Em 2012, inegavelmente sob a luz do sucesso de Glee – que naquele ano ainda era bastante popular e estava iniciando sua quarta temporada –, chegava aos cinemas, sem muito alarde, A Escolha Perfeita. O filme foi ganhando público aos poucos através do boca a boca e acabou se tornando um sucesso de bilheteria e crítica.
A ótima Anna Kendrick dá vida à Beca, uma jovem caloura chegando à faculdade. Deslocada e pouco simpática, a garota tem o sonho de tentar uma carreira como DJ em Los Angeles. Seu pai, professor de Literatura da universidade e totalmente contra o sonho da menina, a força a se enturmar com os grupos musicais do campus, lhe fazendo a seguinte proposta: se ela participar de algum e, ao fim do ano, decidir não continuar, ele deixará que ela largue a faculdade e vá tentar viver das pickups. É assim que Beca entra no caminho do grupo de cantoras a capella The Barden Bellas, que precisa reaver sua reputação depois de um vexame em uma competição.
Através da típica divisão dos jovens em estereótipos – só que nesse caso, com grupos musicais –, A Escolha Perfeita mostra que possui a mesma fórmula arcaica de filmes de ensino médio e faculdade, mas, assim que a história engrena, o diretor Jason Moore consegue demonstrar um frescor interessante sob diversos aspectos: os mashups criados por Beca e a trilha sonora do filme utilizam músicas bastante atuais, de artistas como Flo Rida, Lily Allen, Bruno Mars, Rihanna, La Roux, David Guetta; as cenas que parecem criadas para serem antológicas, como a da competição de refrões; a improvisação permitida aos atores Elizabeth Banks e John Michael Higgins, como comentaristas dos torneios de música – de longe, uma das melhores coisas do longa. São detalhes que podem parecer bobagem aos olhos de muitos, mas que, ao meu ver, se tornam destaques em um gênero que anda tão batido e sem novidades. É muito legal ver Beca ouvir, cantar e falar sobre David Guetta, que, mesmo que não seja criador de nenhum clássico (ainda) ou um artista considerado importante para a História da música, tem em seu currículo músicas como Titanium, que o mundo inteiro conhece. Nem só de clássicos vivem os musicais.
É importante destacar que outro grande mérito de A Escolha Perfeita é seu elenco. Carismático até dizer chega, é praticamente impossível não simpatizar com os personagens e seus intérpretes, principalmente os ótimos Skylar Astin, Rebel Wilson, Brittany Snow, Anna Camp e Hana Mae Lee. Todos estão muito inspirados e à vontade, dando literalmente um show não só de música, mas também de comédia: o roteiro, recheado de referências pop e tiradas engraçadas, é ágil e esperto, e aproveita toda e qualquer oportunidade para uma boa punchline. Um de seus poucos pecados é o final abrupto, que não nos dá uma sensação de encerramento, deixando questões não resolvidas, como se a continuação já fosse certa e o espectador tenha que esperar a segunda parte para obter respostas e conclusões.
A Escolha Perfeita é uma surpresa divertida e moderna, e provavelmente um filme que será lembrado por muitos anos pelos fãs do gênero. No fim, percebemos que Beca acaba fazendo com o The Barden Bellas justamente o que A Escolha Perfeita faz como filme: coloca o novo sobreposto ao antigo e transforma algo que poderia facilmente ser chamado de brega em cool e fresh.
A Escolha Perfeita (Pitch Perfect) – EUA, 2012
Direção: Jason Moore
Roteiro: Kay Cannon (baseado no livro de Mickey Rapkin)
Elenco: Anna Kendrick, Rebel Wilson, Anna Camp, Brittany Snow, Skylar Astin, Adam DeVine, John Michael Higgins, Elizabeth Banks.
Duração: 112 min.