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Crítica | A Máquina do Destino – 2ª Temporada

Uma nova fase na vida dos habitantes de Deerfield.

por Ritter Fan
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Minha relação com A Máquina do Destino é muito estranha. Como a crítica da primeira temporada não me deixa mentir, gostei bastante do que vi, com uma discussão muito interessante sobre a perseguição do potencial não realizado de cada um e um elenco que, no conjunto, é irretocável. Mas eu também me lembro nitidamente de que, quando a temporada acabou, não tinha o menor interesse de ver um segundo ano. Já estava satisfeito com o que havia assistido e não precisava de mais. Menos de um ano depois, porém, a série retornou ao Apple TV+ para uma segunda temporada – que, como anunciado logo antes da publicação da presente crítica, é a última – e minha recepção a ela foi inicialmente fria, ecoando meu desinteresse, mas, mesmo assim, embarquei nos episódios com aquela má vontade de alguém que está vendo por obrigação.

E, semelhante ao que aconteceu com o primeiro ano, o segundo foi, aos poucos, amolecendo a barreira mental e sentimental que havia erigido em relação à série, com o elenco novamente me encantando e a história, que acompanha uma “nova fase” da máquina Morpho que passa a mostrar a cada um que anteriormente obteve um cartão com seu potencial mensagens crípticas na forma de sequências animadas de videogame de gerações passadas que não podem ser nem repetidas, nem gravadas, o que eleva aquela atmosfera mais sobrenatural sobre a natureza do aparelho, levando a eventos que, se não são de outro mundo, fazem os espectadores mais uma pensar sobre suas opções de vida. No final das contas, pelo menos para mim, a série é como um xarope que você acha que é ruim e, por isso, reluta em tomar, mas que, quando finalmente abre a boca, descobre que é pura doçura com aquele gostinho de tangerina.

Apesar de o casal Dusty (Chris O’Dowd) e Cass (Gabrielle Dennis) permanecer no protagonismo, passando por uma separação temporária combinada entre eles e sob o mesmo teto para que eles tenham novas experiências, algo batizado de “auto-ploração”, o diferencial da nova temporada é que os roteiros abrem um enorme espaço para o exagerado, brega e barulhento Giorgio (Josh Segarra roubando todas as cenas) brilhar ao lado de seu novo amor, Nat (Mary Holland) e cria um bom arco de autodescoberta para Beau (Aaron Roman Weiner), que passa a ser, também, o xerife da cidade. Esses são os destaques, mas vale dizer que os demais personagens centrais continuam sendo abordados, seja o relacionamento de Trina (Djouliet Amara) com Jacob (Sammy Fourlas), os mistérios que gravitam ao redor da barwoman Hana (Ally Maki) e sua dificuldade em se aproximar do simpático Padre Reuben (Damon Gupton), a frieza, soberba e distanciamento da prefeita Izzy (Crystal R. Fox) ou o passado esquecido do simpático Sr. Johnson (Patrick Kerr).

Ajudando na dinâmica da série, o showrunner não procura mais demorar na revelação dos novos segredos da misteriosa máquina azul, o que dá mais tempo para que os relacionamentos sejam desenvolvidos de forma mais completa e efetiva, especialmente a vagarosa e hesitante separação de Dusty e Cass a partir da introdução de uma nova personagem, a professora de música Alice (Justine Lupe), que mostra interesse em Dusty. Giorgio, com o destaque que lhe é dado, sai de seu papel inicialmente construído para ser uma espécie de “atração bizarra” da série em razão de tudo o que ele faz, e ganha uma função bem mais gratificante que o coloca como uma mistura de homem recém-apaixonado com anjo da guarda e cupido, volta e meia oferecendo pensamentos surpreendentemente profundos e agindo de maneira completamente altruísta como no final do belíssimo episódio Nossa Cidade, dedicado à montagem de luta livre da metateatral peça homônima de Thornton Wilder, em que ele desafia o padre Reuben para uma luta com o objetivo de fazê-lo agir no que toca à Hana (não sem querer, foi a imagem que escolhi para ilustrar a crítica.

E o melhor é que todas as histórias, em maior ou menor grau, conversam entre si e se entremeiam, uma comentando e/ou alimentando a outra em uma narrativa que mais uma vez acerta em extrair o máximo do ótimo elenco, sem que os roteiros percam de vista a máquina que catalisou todos os eventos, algo que cria a aura de mistério cuja resolução provavelmente não é definitiva ou científica (não li o livro em que a série se baseia e não sei se lá há algum tipo de resolução para isso), mas que funciona como a cola narrativa geral. Melhor ainda, a série conversa com o espectador, oferecendo um leque de situações que, de uma maneira ou de outra, encaixam-se em muitas vidas, sejam as nossas ou de pessoas que conhecemos, ou seja, faz do “mágico” algo com que podemos muito facilmente nos relacionar e interagir, gerando o potencial para boas reflexões e conversas com familiares e amigos.

Ironicamente, não sei se em razão do cancelamento, agora sinto-me engajado com a série e gostaria de saber como serão os fins de Dusty, Cass, Beau, Giorgio e demais personagens. Nunca saberei sem recorrer ao livro, mas também não choramingarei pelos cantos em razão do final abrupto que ficará sem nenhum semblante de solução. E isso porque, querendo ou não, A Máquina do Destino deixará boas lembranças e boas indagações que, tenho para mim. cada um de nós poderá responder da nossa própria maneira.

A Máquina do Destino – 2ª Temporada (The Big Door Prize – EUA, 24 de abril a 12 de junho de 2024)
Desenvolvimento: David West Read (baseado em romance de M.O. Walsh)
Direção: Steven K. Tsuchida, Heather Jack, Jordan Canning, Satya Bhabha, Declan Lowney
Roteiro: David West Read, Amanda Rosenberg, Craig Rowin, Corinne Stikeman, Sarah Walker, Olive Lorraine
Elenco: Chris O’Dowd, Gabrielle Dennis, Patrick Kerr, Damon Gupton, Josh Segarra, Christian Adam, Sammy Fourlas, Djouliet Amara, Ally Maki, Crystal R. Fox, Jim Meskimen, Deirdre O’Connell, Aaron Roman Weiner, Justine Lupe, Mary Holland
Duração: 319 min. (10 episódios)

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