Como lidar com um filme sobre caranguejos assassinos? A resposta é simples: da mesma maneira que contemplamos narrativas com aranhas, serpentes, ratos, felinos e outros tantos animais do subgênero horror ecológico. Confesso que foi uma surpresa a descoberta desta aventura de 1957, comandada por ninguém menos que Roger Corman, o mestre do terror bizarro, realizador que emulou temas do cinema chamado Classe A durante décadas, conhecido pelos filmes Classe Z sobre monstros e outras aberrações em constante conflito com os seres humanos. Pouco comum no campo da ficção cinematográfica, os caranguejos são animais comestíveis, conhecidos pela locomoção peculiar, tal como os siris, parentes distantes, sempre de lado ou para trás. Em A Ilha do Pavor – O Ataque dos Caranguejos, clássico trash de 1957, as explicações científicas são abandonadas para a entrega ao absurdo de sua proposta sobre mutação genética. Os vilões são os crustáceos, mas poderia ser uma tartaruga ou camarão. O que importa é aniquilar humanos.
Na produção, dirigida por Corman e escrita por Charles B. Griffth, acompanhamos um grupo de cientistas que desembarcam numa ilha do Oceano Pacífico para encontrar outro grupo que sumiu misteriosamente, sem deixar vestígio algum de sua passagem pelo local. Eles pesquisam os possíveis desdobramentos de testes radioativos na região, algo realizado pelo governo e que pode ter mudado a vida dos animais marinhos e a estrutura das plantas subaquáticas. No processo, acabam descobrindo que a equipe foi dizimada por caranguejos com fome de carne humana, readaptados ao ambiente por causa da mutação genética sofrida pela radiação. Eles possuem couraça resistente e até mesmo agem com inteligência, pois quando devoraram as primeiras vítimas, deglutiram também a intelectualidade de sua comida. É, caro leitor, você leu isso mesmo, caranguejos mutantes que devoram além da carne, mas basicamente o “espírito” das vítimas. Para detê-los, será preciso astúcia, pois as criaturas também possuem uma linguagem peculiar.
Nunca duvide da falta de limites de Roger Corman e de sua equipe de produção. Aqui, Floyd Crosby assumiu a direção de fotografia, constantemente a esconder o caranguejo e nos mostrar a sua puã nervosa em vários momentos. Concebido por Ed Nelson, técnico de efeitos especiais, os crustáceos da narrativa, interessados em dizimar os humanos, emitem um bizarro som, altíssimo e tão incômodo quanto as expressivas formigas de outro clássico sobre insetos gigantes, dos anos 1970, também com criaturas transformadas por mutações em sua estrutura genética. Em A Ilha do Pavor – O Ataque dos Caranguejos, bastam 62 minutos para toda a história ser contada. Ronald Stein assume a trilha sonora e faz um trabalho intrusivo, tão exótico quanto o filme em si. É através da equipe formada por Dr. Karl Weigand (Leslie Bradley), o geólogo James Carson (Richard H.) e os biólogos Jules Deveroux (Mel Welles) e Martha Hunter (Pamela Duncan) que a produção se desenvolve. Eles encontram o diário da equipe anterior e seguem na investigação.
Como observado no parágrafo de abertura, a estrutura dramática da produção não se importa com as peculiaridades do potencial de um caranguejo ampliado. Nós, quando os utilizamos na culinária, sabemos que ao tratar, a sua puã faz um estrago considerável se conseguir apertar os nossos dedos incautos. É uma dor insuportável, imagina quando ampliado? Não é o caso do filme que foca, de fato, numa criatura monstruosa e paródica, exposta em cena para devorar seres humanos e fazer as plateias se divertirem com tamanha bobagem divertida. A Ilha do Pavor – O Ataque dos Caranguejos ganha pontos positivos por evitar o discurso científico cheio de enrolações para se fazer pretensiosamente sério. Roger Corman sabia exatamente o que queria entregar ao seu público e não se preocupava em enxertar a narrativa de dados falsamente importantes para transmitir a sensação de “conteúdo”. Há, na produção, um foco. É uma narrativa de terror e aventura de nicho, feita para o consumo de um público específico, fiel ao segmento. Isso basta.
A Ilha do Pavor – O Ataque dos Caranguejos (Attack of the Crab Monster – Estados Unidos, 1957)
Direção: Roger Corman
Roteiro: Charles B. Griffth
Elenco: Pamela Duncan, Leslie Bradley, Mel Welles, Russell Johnson, Richard H. Cutting, Beach Dickerson
Duração: 62 min.