Há algumas regras básicas no campo da produção cinematográfica para as sequências prévias e A Pequena Sereia obedecia a todos os argumentos possíveis para o surgimento das origens de sua protagonista Ariel. Primeiro, o filme de 1989 já tinha contado uma história com conteúdo suficiente, sem necessidade de continuações que explorassem o mais do mesmo. A sua parte 2 não trouxe quase nada de interessante para o universo, sendo a história de Melody, filha de Ariel e Eric, muito pobre em comparação ao antecessor, sucesso de crítica e bilheteria que reacendeu as chamas da Disney no campo do mercado, antes pequenas brasas sem a devida expressividade, deslocada das demandas de sua época, colecionada de sucessos antigos. Diante deste cenário, os produtores não investiram numa continuação, mas numa prequel, estratégia que buscou se aprofundar nas origens de Ariel, antes de conhecer o seu príncipe e se tornar humana.
Lançado direto no mercado de vídeo e exibido em alguns canais da TV, A Pequena Sereia – A História de Ariel é uma narrativa de 78 minutos dirigida por Peggy Holmes, realizadora que toma como base, o roteiro de Jule Selbo, Evan Spiliotopoulos e Robert Reece, dramaturgos que se inspiram no universo cinematográfico baseado no conto de Hans Christian Andersen. Agora, acompanhamos a saga de Ariel em prol da liberdade de expressão em seu reino. Somos apresentados, primeiro, aos fatos. Certo dia, o Rei Tritão, governador dos mares, presentou a sua Rainha Athena com uma linda caixinha de música. Num determinado momento de comemoração, um navio pirata promove o acidente que ceifa a vida da rainha do reino. Com a situação de luto, o rei adentra num regime de severidade e proíbe qualquer manifestação musical na região. Apoiado pela governante Marina, a antagonista da história, ele governa o local com mão de ferro e postura irredutível quando o assunto é a arte da composição e do som. Proibição total.
Assim, Ariel começa a frequentar um clube secreto de música, comandado por Sebastião, o caranguejo que é o braço direito de seu pai. Ela visita o espaço com as irmãs, onde se diverte em muitas ocasiões, até que um dia o rei descobre a situação, por intermédio da fofoca de Marina, desejosa do cargo ocupado pelo Sebastião. O resultado disso é um ataque de fúria que destrói tudo e provoca o confinamento de suas filhas desobedientes. Indignada, Ariel foge com o caranguejo e Linguado, numa travessia em busca de mudanças para aliviar a carga do coração de seu pai, um homem, no fundo, bom, mas acometido pelas péssimas lembranças. Enquanto a jovem parte em busca de novas experiências, Marina Del Rey, a vilã pouco inspirada da trama de A Pequena Sereia – A História de Ariel, faz a festa e tenta se garantir num posto que não é e no desfecho feliz da história, acabará não sendo seu. Acompanharemos essa saga com a trilha sonora de James Dooley e o design de produção cuidadoso de Tony Pulham.
Mais uma vez, Jodi Benson assume a voz da sereia protagonista. Samuel E. Wright é o dono da voz de Sebastião, Jim Cummings é o tritão e a veterana Sally Field é quem dubla a antagonista da história, uma versão pobre de Úrsula, a bruxa do filme de 1989. O grande problema de A Pequena Sereia – A História de Ariel é a motivação pueril da antagonista, longe dos conflitos que mesmo numa animação direcionada ao público infantil, pede o desenvolvimento de uma trajetória dramática um pouco mais encorpada. Ademais, apesar da condução um pouco monótona, exigente de nós, espectadores, indivíduos pacientes diante dos quase 80 minutos que custam passar, a produção é menos desinteressante que o segundo filme, como já mencionado anteriormente, equivocado e com pouquíssima contribuição para o universo das traduções intersemióticas do legado deixado pelo conto do escritor Hans Christian Andersen. Em suma, uma animação bonitinha, mas ordinária e torpe, possível de ser assistida sem ficar demasiadamente incomodado, mas nada memorável.
A Pequena Sereia: A História de Ariel (The Little Mermaid: Ariel’s Beginning) — EUA, 2008
Direção: Peggy Holmes
Roteiro: Robert Reece, Evan Spiliotopoulos
Elenco: Jodi Benson, Samuel E. Wright, Jim Cummings, Sally Field, Parker Goris, Tara Strong, Jennifer Hale, Grey Griffin
Duração: 77 min.