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Crítica | A Origem Secreta de Shazam

por Luiz Santiago
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Existem três grandes versões iniciais para a origem de Shazam após a Crise nas Infinitas Terras. Temos a minissérie de 1987, intitulada O Novo Começo (posteriormente recolocada na Terra-85); temos a graphic novel de Jerry Ordway, lançada em 1994 (o passo anterior a um novo título solo do Shazam na DC), mas, antes dessas duas, tivemos a tentativa-raiz das histórias pós-Crise, narradas na revista Origens Secretas, da qual a presente história faz parte.

Recontando de maneira direta e mais madura a história originalmente criada por Bill ParkerC.C. Beck na Whiz Comics #2 (1940), o roteiro de Roy Thomas estabelece aqui que Billy Batson é um órfão que mora na rua e vive de vender jornais perto de uma estação de metrô em Fawcett City, no ano de 1939. O espírito do momento é pautado por uma certa melancolia e um pouco de depressão, ganhando outros contornos (entre o estranho e o fantástico) quando um misterioso homem se aproxima do jovem Billy, em uma noite chuvosa, e leva-o até um lugar inexplorado da estação do metrô. O trem do mago aparece, a cena na caverna se repete e, como era de se esperar, o encontro de Batson com o mago termina por dar ao adolescente os poderes de seis deuses, fazendo do menino o Capitão Marvel ao gritar a palavra… SHAZAM!

O que realmente domina o presente texto é a simplicidade, e assim como fora na origem do personagem, esta é a graça da coisa. Outro ótimo ponto que Roy Thomas mantém aqui é o trabalho um tanto difícil, em termos de roteiro, entre a mentalidade de menino e o corpo forte e com a sabedoria de Salomão. Digo que é algo difícil de ser trabalhado em roteiro porque ter crianças como protagonistas já é complicado em qualquer mídia (bem fácil cair na artificialidade, sob diferentes pontos de vista, quando se trabalha com crianças e adolescentes na ficção) e fazer a junção dessa criança ou adolescente com a persona de um super-herói ligado à magia de diferentes deuses, e a um antigo sábio egípcio, torna tudo ainda mais intricado. É evidente que em alguns pontos da história, especialmente no começo, o texto cambaleia um pouco na forma como estabelece Billy e nos primeiros contatos que ele faz — ora muito maduro e astuto, ora inocente e bobinho — mas isso acaba sendo algo menor diante da construção do personagem ao longo das páginas.

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Shazam: a primeira missão.

Em algumas origens secretas, os autores caíram na besteira de colocar coisas demais na história, mostrando não só aquilo que a edição promete (a origem do personagem, e nada mais), mas querendo fundamentar as raízes para o que seriam seus principais vilões ou coadjuvantes, algo que nunca funciona porque não é possível dar a devida atenção para tantos (e na mente do leitor, já tão icônicos) personagens. Aqui, o roteiro consegue evitar essa armadilha e foca na vida, no espaço urbano e nos sonhos de Billy Batson, que tem três momentos impagáveis ao longo da história: sua preocupação com o bloco rochoso preso por um fio gasto sob a cabeça do mago; os primeiros momentos dele experimentando, fora da caverna, suas habilidades; e a primeira luta dele contra a gangue que queria boicotar o sinal da WHIZ Radio, agindo sob comando do Doutor Silvana, já chamando o Capitão Marvel de “Grande Queijo Vermelho”.

Não há exatamente grande brilhantismo de Jerry Bingham ao lado de Steve Mitchell na arte, mas ambos fazem um ótimo trabalho de perspectiva, algo que deve funcionar bem mais para quem conhece a história original de Shazam, porque existem quadros aqui que mostram mais coisas ou expõem com outras dimensões aquilo que a HQ da Era de Ouro nos mostrara. Mesmo que não tenha ficado cronologicamente válida por muito tempo, essa origem secreta do Capitão Marvel pode ser um ótimo primeiro contato do leitor com o mundo desse menino no corpo de um herói.

Secret Origins Vol.2 #3: Shazam! (EUA, junho de 1986)
Roteiro: Roy Thomas
Arte: Jerry Bingham
Arte-final: Steve Mitchell
Cores: Carl Gafford
Letras: David Cody Weiss
Capa: Jerry Bingham, Steve Mitchell
Editoria: Roy Thomas
35 páginas

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