Sem Christopher Lee e com um roteirista já esgotado de ideias interessantes para desenvolver, o império de horror da Hammer demonstrou sinais de falência múltipla de criatividade e qualidade nos últimos filmes com Drácula, personagem que, tal como já mencionado em textos anteriores, é o definidor da mitologia vampírica na literatura, base para as incursões cinematográficas ao longo do século XX. Publicado em 1897 pelo escritor irlandês Bram Stoker, o romance carregou consigo um painel de referências culturais sobre vampirismo, em especial, as empreitadas literárias de John William Polidori e Sheridan Le Fanu, em O Vampiro e Carmilla: A Vampira de Karnstein, respectivamente. Exaurido pelo estúdio britânico, o conde vampiro se torna uma vaga lembrança de bons momentos cinematográficos neste A Lenda dos Sete Vampiros, narrativa que beira o insuportável ao trazer o monstro num desempenho ainda mais bizarro, envolto numa redoma oriental estereotipada e deplorável, cansativa até mesmo como entretenimento ligeiro.
Ao longo de 89 minutos que parecem uma eternidade, somos obrigados a contemplar Drácula, interpretado por John Forbes-Robertson numa maquiagem caótica, imerso noutra onda muito popular da década de 1970: os filmes com artes marciais e suposta representação da cultura chinesa. Depois de pesar a mão com erotismo e sanguinolência gratuita com Os Ritos Satânicos de Drácula e Drácula no Mundo da Minissaia, os realizadores da Hammer se viram obrigados a tentar inventar o novo ciclo para o monstro, mas as coisas não saíram como esperado. O filme hoje é cultuado por uma sólida base de fãs, mesmo com toda sua ruindade e panorama de equívocos estéticos e narrativos. Em suma, um destes tantos fenômenos da recepção cinematográfica. Não diverte, não faz rir, tampouco assustar.
Em associação com a Shawn Brothers, produtora que arrasava nas bilheterias com histórias envolvendo lutas e sensualidade chinesa, os realizadores de A Lenda dos Sete Vampiros colocam Drácula numa confusa trama sobre a ida da criatura da noite para o outro lado do mundo, numa busca incessante por dominação. Desta vez, o seu foco é utilizar o mito sobre sete vampiros locais para transforma-los em seus serviçais, assegurando o poder já defasado em território britânico. Com direção de Roy Ward Baker e roteiro de Don Houghton, a produção volta no tempo, lá para 1904. Observamos o antropólogo Abraham Van Helsing (Peter Cushing) dando uma palestra sobre vampirismo para turma de estudantes chineses que demonstram incredulidade sobre o assunto.
Apenas um deles, Hi Ching (David Chiong), apresenta respeito e intercala suas perguntas para extrair as dúvidas sobre o tema. Ele tem interesse em caçar vampiros, pois acredita na presença destas criaturas sanguinárias em sua aldeia. Assim, da aula para a realidade do entorno destes personagens, seguimos com a caravana dos escalados para uma batalha contra as forças do mal na região, com cenas de luta aos pulos, armas brancas utilizadas constantemente e aparição breve de Drácula na maioria das passagens, provavelmente inserido apenas por burocracia, para preencher requisitos de atração do público, enganado com tamanha bobagem cinematográfica.
É aqui que jaz o conde vampiro na perspectiva da Hammer. Para o bem da arte.
A Lenda dos Sete Vampiros (The Legend of the 7 Golden Vampires, Reino Unido – 1974)
Direção: Roy Ward Baker, Cheh Chang
Roteiro: Don Houghton
Elenco: Peter Cushing, David Chiang, Julie Ege, Han Chen Wang, Robin Stewart, Szu Shih, John Forbes-Robertson, Robert Hanna, Shen Chan
Duração: 87 min.