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Crítica | A Pequena Sereia (2023)

Encanto efeito água.

por Felipe Oliveira
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Esse não seria o primeiro filme live-action adaptando o conto de Hans Christian Andersen, mas existe um viés quando a Disney decide transformar uma das versões mais famosas da história da pequena sereia, a animação lançada em 1989, em um filme. Ao contrário de atualizar seu acervo clássico com novas técnicas de animação, a casa do Mickey tem focado em produções que misturam live-action e CGI mantendo a trama-base para o público saudosista a medida que adiciona novos elementos, o que faz o filme ser maior em duração, “no desenvolvimento dos personagens“… nisso, o estúdio também aproveita para compensar, nessa leva de “reimaginações“, aspectos conservadores dos seus clássicos, enquanto promete para o antigo público uma forma de elevar a emoção do clássico de suas infâncias.

Na teoria, a síntese disso é tentadora, mas o que há demais em transformar uma animação em live-action com elementos realistas? Seria a emoção de ver uma adaptação para o “real” com detalhes – como a dublagem – que somam a experiência saudosista de rever o clássico de outro jeito? A animação subaquática agora pode ser vista por um filtro azul tão sombrio que às vezes torna o mergulho em efeitos especiais quase imperceptível, mas superficial o suficiente para observar olhos lacrimejando embaixo d’água ou a maquiagem suada de Melissa McCarthy como Ursula. Não é como estar vislumbrando o fascinante realismo de Pandora, claro, mas enquanto A Pequena Sereia mergulha no seu mundo, deixa um lembrete de que é tudo muito raso, na superfície, quando a magia não convence tanto assim.

A ironia de querer capturar o sentimento de uma animação agora transportada para um realismo visual, é que esse também é o anseio de Ariel: sair de seu mundo e pertencer a um mais palpável, onde possa pisar, sentir o que é queimar. A releitura da animação está lá, mas qual a motivação quando se tem apenas um esquema, uma imitação sendo reproduzida? Felizmente, a atenção pode ser concentrada em Halle Bailey que faz do papel como Ariel uma jornada encantadora, mas não pela personagem, e sim por sua performance cheia de convicção e totalmente entregue. É um talento que consegue transitar e sobressair a superficialidade ao seu redor, incapaz de convencer que uma história sobre uma sereia em conflito com seu mundo está sendo contada, mas Bailey acredita nisso e vai fundo em dar vida a pequena sereia.

É notável as tentativas do roteiro de David Magee em contar os eventos nos sete mares numa abordagem dramática, e nesse sentido, os momentos musicais ajudam a disfarçar a falta de inspiração na escolha do filme em se afastar do tom infantil da animação para inserir uma suposta ótica mais “madura”, que como resultado, não atinge o objetivo “de expandir a base do longa de 1989” quando por obrigação precisa contar uma história musical romântica de contos de fadas que faz uma analogia sobre amadurecimento. Assim, as tentativas com novas inserções narrativas ficam só na superfície, mal exploradas, servindo mais como subterfúgios para estender a duração que, como apelo comercial, “precisa” ser maior, aproveitar as possibilidades agora que é uma adaptação em live-action.

Nessa linha de reproduzir a animação quadro a quadro, fica evidente como a direção de Rob Marshall não consegue propor uma construção imagética para o filme e tampouco apresentar momentos marcantes nas cenas subaquáticas. A Pequena Sereia passa sua primeira hora submerso, mas se observar, carece uma exploração de mundo ali e de seus personagens. Um claro exemplo disso são as irmãs de Ariel que terminam sendo descartadas após o momento de introdução que mais parece que as cabeças das atrizes foram postos no corpo de uma Barbie sereia dentro de um aquário. Ainda que o foco não fosse explorar personalidades, o trecho introdutório serviria para imaginar mais daquele “mundo subaquático”, sua cultura, no entanto, o filme se contenta em ser um frame a frame  da animação com o visual nada atraente e criativo.

Como mais um projeto dentro dos planos da Disney em lançar remakes em live-action de suas animações, 34 anos depois, é a vez da história da pequena sereia que sonha em explorar a superfície para viver um grande amor. Das profundezas de um clássico para sua forma “no mundo real“, A Pequena Sereia é uma ironia sem vida que reproduz a falta de imaginação de seu estúdio em apenas embalar uma animação sendo performada com os retoques que a magia digital pode oferecer. Embora a atuação doce de Bailey seja a força do filme e os trejeitos afetados de McCarty o único esforço genuíno do que seria “um filme da animação”, de fato, temos um resultado agradável de alguma forma, mas aguado demais para ser um novo clássico.

A Pequena Sereia (The Little Mermaid – EUA, 2023)
Direção: Rob Marshall
Roteiro: David Magee
Elenco: Halle Bailey, Jonah Hauer-King, Melissa McCarthy, Javier Bardem, Noma Dumezweni, Art Malik, Daveed Digs, Jacob Tremplay, Awkwafina, Jessica Alexander,.Martina Laird, Lorena Andrea, Simone Ashley, Karolina Conchet, Sienna King, Kajsa Mohammar, Nathalie Sorrell
Duração: 135 min

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