O império gótico da Hammer pode ser definido como um projeto de sucesso nas dinâmicas da globalização cinematográfica. Corredores sombrios, teias de aranha, alguns elementos de luxo em meio ao abandono, direção de fotografia sombria, muitas cenas noturnas, espaços longínquos dos grandes centros urbanos, florestas demasiadamente arbóreas a circundar os ambientes por onde as histórias de desenvolvem, uivos, luas esplendorosas, dentre outras peculiaridades do estilo. Todos os recursos mencionados, ideais para o estabelecimento de uma atmosfera angustiante, ganharam projeção das diversas leituras de Drácula, do irlandês Bram Stoker, para o cinema. Os estadunidenses e britânicos produziram em maior quantidade, e assim, o legado e o impacto cultural destes filmes contaminou mexicanos, espanhóis, paquistaneses, inclusive os japoneses, culminando na Trilogia Sanguinária que se encerra com A Maldição de Drácula.
Lançado em 1974, o desfecho desta saga vampírica dirigida por Michio Yamamoto traz, ao longo de seus 87 minutos, um professor entusiasmado para assumir o seu cargo profissional numa escola para garotas. Após se deslocar para o lugar onde foi convidado a atuar, descobre que precisará assumir a função de diretor. Este parece ser um novo e instigante desafio, mas as coisas são ainda mais complicadas que o imaginado, pois além de ter que lidar com um clima sombrio que nós, espectadores, já sabemos estar associado ao vampiro que habita a região, ele precisa, juntamente com o médico da instituição, encontrar as respostas para o sumiço de várias garotas, misteriosamente desaparecidas. Com vários ganchos narrativos emulados do livro de Stoker, este pode ser considerado o menos cuidadoso filme da trilogia, mas ainda assim traz algumas passagens interessantes, mantendo-se distante da mitologia vampírica oriental, se apegando ao que os ocidentais, em especial, os europeus, abordavam sobre o assunto.
Além deste apego ao gótico britânico, A Maldição de Drácula também traz o arcabouço cultural japonês, com seus habituais fantasmas vingativos, como base para o desenvolvimento da narrativa. Esteticamente, devo dar as honras, os elementos que compõem o filme são satisfatórios e ajudam no desenrolar da proposta do roteiro que traz um monte de personagens e situações que parecem não ter uma conexão, isto é, a estrutura orgânica na qual estamos acostumados em nossa perspectiva ocidental. Um dos componentes que ajudam na densidade do terror é a trilha sonora de Riichiro Manabe, presente nas demais produções que compõem a tríade de Michio Yamamoto, um recurso utilizado de maneira eficiente para tornar o clima milimetricamente sombrio. A direção de fotografia e o design de produção, assinados por Kazutami Hara e Kazuo Satsuya, respectivamente, ajudam com as propostas do roteiro da dupla formada por Ei Ogawa e Masaru Takesue. Em linhas gerais, estética acima da média.
Ademais, como dito em A Boneca Vampira, os filmes desta trilogia, bem como as demais narrativas japonesas envolvendo vampiros se guiaram pela popularidade de Bram Stoker no território ocidental, pois as traduções do romance Drácula sempre tiveram muito apelo com o público leitor por parte dos orientais. Com um diretor ainda inexperiente, tendo assumido algumas produções para o circuito televisivo, os executivos da Toho decidiram dar uma oportunidade e, após o primeiro sucesso, o cineasta conseguiu assumir as três produções desta trilogia. O primeiro, ao emular o ciclo de Edgar Allan Poe da Hammer, inseriu com firmeza o gótico na tessitura narrativa, seguido do segundo, alinhado com o impacto cultural dos vampiros do estúdio britânico em questão, encerrando a abordagem neste terceiro, o mais próximo de O Vampiro da Noite, clássico que definiu Christopher Lee como a criatura da noite mais famosa do cinema e da literatura. Foram todos muito populares, mas sem bilheterias excepcionais.
A Maldição de Drácula (「血を吸う薔薇」, Japão– 1974)
Direção: Michio Yamamoto
Roteiro: Ei Ogawa, Hiroshi Nagano
Elenco: Toshio Kurosawa, Mika Katsuragi, Mariko Mochizuki, Mio Ota, Keiko Aramaki, Mariko Mochizuki, Kunie Tanaka, Midori Fujita, Sanae Emi, Choei Takahashi, Shin Kishida, Yukiko Kobayashi, Atsuo Nakamura, Yoko Minazake
Duração: 82 min.