bom exemplar do sempre bem-vindo gênero cinematográfico conhecido como “humanos burros fazendo burrices”.

A Queda (Fall – EUA/Reino Unido, 2022)
Direção: Scott Mann
Roteiro: Jonathan Frank, Scott Mann
Elenco: Grace Caroline Currey, Virginia Gardner, Mason Gooding, Jeffrey Dean Morgan
Duração: 107 min.

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