Dentre tantos remakes inúteis que apareceram nos últimos anos, A Hora do Espanto parecia uma boa aposta. O original de 1985 é muito divertido, mas que não sobrevive tão bem ao tempo – é difícil para a nova geração aceitá-lo – por isso, uma versão atualizada seria uma aposta interessante. Em parte, o filme de Craig Gillespie funciona bem com as mudanças feitas na história original, mas por outro lado, peca na construção de uma nova estrutura.
Na trama, Charley é um jovem de 17 anos que descobre que seu vizinho Jerry é um selvagem vampiro. Diante da ameaça e de constantes desaparecimentos, ele tenta proteger sua família e livrar-se do sujeito, contando com a ajuda do ilusionista Peter Vincent.
Pela sinopse, vemos que a premissa básica do original permanece quase que intocada, mas temos boas mudanças. Por exemplo, o cenário foi trocado para Las Vegas, uma escolha inspirada se levar em conta a agitada vida noturna da cidade e a quantidade de bizarrices em cassinos e shows. Os personagens também aparecem ligeiramente diferentes; Charley (bem incorporado pelo carismático Anton Yeltchin) surge um pouco mais arrogante do que William Ragsdale no original, apresentando uma relação tensa entre seu personagem e o de Christopher Mintz-Plasse (Ed, bem mais vulnerável do que o de Stephen Geoffreys), focando uma amizade abalada que surge bem trabalhada pelo roteiro.
Mas não se preocupem amantes de vampiros (os de verdade, não a versão purpurina de Crepúsculo), porque o roteirista Marti Noxon respeita bem as “regras” da mitologia das criaturas: ausência de reflexos em espelhos, medo de crucifixo, presas… O pacote completo. E quem assume todos os poderes e responsabilidades é o ótimo Colin Farrell, que mostra-se muito à vontade como Jerry, exibindo uma divertida canastrice ao longo da projeção (que na minha opinião, funciona melhor do que a versão de Chris Sarandon – que tem uma pequena participação aqui).
Outra peça-chave do original é Peter Vincent. Se antes ele foi representado pelo ótimo Roddy McDowall como um sujeito adorável e elegante, aqui o especialista em vampiros e artes das trevas é um pinguço desleixado com visual de Chriss Angel, mas que funciona graças a inspirada performance de David Tennant. No entanto, fica difícil aceitar os motivos que o fazem ajudar Charley, que são pouco justificados e preguiçosamente explorados.
Um problema grave é o ritmo. É ótimo que Noxon tenha mudado diversas coisas do original de Tom Holland, mas este possuía uma ordem de fatos bem mais relevante do que essa nova versão, já que trabalhava bem com a criação do suspense e a preparação de um clímax. O filme de Gillespie é muito estiloso (o diretor trabalha de forma excepcional com planos-sequência, especialmente na cena do carro que “homenageia” Filhos da Esperança), mas desenfreado e mal trabalhado em diversos momentos – como por exemplo, a transformação vampiresca de um dos personagens – além de soar artificial em sua conclusão.
No que diz respeito a parte técnica, aponto como acertos a fotografia de Javier Aguirresarobe, que trabalha com eficiência os tons escuros e as paisagens noturnas de Las Vegas, e a empolgante trilha sonora de Ramin Djawadi, que combina acordes sinistros (como um nostálgico teclado que remete diretamente a terrores oitentistas) com alguns mais contemporâneos. De erros, temos os terríveis efeitos visuais, que surgem mal feitos e exageradíssimos, enquanto o 3D só é útil para jogar sangue fora da tela.
Mesmo que apresente defeitos em sua estrutura, A Hora do Espanto é uma ótima diversão e, assim como o original, equilibra bem os momentos de humor com terror genuíno. O elenco inteiro merece aplausos pelo carismático trabalho, e o diretor Craig Gillespie mostra grande talento na composição visual da narrativa.
Mas não há efeitos CG que se equiparem com as caprichadas maquiagens oitentistas.
A Hora do Espanto (Fright Night, EUA – 2011)
Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Marti Noxon
Elenco: Colin Farrell, Anton Yelchin, Toni Collette, David Tennant, Christopher Mintz-Plasse, Imogen Poots
Duração: 106 min