Home Diversos Crítica | A Prisão do Tempo (Perry Rhodan #64), de Clark Darlton

Crítica | A Prisão do Tempo (Perry Rhodan #64), de Clark Darlton

Matemática e física demais pro meu gosto.

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 2: Atlan e Árcon — Episódio: 64/99
Principais personagens: Marcel Rous, André Noir, Fritz Steiner, Ivã Ragow, Fred Harras, Josua
Espaço: Planeta Tats-Tor e Universo Druuf
Tempo: Janeiro de 2041

Clark Darlton inicia A Prisão do Tempo com uma promessa instigante: acompanhar a tripulação liderada por Marcel Rous ao planeta Tats-Tor (um movimentado centro comercial interestelar), onde a diversidade de espécies e as transações econômicas são descritas com muita riqueza e marcadas por cenas divertidas, de valorização da fusão de culturas no local, algo que me lembrou muitos cenários de Valérian & Laureline. O autor constrói com habilidade um ambiente que mescla exotismo e familiaridade, e sobre este ponto, preciso destacar a cena em que Ragow descobre uma navalha terrestre numa loja. A descrição das funções do objeto são ótimas, trazendo um momento que vai além do humor, fazendo o leitor questionar como artefatos cotidianos podem se tornar relíquias enigmáticas em futuros distantes. Esse início de livro, repleto de ironia e cenas de ação mais contida, cria uma falsa expectativa, já que a obra caminhará, majoritariamente, para um cenário sem graça (comparado ao do espaçoporto) e por uma abordagem tão técnica que afasta muitos leitores — bem… talvez não os que gostam muito de matemática e física.

As coisas começam a mudar quando a equipe do Império Solar alerta o administrador local sobre a catástrofe que eles foram investigar: uma fronteira dimensional que suga toda a matéria orgânica para um Universo onde o tempo flui 72.000 vezes mais devagar. A recusa do administrador em acreditar nos terráqueos, seguida pelo caos da invasão dos invisíveis, poderia construir uma narrativa eletrizante, mas o texto logo se enreda em explicações técnicas, com a equipe do Império Solar se perdendo no Universo Druuf e mudando totalmente o tom do livro. A narrativa, antes pautada por diálogos ágeis e descobertas intuitivas, vira uma enxurrada de cálculos físicos e especulações temporais, matemáticas e mais um zilhão de áreas das Ciências Exatas que me fizeram bocejar bastante. Enquanto a petrificação da matéria orgânica e a cristalização de gotas de chuva são imagens bacanas de acompanhar, nessa fase, a insistência em detalhes sobre velocidade relativa e resistência do ar esvazia o ritmo e distancia o leitor dos personagens, antes carismáticos.

A aparição dos nativos lagartoides foi uma agradável surpresa, e me diverti acompanhando a jornada dos terranos pelo planeta, desvendando os mistérios de seu funcionamento. Contudo, a transição para o bloco em que alguns nativos aparecem numa nave equipada com câmeras especiais e armamentos para enfrentar seus “inimigos” me pareceu mal estruturada. Essa passagem abrupta perde a chance de aprofundar a singularidade dessa civilização, que poderia oferecer uma perspectiva muito mais rica do que as repetitivas descrições de antigravitacionais, esferas de energia, cálculos de movimento, peso, pressão e outros detalhes técnicos. A narrativa recupera o rumo próximo à descoberta do girino K-7, criando um momento de reconexão dramática e tensão que já prenuncia o desfecho do livro. A adaptação dos petrificados ao tempo terrestre via “método Jagow” reintroduz a inventividade prática que caracteriza a melhor faceta da série Perry Rhodan, enquanto o pedido cego de ajuda à Terra reacende a esperança de um desfecho favorável (embora não imediato) para os perdidos.

Como parte do grande ciclo Via Láctea, o livro cumpre seu papel de expandir o universo da série, introduzindo conceitos que ecoarão em episódios futuros. No entanto, como obra autônoma, padece de uma divisão desigual entre ambição e execução. A dualidade tempo/espaço é aqui tanto cenário quanto obstáculo: se o autor consegue criar imagens de rara beleza (como a chuva cristalizada ou o raio parado no ar), não consegue passar de blocos dramáticos de maneira fluída e desperdiça um bom tempo com diálogos técnicos que pouco (ou nada) acrescentam ao drama central. O bom é que as melhores partes se sobressaem e conseguem, ao menos, deixar a obra acima da média. É bem mais do que eu esperava, para um livro tão cheio de teorias exatas. 

Perry Rhodan – Livro 64: A Prisão do Tempo (Im Zeit-Gefängnis) — Alemanha, 23 de novembro de 1962
Autor: Clark Darlton
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1977)
171 páginas

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