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Crítica | A Garota da Vez (2024)

O inimigo pode estar em qualquer lugar.

por Roberto Honorato
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Mais conhecida por seu trabalho como atriz, Anna Kendrick estreia por trás das câmeras dirigindo um thriller no estilo true crime, um subgênero que está em alta na TV essa última década, mas tem surgido no cinema de vez em quando. Baseado na história do serial killer Rodney Alcala, que tirava fotos sexualmente explícitas de suas vítimas e conseguiu escapar andar livre por anos, mesmo com várias denúncias em seu nome e retratos falados. Além de perigoso, era extremamente prepotente, e o auge da sua arrogância foi ter participado de um game show de namoro televisionado em 1978, um tipo de programa bastante popular nos EUA na década, onde conseguiu vencer e ainda assim não foi preso. A narrativa de A Garota da Vez mantém o foco nas vítimas de Rodney, em uma estrutura que alterna entre linhas temporais para construir uma crítica maior sobre um sistema controlado por homens mais interessados em acobertar o crime de outros homens, principalmente aqueles em posição de poder.

Cheryl Bradshaw (Anna Kendrick) é uma atriz com dificuldades para encontrar papéis melhores que a representem como uma boa profissional, não apenas como um rosto bonito. Sem outra opção, aceita participar em um programa de namoro de sucesso, que mesmo não sendo considerado algo “sério”, pode trazer visibilidade para sua carreira. Entre os seus pretendentes está Rodney Alcala (Daniel Zovatto), que consegue ser charmoso e responder todas as suas perguntas com confiança, porém ela não sabe que está flertando com um serial killer. Além de seguir Cheryl, também assistimos outras histórias de mulheres que tiveram encontros mortais com Rodney, que as conquistou com elogios e promessas de sucesso. 

Infelizmente, Rodney saiu impune por décadas por conta da incompetência de autoridades que não acreditavam na palavra de mulheres “histéricas”. Esse é o ângulo que Anna Kendrick explora acertadamente no seu primeiro longa, também a melhor parte do enredo Ian McDonald, que explora cada dinâmica e interação dramática entre vítima e autoridade com a mesma tensão das sequências entre Rodney e suas vítimas; e ainda que tenham desfechos diferentes, ambos são representações de abuso da figura feminina em um ambiente conservador e machista, o que é visível nos segmentos do programa de TV, onde Cheryl é constantemente confrontada com homens comentando sobre sua aparência e a tratando como um prêmio que o vencedor irá levar pra casa.

A Garota da Vez está cheio de boas ideias e é um início sólido de Kendrick na direção, e as atuações são alguns dos destaques da obra. Mesmo que Kendrick esteja mais acostumada com comédias (trazendo alguns de seus amigos comediantes para o elenco) e usa isso a seu favor para criar uma protagonista carismática, muito do trabalho pesado nas sequências de suspense sobra mais para os coadjuvantes, como o próprio Daniel Zovatto, que precisa ser charmoso e perturbador ao mesmo tempo, sem contar as personagens de Nicolette Robinson e Autumn Best, que mesmo tendo papéis “menores”, às vezes mais interessantes que o da própria protagonista. Mesmo que isso não seja um problema do filme, está conectado com alguns elementos que me incomodaram um pouco, como a montagem que tenta criar esse paralelo entre as vítimas porém, ainda que a ideia seja ótima, nem sempre é bem executada, afetando um pouco o ritmo e deixando alguns momentos de virada da trama sem o mesmo peso.

É comum que obras de true crime sejam mais voltadas para o choque das reviravoltas e a violência causada pelos criminosos, por vezes tentando racionalizar sobre o que poderia ter causado o destino das vítimas, sem questionar o sistema que permite tantos serial killers atuando por anos, muito disso por negligência de autoridades. A Garota da Vez pode nem sempre ser o filme mais consistente e Kendrick ainda está construindo sua identidade por trás da câmera, mas há uma abordagem certeira sobre os papéis que a mulher precisa assumir para sobreviver à constante invasão de sua imagem.

A Garota da Vez (Woman of the Hour) – EUA, 2024
Direção: Anna Kendrick
Roteiro: Ian McDonald
Elenco: Anna Kendrick, Daniel Zovatto, Tony Hale, Nicolette Robinson, Pete Holmes, Autumn Best, Kathryn Gallagher, Kelley Jakle, Matt Visser, Jedidiah Goodacre
Duração: 95 min.

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