John Flynn não é, definitivamente, um nome muito lembrado em Hollywood, mas sua curta filmografia de apenas 16 longas, cinco deles feitos para a TV, é marcada por uma crueza por vezes fascinante e que, talvez, tenha nascido com seu terceiro trabalho, A Quadrilha, adaptação do terceiro romance protagonizado pelo frio ladrão Parker, criado por Donald E. Westlake quando escrevia sob o nom de plume Richard Stark. O estilo do diretor dialoga muito bem com o material base, que é seco, sem firulas e direto na retratação de seu protagonista e suas ações que normalmente envolvem atos que gravitam ao redor do conceito de vingança.
No longa, Robert Duvall, no ano seguinte que viveu Tom Hagen, em O Poderoso Chefão, interpreta Earl Macklin (Parker) que, depois de sair da prisão em uma sequência muito parecida com a do começo de Os Implacáveis certamente em razão do trabalho não creditado de Walter Hill ajudando Flynn no roteiro, passa a ser caçado pela Quadrilha/Outfit do título, que é o nome dado ao crime organizado no universo de Parker, pelo fato de ele e outros terem roubado um banco que pertencia à organização. O início do longa já contém a marca da violência da entidade, com a execução de Eddie, irmão de Earl, em uma sequência enervante pela forma como a direção de Flynn a conduz, sempre mantendo a ação distante, silenciosa, mas muito eficiente.
O que segue daí é Macklin reunindo-se com seu colega Cody (o grandalhão simpático Joe Don Baker), que também participara no roubo e tem sua vida ameaçada, para exigir reparação financeira da organização, usando como instrumento de barganha a habilidade deles em minar as atividades do crime organizado local com ações cada vez mais ousadas que os levam a degraus mais altos na hierarquia da organização. É a boa e velha estratégia de destruir tudo até que o que está sendo exigido seja entregue, algo que marca os livros da série Parker e, também, praticamente todos os filmes baseados neles.
O que diferencia A Quadrilha, porém, é Duvall no protagonismo como um homem mais velho, sábio e capaz de revelar-se uma ameaça crível apenas com sua presença imponente. Ele usa de violência, claro, mas sempre de maneira impassível, direta, eficiente e, quando necessário, mortal, sem falar muito e sem manifestar sentimentos ou fazer uso de mais palavras do que o estritamente necessário. De certa maneira, lá de longe, é possível ver, em seu Earl Macklin, um proto-Terminator que, com uma missão a cumprir, não se desvia de seu caminho em hipótese alguma e age de maneira econômica e direta. Don Baker, por seu turno, em razão de seu jeito naturalmente bonachão, mas não menos duração, funciona como uma espécie de antítese bem-vinda para Duvall, o que estabelece de imediato uma dinâmica naturalmente fluida entre os dois.
Assim como Macklin, o filme é básico e parcimonioso em ritmo e em sequências de ação, quase que científico, com Flynn prezando muito pelo realismo ditado pela lógica da narrativa, ou seja, mantendo a invencibilidade e eficiência do protagonista, mas sem sacrificar verossimilhança no processo. O ritmo é, especialmente para os padrões atuais completamente frenéticos e infelizmente vazios, lento, mas sempre cadenciado, com um crescendo natural na violência empregada por Macklin contra seus inimigos e vice-versa, com diversas sequências que são, basicamente, repetições das anteriores, só que acrescentando um ou outro elemento novo apenas, até que o grande momento da invasão da mansão do “poderoso chefão” acontece e o diretor, então, solta os freios quase que completamente.
A Quadrilha não tem interesse em desenvolvimento de personagens ou em romancear o crime. John Flynn usa a crueza e a enganosa simplicidade de sua direção para contar uma história atemporal de vingança que funciona muito bem exatamente por não tentar reinventar a roda ou inserir elementos fantasiosos para confeitar o bolo. Earl Macklin quer seu dinheiro e nada o parará até consegui-lo ou até que aqueles que ele percebe como seus devedores estejam mortos. E é exatamente isso que Flynn entrega ao espectador.
A Quadrilha (The Outfit – EUA, 1973)
Direção: John Flynn
Roteiro: John Flynn (baseado em romance de Donald E. Westlake escrevendo como Richard Stark)
Elenco: Robert Duvall, Karen Black, Joe Don Baker, Robert Ryan, Timothy Carey, Richard Jaeckel, Sheree North, Felice Orlandi, Marie Windsor, Jane Greer, Henry Jones, Joanna Cassidy, Elisha Cook
Duração: 103 min.