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Crítica | A Escola do Bem e do Mal

Entre o genérico e a vergonha alheia.

por Ritter Fan
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Baseado em série de romances do americano de ascendência indiana Soman Chainani, A Escola do Bem e do Mal vinha tentando transformar-se em filme desde 2013, o ano de lançamento do primeiro livro, encontrando uma casa no Netflix depois de ficar muito tempo em um limbo de desenvolvimento, provavelmente, dentre outras razões, para que fosse impossível encontrar alguma forma relevante de distanciá-lo das inevitáveis comparações com a saga de Harry Potter. No entanto, como costuma acontecer com filmes de gestação alongada, o resultado não só decepciona considerando-se o elenco estelar e a temática repleta de magia e contos de fadas, como parece uma produção só levemente superior, em termos visuais, àqueles filmes infanto-juvenis do Disney Channel.

Como não li a obra em que o longa foi baseado, não esperem comparações entre mídias, até porque isso é desnecessário para a análise de uma obra cinematográfica. O filme, mesmo não conseguindo distanciar-se muito, em linhas macro, do universo de magia mais famoso que o precede, inegavelmente tem identidade própria, mas ela somente existe em razão de doses altamente exageradas de histrionismo cênico, seja pelos figurinos espalhafatosos, cenários extravagantes ou criaturas mágicas vistosas, seja pelo uso completamente desmedido de CGI cartunesco, seja pela desconcertante presença de atores do naipe de Laurence Fishburne, Michelle Yeoh, Charlize Theron, Kerry Washington e Cate Blanchett (esta só na inconfundível voz), tudo com a evidente intenção de esconder sua mais completa falta de substância com fogos de artifício e uma velocidade narrativa trôpega que chama atenção para sua duração injustificável.

A história é um fiapo narrativo que, porém, é todo enrolado, com o roteiro co-escrito por David Magee e Paul Feig sendo muito infeliz em destrinchá-lo, o que resulta em uma paupérrima construção de universo e um desenvolvimento de personagens completamente inexistente. E nem falo dos grandes nomes que citei acima, pois esses vivem papeis quase que completamente irrelevantes, mas sim da dupla protagonista principal, Sophia Anne Caruso e Sofia Wylie que vivem, respectivamente, Sophie e Agatha, duas melhores amigas desde criança no vilarejo de Gavaldon que, por uma série de conveniências de roteiro que nem vou de dar ao trabalho de explicar, acabam na mítica escola do título, a primeira na “do Mal” apesar de sempre ter querido ser uma “princesa”, e a segunda na “do Bem”, apesar de ter claridade de pensamento para saber que essa divisão é completamente maniqueísta e irreal. O que segue, daí, é uma sucessão de eventos manipulados pelo grande e fantasmagórico vilão que é Rafal (Kit Young), algo como o Mal encarnado.

O problema é que essa sucessão de eventos faz pouco sentido lógico mesmo dentro da narrativa mágica proposta em que basicamente tudo pode valer se tiver sentido dentro da história. A necessidade do roteiro de criar reviravoltas a cada 10 minutos e de apresentar novos personagens, artificial e bobamente conectando-os com outros mais famosos saídos diretamente de contos de fadas e lendas, além de uma leva de desafios para as duas inseparáveis – mas separadas – amigas enfrentarem, destrói toda a coesão narrativa e faz do longa não mais do que uma colcha de retalhos muito mal costurada que insiste em fazer de todos os personagens meros arquétipos imutáveis que dependem de toda a confusão visual ao redor para ganharem aquela rasa impressão de que eles têm algo a dizer.

Feig, como diretor, nunca realmente mostrou a que veio e, aqui, lidando com um longa que depende quase que exclusivamente de “ajudas visuais” como muletas narrativas, ele não sabe o que faz e atira para todos os lados. Motivações são defenestradas e substituídas por reações histéricas das duas principais e jovens atrizes (eu tinha esperanças de que Sofia Wylie, de longe a melhor coisa de HSMTMTS, teria esse filme como veículo para seu estrelato, mas tenho receio de que o efeito seja justamente o contrário…), lições de moral, mesmo as mais básicas e óbvias, são expostas como se fossem discussões filosóficas densas, o elenco adulto é completamente desperdiçado em meio a penteados e figurinos alucinados e diálogos repletos de chavões bobalhões e todo o “espetáculo visual” – as aspas são importantes! – é manuseado sem nenhum resquício de elegância.

A Escola do Bem e do Mal desperdiça tudo o que em tese poderia ter de bom, de premissa a elenco, de efeitos especiais a direção de arte. Nem mesmo as inserções musicais, o que inclui canções de Billie Eilish e Olivia Rodrigo, funcionam direito, por serem apenas mais demonstrações de como Paul Feig marretou tudo de qualquer jeito em seu longa. Para um filme que lida tanto com opostos tão radicalmente diferentes, ele não passa de uma amálgama sem graça e sem inspiração de tudo que de pior já vimos antes.

A Escola do Bem e do Mal (The School for Good and Evil – EUA, 19 de outubro de 2022)
Direção: Paul Feig
Roteiro: David Magee, Paul Feig (baseado em romance de Soman Chainani)
Elenco: Sophia Anne Caruso, Ella Hehir, Sofia Wylie, Mahli Perry, Laurence Fishburne, Michelle Yeoh, Jamie Flatters, Kit Young, Peter Serafinowicz, Rob Delaney, Mark Heap, Patti LuPone, Rachel Bloom, Cate Blanchett, Kerry Washington, Charlize Theron, Abigail Stones
Duração: 147 min.

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