Nada como o sobrenatural para nos entregar infindáveis obras de terror, sejam fantasmas, demônios, velhas lendas urbanas, o gênero se apóia quase que exclusivamente nele, especialmente nestes últimos anos. Felizmente ainda temos exemplos que nos mostram que boas histórias podem surgir de tais premissas, muitas vezes, clichê – vide Sobrenatural (Insidious) e A Invocação do Mal. Partindo para a grande massa das obras do tipo, contudo, o que encontramos são tramas totalmente apoiadas nessas superstições, que acabam ignorando o potencial presente no próprio roteiro, caindo na mesmice.
A Marca do Medo seria uma exceção? Definitivamente não: os caminhos pelos quais poderia trilhar a partir de seu pontapé inicial são claros e sua narrativa ousa dar o primeiro passo na direção a cada uma delas. O resultado, porém, é um filme que se perde em si mesmo, querendo explorar todas as ramificações possíveis, mas sem conseguir atingir um tom ideal.
A trama tem seu início na Universidade de Oxford, onde o professor, Joseph Coupland (Jared Harris) debate com seus alunos em relação ao sobrenatural. Convicto que as experiências inexplicáveis possuem todas um embasamento científico, ele parte em uma pesquisa que visa obter tais provas, além de curar a menina Jane Harper (Olívia Cooke), que apresenta episódios de possessão. Para tal, ele monta uma equipe de mais dois voluntários, Harry (Rory Fleck-Byrne) e Krissi (Erin Richards), juntamente de um cinegrafista, Brian (Sam Claflin), para documentar todo o experimento. A partir deste ponto somos colocados em uma posição de contestação ao professor, ao vermos a menina doente em uma situação de cativeiro, enquanto outras variáveis surgem a fim de colocar em cheque não só a dedicação de cada personagem para com o projeto, como sua própria sanidade.
Com este plano de fundo bem formado, A Marca do Medo contava com todos os meios a seu dispor para forçar uma notável tensão dentro do espectador. O maior e mais óbvio destes seria explorar nossa dúvida em relação a Coupland, colocando seus métodos extremos e seu fanatismo em jogo, questionando o engajamento dos outros membros da pesquisa. Esta possibilidade não só seria possível, como interessante, já que daria um maior enfoque em Jared Harris, que costuma nos trazer atuações convincentes. Ao contrário disso, porém, o roteiro opta pelo caminho do inexplicável, evidenciando, com o passar do tempo, a força daquela entidade sobrenatural. É a receita de O Exorcista, trazendo, inclusive, um demônio sumério para a trama. Tal caminho poderia funcionar se não tivesse perdido tempo com subtramas desnecessárias que tiram o espaço em tela do que realmente importa. Neste processo o ritmo se perde, tirando qualquer chance do espectador sair com medo da sala de cinema.
Somente alguns trechos podem ser considerados uma singela exceção, quando fazem uso do legado de Bruxa de Blair, o falso documentário, exibindo cenas através das lentes do cinegrafista da trama. São registros informais, com uma tecnologia limitada e ultrapassada, que dão um toque de 1950 a tais sequências. Estas ocasiões, porém, são poucas e esparsas, não sendo o suficiente para criar a tensão desejada na audiência. Para suprir esta falha, a trilha e os efeitos sonoros utilizam o clássico aumento e volume ou atémesmo silêncio, dependendo da situação, para tentar arrancar alguns sustos, sem obter nenhum hesito, porém.
Com esses deslizes em mente, A Marca do Medo faz jus ao seu título genérico traduzido, caindo na velha mesmice do filmes de terror, não oferecendo sequer um elemento inovador. Seu roteiro fraco é seguido a risca, não demonstrando nenhum feito chamativo da direção, que não extrai emoções fortes de seus personagens, gerando, inclusive, algumas ocasiões que beiram o ridículo. A exceção é Coupland, mas tal feito cai nas mãos do talento de Harris, já demonstrado em Mad Men. Se deseja assistir apenas mais um filme do gênero, este irá agradar, mas se quiser ver algo minimamente diferente, existem obras melhores, como as citadas no primeiro parágrafo.
A Marca do Medo (The Quiet Ones, EUA/ Reino Unido – 2014)
Direção: John Pogue
Roteiro: Craig Rosenberg, Oren Moverman, John Pogue (baseado no roteiro de Tom de Ville)
Elenco: Jared Harris, Sam Claflin, Olivia Cooke, Erin Richards, Rory Fleck-Byrne, Laurie Calvert, Aldo Maland
Duração: 98 min.