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Crítica | A Liga (2024)

O Zé Ninguém entra em ação!

por Ritter Fan
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Não é de hoje que Hollywood usa e abusa de tropos narrativos e também não é de hoje que as mentes criativas por trás de muitas produções baseadas fortemente neles acham que é suficiente juntá-los de forma minimamente coerente para que o resultado seja uma obra cinematográfica que merece ser chamada dessa forma e não apenas um produto para consumo rápido que é prontamente esquecido e substituído por outro semelhante. O que definitivamente “é de hoje” é a velocidade e quantidade frenética desses filmes descartáveis que são produzidos por serviços de streaming em franca e feroz concorrência para aumentar suas respectivas bibliotecas, para atrair a atenção de grande parcela do público que só quer coisa nova, qualquer coisa nova e para fazer burburinho nas onipresentes e zumbificadoras redes sociais.

A Liga (uma tradução que não faz sentido algum de The Union, já que, pelo contexto, deveria ter sido O Sindicato) é mais uma dessas obras de algoritmo que atores famosos aceitam participar para ganhar dinheiro rápido sem o esforço dramático equivalente, ou seja, o mesmo que fazer um bico muito aquém de suas habilidades só porque existe uma combinação de oportunidade com necessidade ou com o famoso “e porque não?”. A boa notícia é que, mesmo levando em conta que o longa dirigido pelo britânico Julian Farino, especializado em trabalhos em séries de TV, e estrelado por Mark Wahlberg e Halle Berry, dois atores que cultivaram consideráveis carreiras no Cinema, é um evidente fruto dessas circunstâncias que tendem a tornar tudo mais genérico e básico para agradar o maior número possível de pessoas, as famosas “massas”, não estamos diante de uma abominação cinematográfica. Nem de longe, diria.

Na categoria muito específica dos filmes de agentes secretos que são civis que de alguma acabam recrutados para missões perigosas, A Liga consegue ficar com a cabeça fora d’água com alguma facilidade, seja porque parece o primo pobre do primeiro e, para mim, ainda o melhor longa da franquia Missão: Impossível, com a boa e velha missão cheia de reviravoltas e viagens pelo mundo para recuperar um arquivo digital contendo as identidades reais de agentes secretos infiltrados nos mais diversos países, seja porque Wahlberg e Berry realmente funcionam bem juntos, ou porque Farino não se deixou seduzir totalmente pelo uso desenfreado de computação gráfica, inclusive brindando o espectador com uma bem dirigida perseguição automobilística pela costa da Croácia (mas com filmagens na Eslovênia) que é feita com dublês reais dirigindo carros reais em estradas reais pelo menos por boa parte do tempo que, por sinal, é bem mais longo do que deveria ser, mas eu entendo a tentação de esticar a sequência. E, claro, há J.K. Simmons no elenco como o chefe da tal Liga, agência secreta supragovernamental que tem orgulho de recrutar agentes que são pessoas comuns e da qual a personagem de Berry faz parte.

Em outras palavras, se rasparmos o tacho, encontraremos o que genuinamente gostar em A Liga, mesmo considerando que sua premissa já começa hilariamente inverossímil com a agente Roxanne Hall (Berry) recrutando o Zé Ninguém Mike McKenna (Wahlberg), que fora seu namorado na escola, para uma missão depois que, no prólogo, vemos outra dar completamente errado, só deixando Hall viva no final. Mas o inverossímil não está na premissa, mas sim em como ela é executada. Por mais louco que isso possa parecer, perguntar se Mike não gostaria de se juntar à Liga em uma missão secreta é uma escolha bem menos ensandecida do que drogar o sujeito em New Jersey e fazê-lo acordar em um hotel de luxo em Londres. Mas tudo bem, admito que tem seu “valor de choque” para todas as crianças de 12 anos ou menos que assistirem ao filme. E, claro, Mike é Mark Wahlberg e, com sua experiência ajudando não uma, mas duas vezes os Autobots, não é surpresa que ele se revele imediatamente bom em tudo o que faz.

Mas é o roteiro de Joe Barton e David Guggenheim que, entre eles, não têm um filme sequer de real destaque (e já estou contando com este aqui, sob análise), que acaba sendo o calcanhar de Aquiles justamente por não saber exatamente o que fazer com os tropos narrativos que mencionei a não ser inseri-los em uma única história com semblante de lógica interna e por não conseguirem criar uma linha de diálogo que pareça genuína e não algum tipo de chavão, de “momento esperto” ou aquela filosofia de botequim do tipo mais chinfrim possível, normalmente abordando a “zéninguémzisse” de Mike McKenna. A única razão pela qual algumas cenas carregadas de diálogos funcionam repousa nos ombros dos atores, pois Wahlberg consegue fazer bem o “cara comum capaz de coisas incomuns” e Berry, mesmo não fazendo lá muito esforço, é uma atriz completa quando, claro, não está fazendo atrocidades inacreditáveis como Mulher-Gato. E tem Simmons que pode fazer até mesmo o papel de um monge que fez voto de silêncio ficar interessante.

A Liga é cineminha básico para um sábado à tarde chuvoso em que dá aquela preguiça até mesmo de surfar pelos canais de streaming, pelo que clicar na primeira coisa que aparece na tela é a solução mais conveniente. Dificilmente o filme desagradará completamente quem quer que seja, mas dificilmente, também, será algo que transformará a tal tarde de sábado em algo que se aproxime do memorável a não ser pela eventual companhia durante a sessão ou pelas comidinhas que sugiro sejam escolhidas e levadas ao sofá antes de a preguiça reduzir boa parte das atividades motoras, já que as mentais o filme se encarregará de fazer.

A Liga (The Union – EUA, 16 de agosto de 2024)
Direção: Julian Farino
Roteiro: Joe Barton, David Guggenheim (baseado em história de David Guggenheim)
Elenco: Mark Wahlberg, Halle Berry, Mike Colter, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Jessica De Gouw, Alice Lee, Jackie Earle Haley, J. K. Simmons, Lorraine Bracco, Dana Delany, Patch Darragh, James McMenamin, Juan Carlos Hernandez, Stephen Campbell Moore
Duração: 107 min.

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