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Crítica | A Primeira Profecia

O surgimento do mal.

por Felipe Oliveira
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É de praxe em Hollywood a prática de revisitar alguns títulos, seja em forma de remake ou reboot, o que torna engraçado a tendência dos requels ser vista como se tivesse achado a maneira ideal de manter várias histórias vivas como um legado, enquanto é só outro meio encontrado, uma ótica diferente para produzir sequências. O que bem, quando não se tinha remake, reboot ou continuação, o prequel era a alternativa para a falta da criatividade dos estúdios, nisso, a escolha de investir numa prequela de A Profecia depois de uma regravação em 2006 e uma série de TV em 2016 – cancelada ainda na primeira temporada -, não se mostrou atraente tendo em vista o forro dos requels pronto para ser usado e capturar uma atenção maior de um público que está mais suscetível aos elementos da termologia, que utiliza de uma brecha qualquer original para promover uma sequência-legado.

Talvez, o argumento trazido para The First Omen seja semelhante ao que Lee Cronin propôs em Evil Dead Rise, evitando os cacoetes da nostalgia e inserindo uma abordagem que permitisse continuar a história original por caminhos diferentes. Isso é possível de perceber em como  Arkasha Stevenson aproveita durante o longa cenas marcantes da obra de David Seltzer, estendendo suas referências com sequências mais inspiradas, principalmente no que diz respeito ao visual. Um exemplo notório é a assombrosa morte do padre Brennan (Patrick Troughton) recebendo um aceno na abertura, mergulhado em um plano fechado em câmera lenta e a trilha estonteante de Mark Korven. Embora a sequência inicial seja familiar a uma parcela do público, abrir o filme com outra versão não foi só pela demonstração macabra e sim que a diretora estreante nas telonas estava confiante em trazer sua visão ao conto clássico do nascimento do Anticristo. Mesmo a trama de Seltzer sendo tão amarrada em mitologia, o ponto chave de The First Omen foi em mudar para um foco ainda não explorado: o passado da figura materna, mãe de Damien.

Nesse sentido, os memoráveis episódios do pequeno Damien espalhando caos se tornam meras referências nostálgicas nas mãos de Stevenson uma vez que o longa se beneficia de outras inspirações do cinema do horror ao falar sobre maternidade, aborto e corpo feminino. Ainda assim, as referências são bem utilizadas por exemplificar como o filme consegue ser uma exceção na atual safra de Hollywood de modernizar o clássico enquanto presta homenagens, assim, A Primeira Profecia se volta para uma fase em que apresentar uma história se mostra eficiente pelo que está contando e não ser apenas mais um capítulo de uma franquia desgastada. E toda vez que se fala de gravidez e encarnação do mal é fácil direcionar os créditos para quem começou essa subcategoria: O Bebê de Rosemary. Mesmo reconhecendo e referenciando o longa de Polanski, Stevenson é firme em entregar uma nova perspectiva, feminina, para uma mitologia que falhou por quatro vezes contar uma história sobre o nascimento e ascensão do Anticristo.

Enquanto o ato final do filme se fez seu momento mais previsível pela busca de reviravoltas, é interessante como Stevenson tornava o óbvio um atmosférico e empolgante elemento visual. Assim como na cena inicial era evidente o uso de planos fechados, The First Omen é certeiro quanto ao inserir jumpscares junto a uma transição de cenas, trilha imersiva e um jogo de enquadramentos e movimentos que aproveita o cenário de Roma setentista. Se Rosemary’s Baby é a citação mais direta, o longa não deixa de prestar tributo a nomes como O Exorcista e beirar uma performance de Neil Tiger Free inspirada em Isabelle Adjani no francês Possessão, além de servir a suas personagens paralelos ao nunsploitation, subgênero que marcou o cinema na década de 70. Stevenson prova seu domínio autoral e criativo além da composição de imagens ao trazer para o debate tópicos como sexualidade, abordo e repressão religiosa.

Embora The First Omen seja eficiente em oferecer uma leitura distinta a um clássico consagrado, se divide entre um encerramento anticlimático que deseja dar continuidade para esse novo prisma feminino que não se rende em satisfazer com homenagens mas que também quer fazer parte do anseio de Hollywood de produzir sequências. O resultado final pode não ter sido tão chocante quanto Imaculada ou bem amarrado como A Morte do Demônio: A Ascensão, mas apresentou um longa habilidoso não visto há muito tempo quando o assunto é uma prequela, e o melhor, deixa o Anticristo em segundo plano.

A Primeira Profecia (The First Omen – EUA, 2024)
Direção: Arkasha Stevenson
Roteiro: Arkasha Stevenson, Tim Smith, Keith Thomas (story by Ben Jacoby baseado em personagens de David Seltzer)
Elenco: Nell Tiger Free, Ralph Ineson, Sonia Braga, Tawfeek Barhom, Maria Caballero, Charles Dance, Bill Nighy, Nicole Sorace, Ishtar Currie-Wilson, Andrea Arcangeli, Anton Alexander
Duração: 119 min.

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