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Crítica | A Favorita do Rei

Escândalo francês.

por Felipe Oliveira
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Já faz quase uma década desde que Johnny Depp interpretou seu último personagem com aceitação do público em Aliança do Crime uma vez que Grindelwald, ou estar no elenco de uma adaptação de Agatha Christie em Assassinato no Expresso do Oriente e até mesmo voltar a se caracterizar de Jack Sparrow serviu para empolgar novamente nas telonas. Diferente dos papéis recorrentes carregados com os trejeitos do do pirata bêbado, Depp agora investe numa produção mais ambiciosa, porém despreocupada de uma caracterização extravagante ao viver o Rei Luís XV nessa trama focada no envolvimento escandaloso entre o monarca e Jeanne Vaubernier. Aqui, além de encarnar a jovem filha ilegítima de uma costureira, Maïwenn assume a direção, além de ser um dos quatro nomes que assinam o drama histórico focado numa personagem polêmica. Essa não seria a primeira vez que a Madame du Barry surgiu nas telas, mas é a primeira vez que tem a história retratada – livremente – através do seu ponto de vista em A Favorita do Rei.

Só por esse detalhe, Jeanne du Barry carregava uma expectativa ao fazer sua estreia no Festival de Cannes do ano passado, e mesmo estando comprometida em contar essa história da maneira que acreditava, Maïwenn parecia dividir a atenção com o astro excêntrico que não quer perder a relevância, e ainda tenta fazer um grande comeback na indústria. Mesmo com toda a polêmica em torno de sua escalação para o filme enquanto ainda enfrentava uma batalha judicial e o comportamento conturbado no set, Depp entregou um dos papéis mais interessantes dos recentes trabalhos graças a performance contida e poucos diálogos. Porém, ainda que com uma participação modesta, o ator conseguiu chamar mais atenção do que o próprio filme pretendia contar sobre a jovem cortesã. 

É difícil imaginar outra produção francesa com foco na Madame, mas mesmo com quase dez anos em desenvolvimento, A Favorita é um filme que carece de inspiração. Muito das expectativas vinha da oportunidade de apresentar um longa mais sensual, o que dependeria de uma Jeanne du Barry sagaz, que usava da sedução e inteligência para sair da pobreza e embora o longa tenha cumprido isso ao retratar o vexame em Versalhes em torno da amante oficial do rei Luís XV, Maïwenn parece ter se contentado em se basear na narrativa clássica de um romance de época dramático para contar essa história. Mesmo que o resultado não ofereça uma narrativa ambiciosa como a direção de arte e fotografia ostentam, a cineasta trouxe uma performance carismática e com personalidade para a cortesã, e enquanto se concentrava em narrar os fatos, fazia de seu filme um deleite visual adorável, dando ao desinteresse narrativo alguma distração que se estendia por quase duas horas de duração.

É o tragicômico de época clássico que se misturava com a visão simpática e adocicada que Maïwenn prestava a uma figura tão polêmica. Seria interessante uma análise de personagem, mas a cineasta não estava interessada em se aprofundar ou tornar o seu sexto filme como diretora mais dramático, e sim, trazer uma ótica leve que ganha força graças a performance de sua estrela principal que navega por nuances e um humor sutil. E mesmo que trabalhar com Depp tenha sido uma experiência desastrosa, como a cortesã e seu amante a dupla encontrou uma parceria com química adorável, fazendo de um escandaloso caso amoroso quase como um romance clássico sobre diferenças de classe, amor e riqueza, ou na pior das hipóteses, uma releitura das princesas da Disney em versão para adultos. Novamente, Maïwenn mostrava se importar com os fatos e sua escrita tinha talento de sobra para tornar o filme cativante, mas a abordagem se escorava na sutileza e permanecia no raso.

Entre ser ambicioso, extravagante e polêmico, A Favorita do Rei se contenta em ser uma história de amor leve, bonita e inocente ao retratar um relacionamento que gerou escândalo. E ao mesmo tempo que não pretendia se aprofundar nas passagens e personagens, Maïwenn encerra o longa como sua visão do que seria a biografia de Jeanne du Barry, contando a história da mulher que passou tanto tempo obcecada

A Favorita do Rei (Jeanne du Barry – França – Reino Unido, 2023)
Direção: Maïwenn
Roteiro: Maïwenn, Teddy Lussi-Modeste, Nicolas Livecchi, Marion Pin
Elenco: Maïwenn, Johnny Depp, Benjamin Lavernhe, Pierre Richard, Melvil Poupaud, India Hair
Duração: 117 min.

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