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Crítica | A Dama de Ferro

por Luiz Santiago
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A Dama de Ferro foi mal recebido no Reino Unido, principalmente pela escolha de uma atriz americana no papel principal e a crítica como um todo não se entusiasmou muito com o projeto, talvez porque tenha concebido o filme como uma obra política mal intencionada. Todavia, A Dama de Ferro é um amálgama estranho entre o biográfico e o político, primando mais pelo primeiro ponto e tentando, sem nenhum sucesso, amenizar a carga negativa que acompanha o segundo. Se a Thatcher de A Dama de Ferro foi concebida como uma senhora louca, frágil e perturbada pelas suas memórias, sua trajetória política dissipa qualquer piedade que o espectador possa nutrir sobre ela.

O roteiro de Abi Morgan (roteirista de sólida carreira na televisão) não se sustenta bem ao tentar fazer um filme menos político e mais biográfico, sem conseguir aplacar o tipo de estadista que realmente foi a biografada. Por outro lado, essa incapacidade pode ser vista como uma benção pelos espectadores mais politizados, uma vez que fagulhas da verdadeira Dama de Ferro chispam na tela através de manifestações reprimidas durante os seus 11 anos de governo (1979 – 1990), discursos inflamados, postura política irredutível, desprezo à população pobre, operários e grevistas… Se a intenção era defender, diminuir a culpa, apagar ou “adocicar” a estruturação do neoliberalismo thatcherista, tudo não passou de intenção, porque o filme “mostra algo a mais do que deveria”.

Para um bom observador, não há como não rir do insucesso do roteiro em retratar uma “Thatcher boa” e não há como não aplaudir de pé a estupenda interpretação de Meryl Streep, numa das melhores composições psicológicas e físicas – ajudada pela maravilhosa equipe de maquiagem – de uma personagem histórica. O sotaque, a alteração no tom de voz, os maneirismos e crescente degradação física e doentia da Dama de Ferro são transmitidos com tanta veracidade e força pela Dama do Oscar, que é perfeitamente compreensível o favoritismo da atriz na premiação, seja pela Academia, seja pelo público.

No campo da representação biográfica o filme tem melhor figura, e a história é mais crível, mais fácil de entreter o público. O problema é que o roteiro caminha alternando o passado e o presente da Dama de Ferro, o que torna o produto cansativo em seu resultado final. No caminho oposto, a produção técnica é muito competente, e demonstra através de uma fotografia verde bolorenta o presente da estadista, em contraste com a saturada fotografia dos flashbacks, incluindo a preferência do azul para os figurinos. O filme não chega a ser óbvio demais em seus intentos dramáticos – não tanto quanto O Discurso do Rei – embora seja, na soma de todas as partes, muitíssimo inferior.

A Dama de Ferro é uma quase cinebiografia que agrada. É um filme de teor político que não se define muito bem, quase um tiro no pé. Um confuso retrato de uma época muito clara para todos nós. Nenhuma produção artística é fruto avulso de seu tempo histórico e A Dama de Ferro é um grito cultural por atenção política, por discussão sobre temas velhos sob ângulos novos. Um filme, nesse sentido, bastante interessante e, por que não, necessário.

A Dama de Ferro (The Iron Lady) — Reino Unido, França, 2011
Direção: Phyllida Lloyd
Roteiro: Abi Morgan
Elenco: Meryl Streep, Jim Broadbent, Susan Brown, Alice da Cunha, Phoebe Waller-Bridge, Iain Glen, Alexandra Roach, Victoria Bewick, Emma Dewhurst, Olivia Colman, Harry Lloyd, Sylvestra Le Touzel, Michael Culkin, Stephanie Jacob, Robert Portal
Duração: 105 min.

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