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Nem mesmo Wes Craven poderia impedir o alastramento de Freddy Krueger. Sua criação suprema havia tido o maior sucesso de sua carreira com A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos Sonhos, e a New Line obviamente já acelerava a produção do quinto capítulo. Craven pode ter saído antes que o assassino dos sonhos tivesse tornado-se um ícone do Cinema, mas não consigo imaginar sua reação ao assistir este que curiosamente traz um título auto-explicativo: O Maior Horror de Freddy.
A trama… Bem, preciso realmente inventar uma nova definição para “Freddy mata geral”? Ok, adianto-me. O roteiro de Leslie Bonhem realmente se esforça para criar uma história mais complexa, desta vez com Freddy Krueger (Robert Englund) tentando voltar através dos sonhos do feto de Alice (Lisa Wilcox), a sobrevivente do filme anterior.
É isso aí, Freddy vai ser papai. De certa forma. É uma ideia ousada, sem dúvidas, mas apenas serve para ilustrar como a franquia enfrentava um terrível bloqueio criativo em seus rumos narrativos. Temos ainda mais detalhes sobre a origem de Krueger, revelando que – vejam bem – foi filho de um estupro coletivo em uma freira por centenas de criminosos insanos. Olha… Eu entendo que Freddy era um sujeito muito malvado, mas tinha mesmo que apelar para o cúmulo do cúmulo? Centenas de… Bem, parei.
E mesmo que seja uma decisão completamente apelativa, o roteiro aposta pesado no grotesco. Confesso que o diretor Stephen Hopkins (que viria a dirigir Predador 2 – A Caçada Continua) é hábil ao criar imagens incômodas e visualmente criativas. A primeira cena, que traz a protagonista sendo presa em um box de chuveiro é inventiva, assim como a sequência em que se segue para revelar os insanos “pais” de Krueger, fazendo excelente uso da lente grande angular para perturbar o espectador e, sim, causar certo temor. As referências ainda trazem o obrigatório carrinho de bebê que remete diretamente a O Bebê de Rosemary e até um acertado trabalho de enquadramento durante a sensacional perseguição nas escadas de penrose a infame sequência do jantar, com planos milimetricamente simétricos que lembram a estética do surrealismo, ajudando a tornar esta uma das mais grotescas mortes da franquia.
Falando nelas, O Maior Horror de Freddy não decepciona nesse quesito. Além da já mencionada cena do jantar, onde uma jovem é literalmente forçada a comer até morrer (isso o David Fincher não mostra em Seven – Os Sete Crimes Capitais), temos a famosa sequência em que Freddy e Mark (Joe Seely) travam um duelo dentro de uma história em quadrinhos. A sequência lembra bastante o que viria a ser feito com a adaptação de Sin City, com a vítima colorida e o restante – cenário e Freddy – em preto-e-branco, e o fato deste perder a cor durante sua eventual morte é um detalhe agradável. Só poderíamos viver sem o “Super-Freddy”, que é simplesmente ridículo. E se este é um feito mais creditado a efeitos visuais, o departamento de maquiagem merece aplausos pela inacreditável sequência em que um dos personagens é brutalmente fundido a uma moto em movimento, certamente fazendo David Cronenberg se contorcer de inveja.
Muitos elogios e uma nota baixa? É, O Maior Horror de Freddy é eficaz em sua pirotecnia e a construção visual de sua narrativa, mas é no geral um filme com história e personagens ruins, especialmente em suas ideias bizarras sobre oferecer um bebê à Freddy Krueger. E as coisas não iriam melhorar no próximo capítulo…
A Hora do Pesadelo 5: O Maior Horror de Freddy (A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child – 1989, EUA)
Direção: Stephen Hopkins
Roteiro: Leslie Bohem
Elenco: Robert Englund, Lisa Wilcox, Kelly Jo Minter, Danny Hassel, Joe Seely, Erika Anderson, Beatrice Boepple
Duração: 89 min.