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Crítica | A Maldição da Residência Hill

por Leonardo Campos
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Confesso que sou resistente ao formato dramático de estruturação das séries adotado pelo serviço de streaming Netflix, mas A Maldição da Residência Hill conseguiu demonstrar habilidade diante de um subgênero do terror em completa exaustão, haja vista a quantidade de narrativas sobre o assunto, produzidas pela indústria cultural há eras. Adaptação cheia de liberdades, como toda boa tradução intersemiótica precisar ser, os dez episódios flertam com o romance A Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson, narrativa de traços góticos atenuados, com interpretações bem contemporâneas, numa eficaz e revigorada abordagem da temática.

Mike Flanagan, cineasta elogiado por seu desempenho em O Espelho, Ouija – A Origem do Mal e O Sono da Morte, comanda a direção, além de assinar a criação da série, a produção executiva e alguns episódios enquanto roteirista. O texto conta com a colaboração de Meredith Averill, Charise Castro Smith e Elizabeth Ann Phang, profissionais que optaram por linhas narrativas sobrepostas, camadas interpretativas múltiplas, diálogos extensos e expositivos, bem como personagens em busca de evolução, mas presos numa redoma de conflitos que os impedem de se mover em direção ao “novo”.

Tal como o romance ponto de partida, construído em meio aos personagens psicologicamente aprofundados, a série investe em temperaturas que baixam velozmente, portas rangem, sons desagradáveis e assustadores, clima de horror por conta das sombras e imagens tenebrosas de supostas presenças sobrenaturais, dentre outros elementos que captam a ideia de medo e pavor. A história segue a família Crain, um grupo de cinco irmãos, todos traumatizados por conta do período em que viveram na casa mais amaldiçoada dos Estados Unidos.

O grupo carrega um histórico de perda e dor que justifica as suas existências deprimentes na atualidade. Perderam a mãe, tiveram que se afasta do pai, sofreram com as ameaçadoras presenças macabras, etc. Quando adultos, os irmãos se reúnem para entender o que pode estar por detrás da morte de Nell (Victoria Pedretti), a irmã mais jovem, todos obrigados a confrontar memória. A primeira metade trabalha cada personagem profundamente, para dar um giro gigantesco rumo ao segundo bloco, mais atmosférico e aterrorizante. Assim, Shirley (Elizabeth Reaser), Theo (Kate Siegel), Steven (Michiel Huisman), Luke (Oliver Jackson-Ohen) e Nell (Violet McGraw) vão reviver situações que marcaram para sempre as suas vidas.

Visualmente, A Maldição da Residência Hill segue a cartilha dos filmes de casas assombradas, isto é, investe numa construção repleta de elementos excêntricos, delineados pela qualificada equipe de Patricio M. Farrell, responsável pelo design de produção. Em seu grupo de trabalho, John France e Kristie Thompson assumem a cenografia, sete e quatro episódios cada, respectivamente, juntamente com os responsáveis pela direção de arte, Heather R. Dumas e Hugo Santiago, ambos atuantes na concepção visual dos dez episódios.

A direção de fotografia, assinada por Michael Fimognari, contempla o excelente design de produção, captando exatamente o necessário para que possamos adentrar no clima da narrativa. Há enquadramentos e movimentos de fazer imagem aos famosos filmes do cânone cinematográfico, tamanha a habilidade do setor. No que concerne aos elementos da condução sonora, The Newton Brothers assumem o trabalho e também entregam um bom trabalho.

Interessante observar o tom de homenagem/referência ao atmosférico O Iluminado, de Stanley Kubrick. Há um cômodo importante para a devida compreensão da série, a sala vermelha, espaço que nem mesmo a chave mestra da residência consegue abrir. Dotadas de características “fantásticas”, a sala funciona como um espaço acolhedor para o seu hospedeiro e assume formatos variados ao passo que manipula quem adentra ao seu interior, o que torna a possibilidade de saída quase impossível.

Medo de escuro, locais vazios, sombras e sons inexplicáveis. Esse é o clima de A Maldição da Residência Hill, história com uma mulher assombrada por uma entidade chamada “moça do pescoço torto”, um cético que acredita ser tudo oriundo de distúrbios psiquiátricos, a irmã que é dona de uma casa funerária, etc. Focada no fascínio pela morte e por temas insólitos, a série avança vertiginosamente rumo ao horror em vias múltiplas, aderindo também ao poder da sugestão.   

A Maldição da Residência Hill – (The Hauting of Hill House, EUA/2018)
Criação: Mike Flanagan
Direção: Mike Flanagan
Roteiro: Mike Flanagan, Shirley Jackson, Meredith Averill
Elenco: Carla Cugino, Lulu Wilson, McKenna Grace, Violet McGraw, Henry Thomas, Oliver Jackson-Cohen, Elizabeth Reaser, Samantha Sloyan, Kate Siegel, Timohy Hutton, Michiel Huisman
Duração: 56 a 60 min. por episódio (10 episódios no total)

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