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Crítica | A Pequena Sereia (2018)

por Leonardo Campos
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O conto de Hans Christian Andersen, publicado em 1837, é uma das grandes referências literárias para as sereias, reinterpretadas no bojo de nossa atual cultura massiva. Transformado em animação pela Disney em 1989, o clássico é uma versão amena da simbologia basilar das sereias ao longo dos processos de adaptação de sua imagem multifacetada no campo da mitologia. Com enredo diferente do que foi proposto narrativamente na versão animada, A Pequena Sereia, ao longo de seus 94 minutos, nos apresenta a trajetória de Cam Harrison (William Moseley), jornalista que recebe do editor a incumbência de cobrir uma história lúdica e bem diferente do habitual, isto é, a existência de uma suposta sereia, parte de um circo itinerante. O ser mitológico, responsável por causar furor numa série de visitantes, também possui um elixir capaz de curar qualquer enfermidade. É quando um despertar de interesse, mesmo com desconfiança, surge diante do jovem, pois ele não sabe mais o que fazer para lidar com a doença rara de sua sobrinha, Elle (Loreta Peralta). É neste misto de crença e desconfiança que ele inicia a sua jornada.

Sob a direção de Blake Harris e Chris Borechard, A Pequena Sereia se inicia com uma animação acompanhada da narração que explica o trajeto da sereia das profundezas do oceano ao circo que a mantém como prisioneira. Escravizada por Dr. Locke (Armando Gutierrez), Elizabeth (Poppy Drayton), a sereia, cedeu a sua alma depois de ter se apaixonado por um humano e recebido a chance de vir para a terra e tentar ganhar o amor do tal homem que a encantou. Como não dá certo, ela perde para o mago que procurou e precisa ceder a sua liberdade até a situação se resolver de outra maneira. É como a sua saga se desenvolve ao longo do drama romântico juvenil, uma versão meiga e agradável que só perde um pouco de seu impacto por causa da ausência de mais cenas subaquáticas, afinal, estamos lidando com um filme sobre sereias, não é mesmo? As poucas cenas com a personagem são bonitas e convincentes, graças aos efeitos visuais da equipe de Rich Thorne, adornos das imagens captadas bela adequada direção de fotografia de Neil Oseman, bem conduzida dentro das limitações orçamentárias da produção.

Basicamente, Cam acha que Elizabeth é uma farsa e enquanto a história da dupla é desenvolvida, coadjuvantes e suas existências mágicas costuram o tecido narrativo e transformam as vidas, uns dos outros, mutuamente. Quem nos conta a história é Eloise (a veterana Shirley McLaine), uma dedicada avó que narra a saga de Elizabeth para as netas e possui uma carta na manga para o desfecho de tudo, revelação lúdica que deixa tudo ainda mais mágico que o esperado. Com algumas semelhanças com o conto de Andersen, aqui temos uma estrutura modificada, como já dito, mas traçada de paralelos. Na literatura, uma jovem sereia disposta a dar sua vida nos mares e sua identidade em prol de conseguir uma alma e se tornar humana precisa passar por diversos percalços para se encontrar diante de suas decisões que para algumas interpretações contemporâneas, são de cunho bem feminista. Na versão live action de A Pequena Sereia, a proposta basilar é a mesma, num conto que debate mudança de perspectivas, os impactos de nossas escolhas, a sobrevivência diante das adversidades, dentre outras questões.

Lançado em 2018, A Pequena Sereia é um filme sobre acreditar na magia que a vida real pode nos proporcionar. Essa é a impressão que temos ao longo da história, principalmente no desenvolvimento de seu desfecho. A produção também versa sobre fé, crença, apego e desapego, concepção de passagem para os humanos no processo de nossa existência, dentre outras abordagens que para alguns, podem se perder diante das demandas de entretenimento, mas que valem ser ressaltados enquanto interpretação da narrativa além dos comandos que engendram a diversão. Parker Beck e Jay Weber assinam o design de produção do material, também adequado para a proposta, setor que ganha o acompanhamento musical de Justin Crosby e Jeremy Rubolino, conjunto de acordes suficientes para dar o tom dramático que o filme precisa para funcionar. Decepcionante para aqueles que buscam exclusivamente um conjunto mirabolantes de imagens estonteantes, a história em questão é uma abordagem leve sobre os temas mencionados na abertura deste parágrafo, o que torna A Pequena Sereia uma narrativa para toda a família, com momentos um pouco arrastados entre um ponto e outro, mas com bom resultado no total.

A Pequena Sereia (The Little Mermaid) — EUA, 2018
Direção: Blake Harris, Chris Bouchard
Roteiro: Blake Harris
Elenco: William Moseley, Poppy Drayton, Loreto Peralta, Armando Gutierrez, Shirley MacLaine, Gina Gershon, Shanna Collins, Chris Yong
Duração: 85 min.

 

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