Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | A Máscara da Morte (1959)

Crítica | A Máscara da Morte (1959)

A estreia de um subgênero cinematográfico na Alemanha...

por Luiz Santiago
379 views

Considera-se A Máscara da Morte, de 1959, o longa-metragem que deu origem ao ciclo dos kriminalfilm (ou apenas krimi), cuja origem vem da palavra kriminalroman, ou romance criminal. Trata-se de um subgênero de filmes alemães sobre crime, investigação e suspense, fortemente influenciados pela ficção gótica e pela literatura policial, com destaque para as obras de PoeDoyle, Christie, Chase e, principalmente, Edgar Wallace, o ícone do subgênero. Além dessas influências literárias, nota-se, especialmente no começo do ciclo, marcas do Expressionismo Alemão (com forte apreço por NosferatuO Gabinete do Dr. CaligariM – O Vampiro de Düsseldorf); elementos do Realismo Poético Francês, do Noir e uma abordagem de produção (feita inicialmente com os dinamarqueses através da Rialto Film; mas no fim do ciclo, produtores e equipes britânicas, italianas e espanholas também juntaram-se aos alemães) que flertava com a Hammer Film Productions. O horror, portanto, era uma camada cultivada nas entrelinhas das produções do ciclo. Outra temática recorrente, a do “mistério de quarto fechado“, às vezes exposta como McGuffin nas obras, foi por um tempo bastante popular, e entre os diretores de destaque do krimi, encontram-se Jürgen Roland, Alfred Vohrer, Franz Josef Gottlieb e Harald Reinl, que assinou A Máscara da Morte.

Em linhas gerais, este longa de Reinl é um suspense simples, com o diferencial de ser visualmente interessante, seguindo a mesma receita conceitual dos gialli. A obra traz uma bela fotografia de Ernst W. Kalinke, que contrasta o preto e branco para criar ambientes noturnos assustadores e tensos, como se estivesse escondendo algo, ou prestes a revelar um novo agressor saindo das sombras. O roteiro, baseado na obra de Edgar Wallace, começa com um roubo filmado com muito esmero, liderado por um indivíduo com máscara de “sapo” (que mais parece um artefato alienígena). O tal anfíbio social tem aterrorizado a sociedade londrina, colocando algumas famílias ricas em polvorosa e a Scotland Yard em aviso constante, sofrendo com a desmoralização pela imprensa, pois é sempre vista e retratada como incompetente e incapaz de impedir os roubos ou os cruéis assassinatos cometidos pelo “sapo” e sua gangue.

Se o enredo estivesse centrado apenas no mascarado e no terror que ele espalha por Londres, talvez o filme tivesse um resultado mais coerente. É de se esperar que um longa de 1959 não investisse em “suspense à toda prova” (apesar das boas cenas com facas, punhos e armas e alguns assassinatos inesperadamente sangrentos para a época — destaque para um certo corte de garganta e o assassinato de uma mulher, já na reta final — colocando os diretores na mira da censura), mas que escolhesse intercalar o lado sério da fita com um bloco de romance ou comédia, que é o que de fato ocorre aqui. Embora ambos estejam direta ou indiretamente relacionados ao “sapo”, a forma como o diretor filma essas situações faz com que pareçam independentes, com uma força tal que o público passa a vê-las como isoladas da investigação. E é justamente por isso que o direcionamento de muitas sequências da obra parece frágil em qualidade e efeito. No lado romântico, o flerte com O Anjo Azul tem bons momentos no início e termina de forma interessantemente violenta, mas seu desenvolvimento é de uma chatice sem par. Já no lado cômico, a brincadeira feita com Sherlock Holmes e Watson só ganha pontos porque a dupla de atores abraça a ironia e entrega uma performance chamativa, principalmente Eddi Arent, no papel James, o “mordomo-Watson”.

A maneira como a polícia guia a investigação só parece incompetente, mas, na verdade, tem resultados rápidos em diferentes esferas — embora demore para chegar aos principais alvos. Mesmo que o texto careça de uma situação mais intensa no afunilamento das diferentes linhas narrativas, não dá para negar que cada bloco se sai bem, com situações cada vez mais graves para os envolvidos, seja com espiões descobertos, detetives amadores presos, inocentes condenados à forca e cúmplices assassinados a sangue-frio. É uma boa conjunção de tragédias e reviravoltas, típica dos clássicos filmes de ação europeus, referenciando com certa competência o estilo de Fritz Lang nesse tipo de obra, em trabalhos como M – O Vampiro de Düsseldorf e, especialmente, na trilogia do Dr. Mabuse. Não podemos dizer o mesmo, porém, da mudança de tom que se vê no final, após a resolução do conflito.

O derradeiro destaque dado ao romance e à comédia, mesmo com uma referência simbólica ao vilão vencido, não conclui a película com a mesma força do desenvolvimento, desperdiçando o impacto do clímax. A brusca mudança de assunto, a despeito da cena curta, tem um peso negativo na construção de A Máscara da Morte, adicionando frustração à trama, depois de ter conquistado o espectador. Permanece, todavia, a proposta de um suspense bem construído esteticamente e com um tratamento que se afastava, em alguma medida, dos longas do gênero que até então se conhecia. Dava-se início ao krimi alemão no cinema.

A Máscara da Morte (Der Frosch mit der Maske / Face of the Frog) — Dinamarca, Alemanha Ocidental, 1959
Direção: Harald Reinl
Roteiro: Egon Eis, J. Joachim Bartsch (baseado na obra de Edgar Wallace)
Elenco: Joachim Fuchsberger, Siegfried Lowitz, Elfie von Kalckreuth, Jochen Brockmann, Carl Lange, Dieter Eppler, Eva Pflug, Walter Wilz, Fritz Rasp, Erwin Strahl, Ulrich Beiger, Eddi Arent, Reinhard Kolldehoff, Ernst Fritz Fürbringer, Michel Hildesheim, Charlotte Scheier-Herold, Benno Gellenbeck, Günther Jerschke
Duração: 89 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais