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Crítica | A Fera (2015)

Uma fera polar perigosamente mortal!

por Leonardo Campos
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Ursos polares são fofos. Lembram as campanhas da Coca-Cola realizadas no período natalino, com toda aquela beleza que nos faz mergulhar em pura nostalgia. Fora dos documentários sobre forças da natureza, o cinema muito pouco tais figuras selvagens. Aqui, no desenvolvimento de A Fera, a criatura ganha dimensões absurdas depois de ser geneticamente modificado, uma das estruturas narrativas que segmentam o profícuo horror ecológico, subgênero que na exceção do dinâmico e relativamente recente Dentro do Labirinto Cinzento, ainda não conseguiu entregar um bom exemplar com o dom implacável dos ursos como animal ameaçador em contato com seres humanos incautos no ambiente próprio deste forte e assustador predador. Lançado em 2015, o filme em questão traz todos os elementos próprios de um autêntico horror da natureza: a temperatura a causar maior dificuldade de deslocamento, a dificuldade de comunicação diante das tecnologias remotas e da ausência de sinal, uma criatura ameaçadora, modificada em sua formação natural graças ao processo de intervenção humana.

Tinha tudo para dar certo e ser uma aventura sufocante e bastante frenética. Será que A Fera consegue o seu propósito? Sob a direção de Hank Braxton, cineasta que teve como direcionamento, o roteiro escrito por Ron Carlson e Arch Stanton, acompanhamos uma narrativa menos empolgante que o esperado, no entanto, menos desinteressante que os filmes do segmento produzidos com baixo orçamento. O urso, convenhamos, demora demais para se tornar ameaçador em cena e parte do elenco de luxo não está com um texto muito forte para entoar diante das câmeras. Com isso, temos uma sequência de cenas descartáveis, diálogos idem, pouquíssima perseguição e aparição do animal em seu tom ameaçador. São 89 minutos que parecem se arrastar mais que o necessário, tendo um resultado final apenas médio, nada aberrante a ponto de ser intragável, como os péssimos filmes Sci-fi de aranhas, ratos e realizações da Asylum, por exemplo, mas com a equipe técnica disponível e um ambiente que propicia o desenvolvimento de uma atmosfera de horror, A Fera poderia ser mais dinâmico e aproveitar melhor todas as suas possibilidades desperdiçadas. Como não é o que ocorre, vamos analisar o que nos é entregue?

No texto, um fotógrafo e sua equipe partem numa aventura para realizar um ensaio numa região florestal do Alasca, distante dos elementos básicos das civilizações dos grandes centros urbanos. O inverno rigoroso está em força abrupta e o sol, avisa um dos membros que regem o local, aparece apenas por quatro horas durante o dia. É tudo muito rápido e os profissionais precisarão agir com brevidade e destreza. O dono do chalé, ao tentar distrair os recém-chegados, coloca medo no grupo e narra uma burlesca história sobre uma criatura misteriosa que habita a região. Segundo o seu relato, o “monstro” possui dentes e garras destruidores e uma fome por humanos para colocar qualquer um a temer. Esse devorador de homens habita a floresta e fica à espreita de suas vítimas, numa busca não apenas por alimento, mas também pela matança supostamente esportiva e inerente ao seu instinto animalesco. Será verdade essa história ou apenas conversa do anfitrião para amedrontar o fotógrafo e suas modelos estereotipadas, as típicas dondocas da cidade grande que colocam defeito em tudo e não sabem viver sem as afetividades da vida midiática?

Ao passo que A Fera se desenvolve, mais perguntas vão sendo respondidas, não exatamente na ordem que esperamos. Se é medo que ele pretende estabelecer? Sim, bastante, mas de fato há uma criatura perigosa, um urso modificado geneticamente por uma corporação que tinha por interesse, excluir a possibilidade de tornar o animal um dos ameaçados em extinção em nosso planeta. O projeto saiu errado e ao escapar do laboratório, a criatura mata os pesquisadores e escapa do ambiente deixando um rastro de sangue na neve captada pela certeira direção de fotografia de Marc Carter, funcional em seu aspecto aventura, mas com pouco material de horror para captar. O design de som de Steven Urban também trabalha menos que o esperado, pois o urso aparece com menor frequência que o imaginado, setor que funciona no mesmo molde que a trilha sonora de Edwin Wendler, igualmente mediano. Tom Woodruff Jr., supervisor dos efeitos especiais, entrega o visual do “monstro”, uma criatura que aparece pouco demais, mesmo em seus momentos finais. Ele combina a criatura em animatrônico com os efeitos visuais da equipe de Arch Miroshin, insuficientes para um exemplar do horror ecológico sem muita complexidade textual.

Ademais, a abertura flerta com a pegada ecológica dos documentários e dialoga com o tom preocupante do nosso atual panorama na vida selvagem, situação que em algum momento vai eclodir na catástrofe dos humanos. Essa abertura é um vídeo institucional da Clobirch Corporation, a empresa que usa o DNA do animal para a experiência e acaba perdendo a mão. Quem assume o posto de supervisora da pesquisa é a Dra. Hanna Lindvall (Sherilyn Fenn), profissional que precisará se unir aos demais membros do elenco para tentar conter a “besta”, grupo que ainda conta com outros nomes sofisticados, tais como Ron Carlson, também responsável pelo texto, pessoas que diante da ameaça selvagem, ainda precisam lidar com a neve incessante, com o vento gelado como lâminas cortantes e o frio que dificulta ainda mais a luta com uma fera bem estabelecida em seu espaço natural. A Fera revela o seu bicho aos poucos, ao estilo Tubarão, mas ainda é muito pouco para empolgar e nos fazer comprar uma proposta já tão batida de horror ecológico, produzida anualmente aos montes. Alguns trechos lembram um pouco Moby Dick, de Herman Melville e é nesta hora que percebemos o quão a literatura e a cultural estão imbricados neste processo de retroalimentação de narrativas, sempre em diálogo constante umas com as outras, criadoras de um extenso imaginário e fortalecimento de um subgênero que se esgota e depois consegue sempre se renovar e encontrar interessados em produzir e consumir os seus novos ciclos, com ursos, jacarés, leões, tubarões e outras criaturas de tom ameaçador.

A Fera (Unnatural, EUA – 2018)
Direção:  
Hank Braxtan
Roteiro: Arch Stanton, Ron Carlson
Elenco: James Remar, Sherilyn Fenn, Ron Carlson, Graham Greene, Allegra Carpenter, Ray Wise, Ivana Korab, Q’orianka Kilcher, Stephanie Hodes, Gregory Cruz
Duração: 89 min

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