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Crítica | A Ira de Daimajin

A espada selvagem de Daimajin.

por Ritter Fan
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Seguindo o padrão da Trilogia Daimajin composta de três longas filmados simultaneamente e lançados em intervalos de poucos meses em 1966, houve mais uma troca de diretor, entrando Kazuo Mori, e de elenco, permanecendo, apenas, o roteirista Tetsurô Yoshida e a equipe técnica. Igualmente, A Ira de Daimajin é uma história autocontida como nos demais casos, não formando uma trilogia de continuações, mas sim no formato de antologia tendo como único elemento coincidente justamente o deus samurai de pedra que empresta seu nome aos filmes e que ganha vida para corrigir injustiças.

E, pela terceira vez, a produção da trilogia surpreende por tentar fazer algo novamente diferente do que veio antes, ainda que, em linhas bem gerais, haja a esperada manutenção da estrutura de estabelecimento de uma ameaça vinda de um senhor feudal ganancioso que leva, nos 20 ou 25 minutos finais à interferência direta de Daimajin para salvar aldeões ou príncipes e princesas do bem. No entanto, em A Ira de Daimajin (a tradução do título é minha, com base no em inglês Wrath of Daimajin, já que o longa jamais foi lançado por aqui), há modificações importantes que afastam consideravelmente este terceiro longa dos demais. O maior desvio é o bem-vindo foco em quatro corajosas crianças, os irmãos Tsurukichi (Hideki Ninomiya) e Sugitatsu (Muneyuki Nagatomo) e os amigos Daisaku (Shinji Hori) e Kinta (Masahide Iizuka) que decidem partir para salvar seus parentes, todos lenhadores que foram sequestrados e escravizados por um tirânico samurai que os força a minerar para fazer munições, atravessando a perigosa cordilheira Majin, onde, claro, a estátua do deus fica.

Com isso, apesar de o longa começar demonstrando a fúria de Daimajin, que causa ventanias, nevascas e enchentes em um preâmbulo desconectado com a história principal, toda a abordagem que segue daí é muito mais leve e simpática, com as quatro crianças se ajudando e demonstrando um alto grau de capacidade de se virar no meio do nada com coisa nenhuma, seja fazendo pontes com árvores ou balsas com galhos, além de eficientemente furtar comida de samurais que os caçam. Essa atmosfera de camaradagem não impede que o roteiro de Yoshida siga por caminhos mais duros quando precisa, especialmente nas sequências no campo de trabalhos forçados, mas, em geral, este é o longa da trilogia que mais facilmente flui em razão da jornada das crianças e olha que ele é o mais longo dos três.

Outra novidade é que a interferência de Daimajin é sentida bem mais cedo, mas não da forma que imaginamos. Certamente para economizar nos ótimos efeitos práticos e óticos da trilogia, a estátua continua ganhando vida só mesmo no final, mas, ao longo da jornada dos meninos, o deus os ajuda por meio de seu avatar alado, uma bela e grande águia que os guia e também ataca seus inimigos. É uma simples, mas não menos interessante forma de quebrar a expectativa construída ao longo dos dois filmes anteriores, de certa forma subvertendo – mas não completamente – a própria estrutura rígida que vinha sendo utilizada.

Além disso, o próprio ataque de Daimajin é diferenciado e não só pelo belo pano de fundo nevado que altera a textura da estátua e permite belas tomadas de grua, mas também pela maneira variada como ele atua desta vez, inclusive se materializando de debaixo da terra e, pela primeira vez, desembainhando e usando mais de uma vez sua espada. A única reclamação que tenho nesse quesito é que sua lâmina deveria ter mais longa e menos parecida com uma espada medieval europeia (na verdade, parece um gládio romano) e mais na linha de uma katana ou wakisahi ou talvez até uma nodashi. Mas, tirando esse detalhe, o longa consegue entregar belíssimas sequências climáticas de ação que melhoram o que havia sido apresentado antes.

A Ira de Daimajin é uma bela surpresa em uma trilogia decididamente surpreendente. Jamais esperaria esse nível de qualidade geral de uma produção tripla e simultânea dos anos 60 que inusitadamente tenta – e consegue – mesclar jidaigeki, drama de época, com kaiju, filme de monstro, constantemente lutando para trazer novidades e chegando ao fim com o que pode ser considerado como o melhor dos três.

A Ira de Daimajin ( 大魔神逆襲 – Japão, 1966)
Direção: Kazuo Mori
Roteiro: Tetsurô Yoshida
Elenco: Hideki Ninomiya, Shinji Hori, Masahide Iizuka, Muneyuki Nagatomo, Junichiro Yamashita, Tôru Abe, Takashi Nakamura, Hiroshi Nawa, Tanie Kitabayashi
Duração: 87 min.

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