Desconfortante.
O problema desse filme, dirigido e roteirizado por Atom Egoyan, começa por não se encaixar no que se espera de um thriller. Desde as primeiras cenas o espectador sabe o que aconteceu com a menina sequestrada e pode muito bem prever como a trama vai terminar, esvaindo qualquer possibilidade de engajar o público a partir daí. Mas o incômodo é ainda realçado com os “quebra-cabeças” temporais de ida e vinda a todo corte de cena com o acúmulo dos anos de tensão matrimonial dos pais da garota — explorada de forma bastante apática.
Era de se esperar que a abordagem de um tema que causa tantas reações aflitivas, como é o caso da pedofilia, fosse conseguir transbordar da tela e levar a fita ao status de trama emblemática, mas Egoyan estaciona longe disso. O desespero e culpa do pai, interpretado por Ryan Reynolds, ficam elastecidos por conta da falta de firmeza e explosão reativas, é como se o personagem não tivesse acesso aos conflitos internos que advém de uma situação de terror e grito emudecido. O diretor falha em se aprofundar nas emoções das personagens e apela para um lugar comum e cinzento.
Até mesmo o vilão é apagado. Não existe nenhum aspecto dele que cause impacto irremediável, nada que cause a menor vontade de entender como a mente perturbada dele funciona e como fazer para solucionar o crime. Ao contrário, o único impulso é a repulsa pelo tipo de papel que ele desempenha na história. Mas mesmo isso fica inerte, porque não é explorada a sensação de perigo, repressão e vontade de escapar por parte da menina.
A neve eterna também não ajuda para marcar o passar do tempo e fica visível uma possível tentativa de prender as personagens no evento, como uma forma de mostrar que eles não conseguiram progredir e estão confinados junto com a menina àquele dia do sequestro. Mas isso não ajuda a construir a história de maneira coerente porque faltam elementos que dão certo. É quase como se o filme todo fosse uma grande tentativa, que infelizmente perdeu o fôlego para ir até o outro lado e voltar. E a falta de um momento intenso mantém o filme raso e o que é pior a história não consegue se vender como crível.
O cúmulo da inconsistência é a cena em que o pai reencontra com a filha porque o sequestrador quer a felicidade da menina. E continua em outros momentos. Quando o pai se depara frente à frente com o homem responsável por tudo junto com a comparsa e consegue ter sangue frio para olhar nos olhos deles e continuar fingindo uma conversa louca e despretensiosa — enquanto os espertos vilões não tomam nenhuma iniciativa e continuam normalmente a conversar — é o maior exemplo de um roteiro mal executado. Quem pararia para assistir um vídeo que fala sobre a menina que eles sequestraram em um restaurante? É absurda a falta de propósito.
Assim, reparar nas incongruências toma grande parte da atenção do espectador. Durante os 112 minutos a história permanece sem clímax e deixa uma marca de incomodo latente pela falta de estruturação. O filme mantém um ritmo lento e o papel dos policiais, interpretados respectivamente por Rosario Dawson e Scott Speedman, parece ser mostrar toda a ineficiência e arrogância do sistema e também ali cabe o absurdo de ter uma policial que se expõe a toa e mantém um relacionamento com um colega instável — história que também não é desenvolvida. O que resta é procurar o thriller dentro deste longa-metragem.
À Procura (The Captive, Canada, 2014)
Direção: Atom Egoyan
Roteiro: Atom Egoyan e David Fraser
Elenco: Ryan Reynolds, Scott Speedman, Rosario Dawson, Kevin Durand, Mireille Enos, Alexia Fast, Peyton Kennedy, Bruce Greenwood, Brendan Gall, Aaron Poole, Jason Blicker, Aidan Shipley
Duração: 112 min.