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Crítica | A Mãe (2023)

Superficialidade em ação.

por Felipe Oliveira
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Na esteira da dúvida de Daniel Craig voltar ou não a interpretar James Bond em Sem Tempo Para Morrer, logo surgiu o burburinho do papel ser oferecido para uma mulher, o que poderíamos ver uma Bond feminina assumindo o posto do protótipo masculino que encabeçou, até aquele momento, vinte e quatro filmes. O ponto em questão era o fraco argumento de inversão de papéis, quando seria mais interessante ter uma James Bond com sua história desenvolvida sem sofrer com paralelos a criação de Ian Fleming. De forma semelhante, chegar no thriller A Mãe, é como se estivesse acompanhando um dos frutos dessa “subversão” ao ver Jennifer Lopez protagonizando um filme com a fórmula Liam Neeson — que obviamente, se chamaria O Pai —, num suspense insosso e arrastado de ação.

Se Charlize Theron em Atômica e Halle Berry em John Wick: Parabellum são exemplos recentes de mulheres duronas com personalidade, Lopez estaria mais para uma inversão do Neeson implacável em filmes genéricos agora vestindo o modelo de brucutu feminina em thrillers de ação, e ela, de fato, consegue sustentar sem esforços o arquétipo uma vez que o longa não se preocupa em contar uma boa história, e sim, em colocá-la no centro da ação mirabolante e desenfreada, reproduzindo os tropos do gênero sem qualquer dimensão. Nesse sentido, fica fácil de identificar a reprodução do papel apenas pela reprodução, um molde, condicionado a uma dramaticidade que o título sugere.

Lopez vive aqui uma mulher sem nome, e a única maneira que pode se referir a sua personagem é como “a mãe”, isso, teoricamente, é parte de alguma camada que confere uma leitura sobre maternidade. A intenção do texto é clara ao propor essa temática num filme que reproduz os elementos clássicos que acompanham a história de um brucutu, e nisso, é como se todo o drama da “complexa mãe” e a representação dos valores maternos se fundisse ao arquétipo que conhecemos do homem bruto, invencível, bélico, o herói de estrutura física de um deus grego e que sempre salvava o dia com as intermináveis habilidades de luta e domínio com armas.

Ora, se Neeson, interpretando um ex-agente do governo fez de tudo para salvar sua filha no marcante Busca Implacável, o que impede Lopez, “a mãe” de sair do seu esconderijo recluso no Alaska e usar as habilidades aprendidas quando serviu no exército para proteger a filha? Ao contrário de realizar um filme ágil, que bebe dos ingredientes certos para um thriller genérico e eficiente, há uma aposta estranha em A Mãe que torna qualquer escolha para o andamento da história criada por Misha Green um exemplo de exagero, um excesso pelo excesso sem nunca ser, de fato, atraente. Violento demais, dramático demais, caótico demais e seguindo uma lógica que não encontra sentido na história da “assassina mortal” que parte para resgatar sua filha.

Niki Caro até tenta emprestar seu talento com o drama — equilibrando o gênero com expansões das cenas de ação que vimos em no live-action de Mulan — e isso pode ser observado na cena de abertura ou quando o filme pausa suas set pieces de perseguição e espionagem e tenta usar os personagens com desenvolvimentos inexistentes para render os supostos momentos de dramaticidade. Analisando por esse lado, The Mother poderia ser tido como um olhar denso e dramático a linha seguida pelos brucutus masculinos, que deixam uma trilha de explosões, pancadaria e corpos empilhados, diferente de “brucutu feminina”, sempre guiada por uma mira infalível e sua fúria para proteger e dar o melhor na missão de super-heroína que foi atribuída, como mãe.

Enquanto investe em analogias internas sobre maternidade e a personalidade indiferente da “mãe” — nas cenas com a loba e seus filhotes — numa primeira hora repleta de fracas dramatizações e ação absurda, é na sua segunda metade que The Mother se mostra mais seguro ao apostar no thriller familiar de brucutu e maternidade que estava resistindo ser, e ao assumir isso, se encontra na tarefa descompromissa que estava dificultando, a inversão de papéis num clássico genérico que não quer reinventar a roda. Afinal, se Lopez se veste de noiva para as comédias românticas, que mal teria em substituir Liam Neeson?

A Mãe (The Mother – EUA, 2023)
Direção: Niki Caro
Roteiro: Misha Green, Andrea Berloff, Peter Craig
Elenco: Jennifer Lopez, Omari Hardwick, Lucy Paez, Joseph Fiennes, Gael García Bernal, Paul Raci, Jesse Garcia, Yvonne Senat Jones
Duração: 115 min.

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